Estudante surdo assimila melhor conteúdo de ciências com atividades sensoriais

Estudo da Universidade Federal de  Goiás revela que a configuração de sala de aula com presença de intérpretes contribui para facilitar aprendizagem

Uma pesquisa do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ/UFG) demonstra que é possível melhorar o ensino de Química para surdos, com uma configuração de sala, na qual estejam presentes um professor e intérprete, com os conhecimentos específicos, necessários à aplicação dos conteúdos. As atividades foram desenvolvidas no Centro Especial Elysio Campos (CEEC), escola conveniada pela Associação de Surdos de Goiânia (ASG),  mantida pela Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce/GO), e contaram com a participação de estudantes surdos e fluentes em Língua Brasileira de Sinais (Libras).

“Nos lançamos ao desafio de planejar e desenvolver Intervenções Pedagógicas (IP’s) com materiais adaptados, privilegiando o referencial da visão, com finalidade de ensinar conceitos da Química”, destaca a pesquisadora Nislaine Caetano Silva Mendonça, que se interessou pelo assunto após perceber dificuldades na educação com esse público. A autora afirma que, com as propostas pedagógicas, os estudantes demonstraram assimilação dos conteúdos ministrados, manifestando o aprendizado por meio do discurso escrito. “As IP’s representaram uma alternativa no ensino para surdos - ao privilegiar a abordagem visual, olfativa e tátil, utilizando recursos como slides”.

Pesquisa

A experiência foi desempenhada com nove estudantes, todos cursando o 9° ano do Ensino Fundamental e fluentes em Língua Brasileira de Sinais (Libras). “A escola é inclusiva e bilíngue, mas atende, prioritariamente, alunos da comunidade surda”, ressaltou. Entre os alunos, a faixa etária varia dos 15 aos 27 anos, distante da média recomendada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 14 anos. Para a pesquisadora, esse fenômeno ocorre devido a fatores como a dificuldade em se acompanhar o ensino, além da falta de preparo dos educadores para lidar com as diferenças - tanto que foi percebida uma dificuldade dos alunos para se expressarem na Língua Portuguesa escrita.

Nislaine conta que a investigação se debruçou sobre a construção e dinamização dos conceitos como “matéria”, “material”, “substância” e “mistura”. Os sentidos complementares à audição foram abordados para facilitar a compreensão sobre os conceitos apresentados. “É um desafio lidar com algo novo, mas foi gratificante ver o discurso favorável desses alunos em relação ao entendimento das atividades e dos conteúdos”, comemora. Sendo assim, Nislaine Mendonça destaca que “pensar o processo de ensino e aprendizagem de jovens surdos demanda, para o educador e para a comunidade escolar, conhecer as especificidades e respeitar as diferenças dos educandos”.

Educação

O interesse pelo assunto surgiu enquanto Nislaine atuava como professora, e percebeu que o ensino ministrado não contemplava alunos surdos. A primeira graduação, de Licenciatura em Biologia, foi concluída em uma instituição privada, em 2008. “Na minha primeira formação, não tive nenhum preparo para trabalhar com surdos”, lembra. Contudo, ao estudar Licenciatura em Química, por uma instituição pública, a então graduanda teve acesso a uma disciplina específica em Libras. “Desse modo, busquei saber mais sobre a cultura surda e sobre como se realiza a mediação pedagógica com alunos que apresentam deficiência auditiva”.

A Lei 10.436/2002, regulamentada pelo Decreto 5.626/2005, inclui o ensino da Língua de Sinais no currículo obrigatório dos cursos para formação de educadores. “A legislação proporcionou maior acesso ao conhecimento sobre a cultura surda, e sobre os gestos e sinais da língua - entretanto, ainda falta planejamento e condições materiais que contemplem as especificidades desses alunos”, ressalta. A pesquisadora conta que, no ensino da Química, as dificuldades na implementação da Libras ao dia-a-dia dos educadores ainda enfrenta outro desafio: “a falta de conhecimento sobre os sinais ou gestos para termos específicos, visto que, muitas vezes, o intérprete não tem a formação na área”.

Sobre a tese

Tese: Estudos sobre a configuração da sala de aula no ensino de ciências para surdos

Pesquisadora: Nislaine Caetano Silva Mendonça

Orientadora: Anna M. Canavarro Benite

Tema: ensino de ciências, educação de surdos

Instituto de Química (IQ/UFG)

 

Texto: Gustavo Motta (Projeto Visibilidade)

Fonte: Secom UFG

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