Mais palhaços, por favor

Data da notícia: 10 de janeiro de 2018

Veículo/Fonte: Diário da Manhã

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“O palhaço entra em cena, convida o pú­blico para jogar, ele transforma o público e sai trans­formado”. A frase da mestre ca­nadense Sue Morrison foi cita­da pela palhaça Maria Angélica Gomes, em entrevista rápida ao DMRevista. Pois, é neste espíri­to que, juntamente com o grupo carioca Teatro de Anônimo, que ajudou a fundar, que ela chega a Goiânia: completamente aber­ta para fazer trocas com público, para a encenação do espetáculo “Roda Saia Gira Vida”, que acon­tecerá hoje, às 20 horas, no Centro Cultural UFG (CCUFG).

A montagem, que faz parte do repertório do Teatro de Anônimo há mais de 30 anos, será uma das atrações responsáveis por abrir a 5ª edição do Palhaçada. O festival começa hoje e segue até o próxi­mo domingo (14), revezando sua programação entre o CCUFG, e a escola Dom Fernando, uma anti­ga parceira do festival.

Logo, no festival, o público, vai ter a oportunidade de pre­senciar um espetáculo que já foi muito assistido em todo Brasil e até no mundo. E que tem a van­tagem de unir dois ingredientes universais: o palhaço e a comé­dia física. Pois, a peça não tem texto ou uma trama convencio­nal, as falas se resumem a ono­matopeias e são substituídas por jogos e coreografias cênicas. “A gente dialoga com o corpo e isso é universal. Funciona em todos lugares que a gente foi. A comu­nicação corporal tem essa possi­bilidade mais ampla, na relação”, acrescenta Maria Angélica.

A montagem argentina “AlfonsinA”, do grupo Espuma Bruma, é atração internacional da programação

Clássicos da música popu­lar brasileira como Pixingui­nha, Inezita Barroso, Sinhô e Villa Lobos embalam o ritmo da peça, que é toda inspirada em clássicos números circen­ses. Aparecem referências aos domadores de animais, atirado­res de facas, malabaristas e tra­pezistas, por exemplo.

Estreado em 1986, “Roda Saia Gira Viva”, foi o primeiro espetá­culo do Teatro de Anônimo. Com direção Julio Adrião e interpreta­ção de João Carlos Artigos, Ma­ria Angélica Gomes, Fábio Freitas, Regina Oliveira e Shirley Britto, os atores ainda estavam se forman­do enquanto artistas e montan­do o grupo na estreia. No entanto, a montagem nunca saiu do reper­tório da companhia.

Por outro lado, é fato que so­freu adaptações, pois como diz a Maria Angélica se trata de um es­petáculo vivo, por ter sido criado pela companhia e, que sempre se adaptou aos novos conceitos e necessidades dos artistas. Uma das primeiras modificações da montagem ao longo dos anos foi no nível de dificuldade dos mo­vimentos. Pois, apesar de brin­car de fazer de forma desengon­çada números como trapézio, no começo o grupo buscava o virtuosismo nos movimentos, o que de certa forma atrapalhava o contato com o público.

“Fomos aos poucos abrin­do mão do virtuosismo e dando espaço à comicidade, a relação aberta com o público. Pois, uma coisa era incompatível com a ou­tra, porque na hora de um salto mortal tinha que dar aquela con­centrada e perder essa relação e, isso fez toda diferença no espetá­culo”, explica a palhaça.

O contato com o público e a poesia do espetáculo, de acordo com a artista, foi ampliado pelo grupo, após se atentarem para o fato de que as relações humanas estão cada dia mais virtuais. E, a interação englobou outra carac­terística ao espetáculo, para An­gélica essencial, e tocada pela artista no começa da matéria: a troca com a plateia.

“A nossa comunicação é ali, embora a gente tenha uma par­titura construída do espetáculo, a gente também quebra um pou­co o roteiro para aquilo que está acontecendo no momento. Por­que o jogo do palhaço é isso, você tem algo programado, mas tam­bém deixa acontecer de acordo com o espaço e com o público que você está relacionando. A gente acredita que o mundo precisa de mais afeto”, argumenta.

Aliás, a busca em realizar uma parceria cidadã com a socieda­de civil, sempre foi uma meta da companhia criada em 1986 e, tem sido perseguida em seus ou­tros sete espetáculos de reper­tório do Teatro de Anônimo. E a formação de novos artistas e tro­ca de ideias é também uma preo­cupação, que pode ser notada no festival internacional de palha­ços Anjos do Picadeiro, que cria­ram. Com edições realizadas em locais diferentes, o evento tem como foco a reciclagem, inter­câmbio e qualificação profissio­nal dos artistas circenses.

Este incentivo a arte dos pa­lhaços, para Maria Angélica é de grande importância, já que este personagem, existente em quase todas as culturas, tem uma gran­de missão na sociedade.

“Ser palhaço é o espelho da humanidade. Ele traz leveza e frescor aos nossos erros e ridícu­los, já que a vida nos cobra tanto. Mas vem também para traba­lhar e mexer com as nossas emo­ções, pois, claro, também pode trazer tensão numa cena. Mas logo depois ele desconstrói isso e mostra que tudo é uma brin­cadeira. Então, acho que quan­do o público olha um palhaço se reconhece nele e ri de si mesmo. Trazemos leveza à uma realida­de muitas vezes intolerante”, ar­gumenta Maria Angélica.

Turma do Biribinha abre o festival hoje,às 15 horas

MAIS ATRAÇÕES

É bom lembrar que o Palha­çada trará até domingo mais 10 atrações nacionais e internacio­nais. Na programação tem gru­pos de Goiás, Alagoas, Rio de Ja­neiro, Pará, Minas Gerais. Hoje, antes da apresentação do Teatro Anônimo, o primeiro espetáculo do evento acontece, às 15 horas, na Escola de Circo Dom Fernan­do com a Turma do Biribinha, que encena a montagem “Magia”.

O palhaço Biribinha, que já contabiliza seis décadas de car­reira, é aliás, um dos destaques da programação desta edição. Ele e sua turma serão ainda os respon­sáveis pelo encerramento do fes­tival, com o espetáculo “O Reen­contro dos Palhaços na Rua é a Alegria do Sol com a Lua”.

A participação internacional deste ano fica por conta do espe­táculo argentino “AlfonsinA”, do grupo Espuma Bruma, que usa a corda bamba e a literatura das bri­lhantes Alfonsina Storni, poetisa argentina e Virginia Woolf, escri­tora inglesa, para atirar-se ao deli­cado equilíbrio que é viver.

Nas atrações – muitas gratui­tas e outras com preços acessí­veis – o festival se mostrou pre­ocupado ainda trazer opções que agradam “crianças” de to­das as idades. “Uma caracterís­tica desta edição é que todos os espetáculos possuem classifi­cação livre. Assim, o festival é uma opção diferenciada e sau­dável de diversão para toda fa­mília”, disse um dos organi­zadores do Palhaçada, Murilo Garcez, que produz o evento ao lado de Denise Carrijo.

EDIÇÃO COMEMORATIVA

Outro ponto marcante desta edição do Palhaçada é que ele ce­lebra 10 anos de existência, com muito o que comemorar. “Con­seguimos trazer os maiores gru­pos de palhaçaria do Brasil para Goiânia, promovemos oficinas que ajudaram os artistas locais na pesquisa do palhaço e incentiva­ram a criação de novos espetácu­los”, avalia Murilo Garcez.

Relembrando a trajetória do Palhaçada, o idealizador do fes­tival ressalta que um grande mo­mento do festival foi a partici­pação da família Colombaione, diretamente da Itália. “Essa fa­mília remonta sete gerações cir­censes e são uma das maiores in­fluências para os grupos, trupes e companhias brasileiras”, explica.

Programação

HOJE

15h – Escola de Circo Dom Fer­nando | Turma do Biribinha – Es­petáculo: Magia (gratuito)

20h – Centro Cultural UFG | Te­atro de Anônimo – Espetáculo: Roda Saia Gira Vida

AMANHÃ

9h- Circo Lahetô | Aula-Espetáculo com o palhaço Biribinha (gratuito)

15h – Escola de Circo Dom Fer­nando | Janaina Morse – Espetá­culo: Brisa’s Beach (gratuito)

20h – Centro Cultural UFG | Espu­maBruma- Espetáculo: Alfonsina

SÁBADO (13)

15h – Escola de Circo Dom Fer­nando | Família Santos Santia­go – Espetáculo: O Domador de Animais (gratuito)

17h – Centro Cultural UFG | Tur­ma do Birinha – Espetáculo: O Circo do Palhaço Mixuruca

20h- Centro Cultural UFG | Las Ca­baças – Espetáculo: O Dia da Caça

DOMINGO (14)

11h – Feira do Cerrado | Saracura do Brejo – Espetáculo: Bambolêro

15h – Escola de Circo Dom Fer­nando | Las Cabaças – Espetácu­lo: Semi Breve (gratuito)

17h – Centro Cultural UFG | As Marias da Graça – Espetáculo: Tem Areia no Maiô

20h – Centro Cultural UFG | Tur­ma do Biribinha – Espetáculo: O Reencontro dos Palhaços na Rua é a Alegria do Sol com a Lua

O quê: Festival Palhaçada 2018

Quando: 11 a 14 de janeiro

Quanto: R$ 20 inteira R$ 10 meia – Crianças até 12 anos pagam meia e adultos acompanhantes também

Onde: Centro Cultural da UFG e Escola de Circo Dom Fernando