Pesquisa constata a necessidade de melhorar a relação dos pontos de ônibus com a cidade de Goiânia

Etnografia realizada em principais eixos do transporte coletivo revela abrigos pouco eficientes e mal conservados

Cobertura pouco eficiente contra o sol e a chuva, calçamento irregular e falta de iluminação e sinalização adequadas. Essas características, bem conhecidas por quem utiliza o transporte coletivo em Goiânia, são apenas algumas das constatações de uma pesquisa que analisa a situação dos pontos de ônibus da capital. A pesquisa foi realizada pelo desenhista industrial Rodrigo Balestra Ferreira de Paiva no mestrado em Projeto e Cidade da Universidade Federal de Goiás (UFG).  

Munido de câmera fotográfica e caderno de anotações, Rodrigo percorreu regiões de Goiânia que possuem eixos estruturantes do transporte coletivo, como os Setores Universitário, Bueno e Central, além do Jardim Guanabara, na região Norte. Utilizando-se da etnografia – uma metodologia em que o pesquisador se insere no contexto pesquisado para observar e compreender determinada realidade –, ele foi capaz de constatar as limitações e deficiências dos abrigos, tecnicamente chamados de Pontos de Embarque e Desembarque (PEDs).

Problemas

Em termos técnicos, os pontos de ônibus são pouco acessíveis e faltam espaço para cadeirantes e assentos em número e dimensão razoável para a maioria dos usuários. A manutenção desses abrigos também se mostrou deficiente, com estruturas pouco atraentes, escuras, sujas, com mau odor e perigosas, com pontos de ferrugem e ausência de informações básicas.

“Percebe-se que o acesso ao PED ainda é precário em praticamente todas as regiões da cidade, com calçadas pouco convidativas, sem rampas de acesso, construídas com material inadequado, sem sinalização, além de estruturas empenadas e localizadas em espaços pequenos que dificultam a passagem de cadeirantes, idosos ou crianças em carrinhos de bebê”, destaca Rodrigo. Outro aspecto negativo é o excesso de cartazes e pichações em alguns pontos.

Pontos e público

A pesquisa aponta, com base em dados da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC) de 2017, que em Goiânia existem 3.528 PEDs ativos, sendo que 2.037 possuem cobertura, ou seja, 57,74% do total implantado na cidade. Somados aos pontos PEDs ativos nas outras cidades que compõem a Região Metropolitana de Goiânia (RMG), tem-se um total de 3.192 pontos com cobertura e outros 3.142 pontos que não oferecem qualquer proteção aos usuários. Contudo, deve-se contabilizar ainda outros 200 PEDs foram inativados por conta de mudanças nos itinerários ou a criação de novos atendimentos.

O levantamento também revela que o público-alvo dos PEDs é dividido em dois grupos principais. O de usuários não regulares que usam o sistema de ônibus até dois dias por semana e são estimados em 45% do total – trabalhadores autônomos, usuários de serviços públicos, em especial serviços de saúde pública, estudantes de cursos eventuais, usuários de passagem pela cidade ou turistas, dentre outros. Os outros 55% são usuários regulares que utilizam o sistema de ônibus mais de dois dias por semana.

Experiência do usuário

A pesquisa revela ainda que a falta de manutenção dos pontos de ônibus interfere na relação das pessoas com a cidade. Rodrigo explica que um PED perde sua função quando deixa de oferecer aos usuários a orientação quanto ao seu destino, informações sobre linhas e itinerários ou que possam protegê-los contra as intempéries com relativo conforto.

“Sob a ótica da experiência do usuário, a sensação de abandono e insegurança pode se concretizar quando essa interação se torna frágil, pois cria uma noção de que o sistema de transporte público disponível poderia ser mais eficiente, organizado e capaz de compreender as verdadeiras necessidades dos passageiros”, pontua o pesquisador.

Design e identidade

O pesquisador acrescenta que o mobiliário urbano compõe uma das várias identidades de uma cidade, por isso a importância do design dessas estruturas. “O sistema de informação em tempo real da RMTC, por exemplo, funciona muito bem e ajuda bastante os passageiros, além de tocar no ponto central da pesquisa: a relação do design dos PEDs e sua implantação no espaço urbano como vetor de valorização da cidade, da autoestima dos habitantes e do cuidado com o mobiliário urbano”, explica.

Nesse sentido, as cores, os materiais, as formas e as soluções diferenciam essas estruturas e podem torná-las identitárias, ou seja, reconhecidas tanto pela população da cidade quanto por visitantes ou usuários esporádicos. Rodrigo acrescenta que o fato de se tornarem úteis e admirados facilita o intercâmbio com outros segmentos de mercado, com a publicidade e o marketing, gerando retorno financeiro para a cidade e tornando a rotina dos usuários menos dura e fatigante.

Texto: Luiz Felipe Fernandes (Projeto Visibilidade)

Fonte: Secom UFG

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