A Química Medicinal demonstra seu poder de geração de riqueza

Data da notícia: 16/12/2016

Veículo/Fonte: Site da Sociedade Brasileira de Química 

Link direto da notícia: http://www.sbq.org.br/noticia/qu%C3%ADmica-medicinal-demonstra-seu-poder-de-gera%C3%A7%C3%A3o-de-riqueza

Com a presença de Simon Campbell, químico cujas invenções renderam mais de US$ 50 bilhões em vendas, SBQ realizou o 8º Simpósio Brasileiro de Química Medicinal

Foi realizado, de 27 a 30 de novembro, em Armação dos Búzios (RJ), o 8º Simpósio Brasileiro de Química Medicinal, Braz Med Chem. Organizado pelo Professor Eliezer Barreiro (UFRJ), foi a primeira edição do evento tendo como respaldo institucional a Divisão de Química Medicinal (DQM) da SBQ. "Nos anos anteriores o evento tinha um caráter voluntário. Em 2014, na reunião da DQM tentamos desenhar um evento com a cara contemporânea da Química Medicinal. Para isso convidamos pesquisadores internacionais que puderam contar sobre suas invenções de novos fármacos, e mesclamos com sessões temáticas para debater o futuro desta área tão importante dentro da Química", conta o Professor Eliezer.

Com cerca de 300 participantes, sendo a maioria químicos e farmacêuticos, o Braz Med Chem teve aproximadamente 170 trabalhos apresentados em painéis, 17 conferências plenárias, quatro sessões temáticas com quatro palestrantes cada e um minicurso. As sessões temáticas trataram de perspectivas para a QM no Século 21; doenças negligenciadas; a transnacionalidade da ciência, como meio de acelerar o caminho da descoberta de novos fármacos para seu uso pela sociedade; e a Química computacional. "Tivemos a participação da American Chemical Society, da Federação Europeia de Química Medicinal e da Sociedade Farmacêutica Alemã. E também a participação do presidente da SBQ, Professor Aldo Zarbin. Creio que a missão foi bem cumprida", avalia o Professor Eliezer.

Um dos convidados internacionais foi o químico inglês Sir Simon Campbell, que desenvolveu três fármacos de grande importância para a sociedade contemporânea, os vasculares amlodipina, doxazosim e o sildenafil, para disfunções eréteis, mundialmente conhecido pelo nome registrado Viagra. "Suas invenções renderam mais de US$ 50 bilhões em vendas até hoje, o que mostra o potencial de geração de riquezas da Química Medicinal", observa o Professor Eliezer. 

Campbell afirmou ao Boletim da SBQ que o sucesso da pesquisa em Química Medicinal se fundamenta no trabalho multidisciplinar de químicos, biólogos e farmacêuticos com objetivos comuns e que saibam compreender as necessidades medicinais do nosso tempo. "Estamos presenciando uma demanda crescente por medicamentos de uso oral que tenham boa relação custo-benefício. Micro-moléculas projetadas pelos químicos medicinais estarão bem posicionadas para atingir estes objetivos", afirmou o Professor Campbell. 

Para o Professor Charles Mowbray, diretor de novos fármacos do Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi), a Química Medicinal tem um futuro brilhante. "Nós, químicos medicinais temos que continuar aprendendo e adaptando nossas abordagens para incorporar novas técnicas e conhecimento", declarou ao Boletim da SBQ. 

A Professora Ana Martínez, do Medicinal Chemistry Institute of Spanish National Council for Research (CSIC), disse ao Boletim da SBQ que esta área da Química tem um futuro promissor. "As grandes indústrias farmacêuticas tem experiência no desenvolvimento de fármacos e muito dinheiro para investir, porém carecem de moléculas inovadoras, o que representa uma tremenda oportunidade para grupos de pesquisa nessa área." A Professora Martínez tem mais de 20 patentes concedidas com relação a fármacos para doenças neuro-degenerativas.

O Brasil ainda não foi capaz de inventar uma molécula que tenha se tornado um medicamento. "A Química Medicinal no Brasil se desenvolve, mas ainda não tem uma quantidade de pesquisadores qualificados para responder aos desafios como protagonistas em inovação. O que temos feito tem mais caráter incremental", avalia o Professor Eliezer Barreiro, que dirige o Laboratório de Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio) da UFRJ. "Em grande parte porque as empresas farmacêuticas brasileiras têm uma estratégia de lucros baseada em genéricos, não em moléculas inovadoras. É preciso mudar essa visão." 

Ele acredita que o futuro da Química Medicinal está relacionado à descoberta de tratamentos mais eficientes para doenças crônicas degenerativas, como o Mal de Parkinson e o Mal de Alzheimer, bem como de soluções para o câncer. "Sabemos um pouco como prevenir uma evolução mais acelerada das doenças crônicas degenerativas não-transmissíveis, mas ainda carecemos de medicamentos efetivos. E o câncer é um desafio ainda não vencido." 

O próximo Braz Med Chem será realizado em 2018, em Pirenópolis (GO), sob a coordenação da Professora Carolina Horta, da Universidade Federal de Goiás.

Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)