Aumento da temperatura deve influenciar insetos e afetar cadeia alimentar em rios da Amazônia, aponta estudo

Data da notícia: 16/10/2017
Fonte/Veículo: Portal do Amazonas
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Foto: Divulgação Agência Fapeam

Em fevereiro de 2016, resultados preliminares do estudo desenvolvido pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Renato Tavares Martins, indicavam que as mudanças climáticas poderiam alterar as cadeias alimentares aquáticas na Amazônia.

O estudo foi concluído neste ano e comprovou que o aumento da temperatura deve influenciar negativamente insetos fragmentadores e, consequentemente, resultar na diminuição da produção de matéria orgânica, que é alimento para determinados organismos, como outros insetos e peixes. Os fragmentadores são animais que se alimentam de folhas, gravetos ou troncos e, assim, cortam esses materiais em pedaços bem pequenos. Tais pedaços podem ser usados como alimento por outros animais que não conseguem se alimentar diretamente das folhas.

Intitulado “Efeitos das mudanças climáticas sobre os micro-organismos e a fragmentação foliar por Phylloicus sp. (Trichoptera: Calamoceratidae): estudos em microcosmos”, o estudo teve início em 2013 e contou com o apoio do Governo do Estado via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) por meio do programa Fixam – que tem como proposta contribuir com a fixação de pesquisadores na região.

Segundo o pesquisador, com relação aos insetos fragmentadores, os resultados foram influenciados pelo tempo de duração do experimento. No primeiro experimento, que durou 21 dias, foi percebido o aumento da mortalidade e menor consumo pelos insetos. Porém, em experimentos mais curtos, de até 7 dias, o grupo de pesquisa observou que um efeito positivo da temperatura sobre o consumo de folhas e não foi detectado aumento de mortes.

“É possível que em um primeiro momento a temperatura possa estimular os insetos, no entanto, com o passar do tempo, devido ao aumento do estresse dos indivíduos com a temperatura mais elevada passe a influenciar negativamente estes organismos. Nos diversos experimentos foi possível observar o aumento da importância de fungos e bactérias na decomposição foliar. Essa maior importância dos micro-organismos que poderá resultar em diminuição da produção de matéria orgânica particulada fina e consequentemente diminuirá a quantidade dos alimentos disponíveis aos organismos que não conseguem consumir diretamente as folhas que entram nos igarapés.”, disse.

Conforme Renato, os principais resultados deste projeto estão relacionados com o entendimento do efeito do aumento da temperatura e dióxido de carbono (CO²) sobre os insetos fragmentadores, os micro-organismos e o processo de decomposição. Ele reforça que o estudo também poderá ser usado para auxiliar na tomada de decisões futuras.

“Através do aumento do conhecimento dos efeitos das mudanças climáticas sobre os organismos é possível melhorar o planejamento para o gerenciamento futuro dos ambientes aquáticos da Amazônia, diminuindo seus efeitos para a população. Além disso, foi possível contribuir com a qualificação dos profissionais para o estudo das mudanças climáticas”, contou Tavares.

O pesquisador também relatou que o principal desafio enfrentado durante o estudo foi relacionado à obtenção dos invertebrados e das folhas para a realização dos experimentos. Outro desafio vencido pelos pesquisadores foi o entendimento do microcosmo. “Um sistema dinâmico, diferente das câmaras de temperatura e CO², que normalmente são utilizadas nos estudos experimentais”, explicou Renato.

O estudo contou com o apoio de bolsistas de apoio técnico, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e professores da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e da Universidade de Coimbra. Ao todo, 14 pessoas contribuíram com o andamento da pesquisa, coordenada pelo doutor em Entomologia e biólogo Renato Tavares.