Cerrado só tem 20% da área original

Data da notícia: 22 de janeiro de 2018 

Veículo/Fonte: O Hoje 

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Com o desenvolvimento de sistemas mecânicos de irrigação, a introdução do arado muitas áreas antes impróprias para o cultivo foram valorizadas

Gabriel Araújo*

O Cerrado é um bioma em extinção. Segundo o Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza somente cerca de 20% da vegetação original está relativamente intacta. O bioma ocupa cerca de 30% da área nacional e 5% da flora mundial. O principal problema é o desmatamento para a implantação de novas culturas como soja, algodão e cana-de-açúcar, além da pecuária extensiva que se deu, com maior intensidade a partir da expansão da fronteira agrícola.

No início dos anos de 1970, com o desenvolvimento de sistemas mecânicos de irrigação, a introdução do arado e a utilização do calcário para a diminuição da acidez do solo, muitas áreas antes impróprias para o cultivo foram valorizadas e a partir de então o empreendimento agroindustrial ganhou força, diminuindo assim grande parte da vegetação nativa do cerrado.

Segundo o professor e pesquisador Altair Sales, o Cerrado é extremamente complexa e fundamental para a alimentação dos grandes aquíferos. “Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos”, completa o professor.

O pesquisador ainda afirma que as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul. Portanto, rios como o São Francisco, Paraná e até afluentes que chegam ao Amazonas sofrem com a diminuição das águas dos aquíferos. Segundo Sales, as águas dos aquíferos da região já estão em seu nível mínimo, com um fluxo de abastecimento menor que o registrado na década de 1980.

O maior problema é a recuperação da vegetação que pelas características do bioma diz Sales. “O Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas da história recente do Planeta Terra, isto significa que este ambiente já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade”, conclui.

Portanto, quando houve a substituição das plantas nativas por novas culturas o Cerrado foi perdendo a capacidade de absorção de água.

Altair Salesainda diz, “a derrubada em larga escala da vegetação nativa, tem demonstrado que os gases cósmicos provenientes do Sol se concentram na atmosfera baixa da terra, aumentando o efeito estufa e o aquecimento global, cujas consequências, como inversão climática, são protótipos do agronegócio predatório”, finaliza. 

 

A influência humana é o principal causador das alterações 

O Fundo Mundial para a Vida Selvagem e Natureza (WWF, sigla em inglês) define o aquecimento global como o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra. Tal fato se deve a elevação das emissões de gases do efeito estufa, que retém o calor emitido pelo sol, elevando assim temperatura média do planeta.

Para o professor e diretor do Laboratório de Biogeografia da Conservação da UFG, (CB-Lab) Rafael Dias Loyola, as mudanças climáticas vêm ocorrendo desde o início dos tempos, elas ocorrem em ciclos e tem causas que podem ser planetárias ou alterações internas. Porém, segundo ele, o que se discute hoje não é o problema da mudança climática, mas o quão rápido essas mudanças estão acontecendo.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) afirma que a causa mais provável para as mudanças no clima atual é a influência humana sobre o ambiente. Já que as emissões de gases de efeito estufa pelo homem têm aumentado desde a era pré-industrial, impulsionada principalmente pelo crescimento econômico e populacional.

De acordo com o gráfico do relatório publicado anualmente peal ONU, as quantidades de gases de efeito estufa cresceram a níveis sem precedentes a partir do ano de 1950. Dois gases são os principais causadores, o metano e o gás carbônico, que são emitidos por ações humanas, como explica o professor Rafael Loyola. “O gás carbônico vem da queima de combustíveis fósseis da indústria, dos automóveis, do uso do carvão e das queimadas. O metano vem da indústria, mas fundamentalmente, da digestão do gado”, completa.

Ainda segundo o IPCC, os animais são os mais afetados por essas mudanças, atualmente temos um número maior de espécies em perigo de extinção em razão às mudanças em seus habitats, como o aumento da acidez dos oceanos ou a destruição de florestas nativas.

No entanto, não é somente os animais que sofrem as consequências, o professor Loyola ainda afirma que as principaisconsequências das mudanças climáticas são as alterações dos extremos, chove em poucos dias o que era esperado para o mês inteiro, há picos de calor e secas prolongadas. Isso tem consequências para a sociedade e significam inundações em cidades, deslizamentos de terra por acúmulo de água, perda agrícolas por falta ou excesso de chuva, surgimentos de doenças como dengue e febre amarela.

De acordo com informações do quinto relatório do IPCC, a previsão máxima de aumento na temperatura média do planeta é de 2,6 °C a 4,8 °C ao longo deste século, fazendo com que o nível dos oceanos aumente entre 45 e 82 centímetros, o que leva à erosão das áreas costeiras de todo o planeta, que já sofreu com o aumento de 20 centímetros registrado de 1900 a 2012.

E não para por aí, o relatório ainda traz dados de uma projeção em que a temperatura da terra chegaria, em alguns pontos, há 39º centígrados em uma média anual, se nenhuma ação for tomada.Tal fato comprometeria as plantaçõese os recursos hídricos, o que afetaria radicalmente nosso modo de vida. 

Loyola ainda avisa. “Vale lembrar que um aquecimento médio de 2ºC pode ser catastrófico. Na última glaciação o planeta tinha uma temperatura 4ºC abaixo da média global. Ou seja, com 4ºC abaixo da média histórica do planeta, ele congelou. O que pode acontecer se ele aquecer 4ºC? ”. 

 

Baixa quantidade de oxigênio causa zonas mortas nos oceanos  

Segundo dados de pesquisa do Global OceanOxygen Network, um grupo de trabalho criado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, a extensão de zonas com baixa quantidade de oxigênio nos oceanos aumentou mais do que quatro vezes nos últimos 50 anos. O estudo ainda explica que o aumento das temperaturas nas superfícies dos oceanos e a utilização de agrotóxicos em localidades próximas dos mares podem causar uma diminuição na população de peixes.

Para o estudo, a mudança climática é a principal culpada. Devido ao aumento gradual na temperatura na superfície dos oceanos, o oxigênio tem mais dificuldades de alcançar profundidades maiores, o queresulta no crescimento de algas que ao morrerem consomem a maior parte desse gás restante na água. Temperatura também é responsável pelo crescimento no consumo por parte de peixes. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)