Pesquisa analisa caminhada dos romeiros de Trindade

Dissertação mostra como funciona a relação entre fé, sacrifício, mídia e o capitalismo

A pesquisa “Aspectos Semiformativos do Romeiro: Linha Tênue entre o Capital e a Fé” da Universidade Federal de Goiás propõe um novo olhar sobre a caminhada que milhões de devotos do Pai Eterno e simpatizantes realizam entre Goiânia e Trindade no mês de junho. A pesquisa da Faculdade de Educação é uma dissertação de mestrado que trata sobre o que motiva as pessoas a andarem grandes distâncias, e se esse motivo, antes puramente religioso, agora está lentamente tornando-se também midiático, e como isso interfere no evento reconhecido nacionalmente.

A pesquisadora Daiana Rodrigues explica que para a coleta de dados dos romeiros, foi preciso entrevistar 182 pessoas, pessoalmente e virtualmente. “A dissertação foi desenvolvida no período de dois anos durante o curso do mestrado, no qual nós adotamos como forma de pesquisa um questionário aplicado na própria Rodovia dos Romeiro [40 pessoas], a realização da observação participante e a aplicação de questionário pelo formulário Google Forms [142]”, detalha.

Para Daiana, hoje fazem parte da romaria não só religiosos católicos, mas também interessados em eventos saudáveis, de exercícios e grupo que veem na caminhada uma forma de interação. “A pesquisa nos apresentou algumas motivações, que se manifestaram para além da aparente fé”, aponta. “Entre elas identificamos grupos que a realizavam como um teste para capacidades físicas, grupos de jovens que realizaram a caminhada como um ritual da vivência da festa, e pessoas que apontaram ainda como motivação a influência do Estado ou da mídia”. Além do chamado das igrejas, hoje os veículos de comunicação também são maneiras importantes de atrair novos públicos, não necessariamente atrelados à religião.

Fé e capital

Além dessa percepção, a dissertação também traz uma conexão entre capitalismo e os eventos religiosos, que com o passar do tempo e com a contribuição da mídia divulgando, foram tornando-se um espaço para a geração de lucro. “A relação que conseguimos estabelecer entre a romaria e o capitalismo se dá a partir da entrada do catolicismo institucionalizado na mediação dessa festa que era popular”, confirma Daiana. “Partindo desse evento, Trindade passa a crescer juntamente com a igreja, a festa vem perdendo seu caráter religioso em detrimento da mídia e da intervenção do Estado, e a festa se caracteriza como mercadoria e promotora de vivências, enquanto se perde como um espaço de experiência religiosa”.

O sacrifício é um elemento presente em várias doutrinas religiosas, seja nos rituais ou nas escrituras. É uma forma de comprovar o valor de estar inserido na comunidade religiosa e de superação. Conforme Daiana, o sacrifício corporal é uma atividade que é comum em religiões de base cristãs. “Quando indagamos aos romeiros se eles consideram a caminhada um sacrifício, a maioria [63%] respondeu que não”, comenta a pesquisadora. Para sustentar a opinião de que a jornada não chega a ser um martírio, alguns entrevistados argumentaram que “a caminhada era uma ação irrelevante perto do que Cristo sofreu por nós”. Para o futuro, Daiana pretende continuar com os estudos sobre a Romaria de Trindade. “Sinto que o tema não foi esgotado. Descartamos os demais devotos que realizam a caminhada contemplando maiores distâncias, ou ainda os que realizam o trajeto com carro-de-boi. Acredito que esse é um campo fértil”.


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Fonte: Secom UFG

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