Aluno da primeira turma de cotistas da UFPR faz tese de doutorado

Data da notícia: 05/02/2017

Veículo/Fonte: Portal Vermelho

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O Afroatitude foi lançado pelo governo federal na fase inicial de implantação das políticas afirmativas, quando oito universidades públicas tinham políticas próprias de cotas – entre elas a UFPR. O objetivo era apoiar alunos negros cotistas, fornecendo bolsas em projetos de pesquisa e extensão e desenvolvendo estratégias para elevação da auto-estima e enfrentamento do preconceito.

Wellington não é o único “filho” do programa a chegar ao doutorado – há pelo menos mais cinco egressos da UFPR inscritos em programas de diversas universidades. Mas ele será o primeiro a defender sua tese na instituição. Por isso a data será celebrada como um marco, com uma programação que inclui um encontro de egressos e cotistas negros/as da UFPR, marcado para o mesmo dia da banca .

“Será a comemoração de um resultado de qualidade inegável, obtido por um pesquisador que desde o início de sua trajetória acadêmica teve um ótimo desempenho e desmentiu o argumento de que o ingresso de cotistas iria diminuir o nível das universidades”, afirma o professor Paulo Vinícius Baptista da Silva, do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da UFPR e orientador de Wellington tanto no mestrado quanto no doutorado.

Para a professora Maria Tarcisa Silva Bega, que era vice-reitora quando a UFPR discutiu e aprovou o Plano de Metas de Inclusão Social e Racial, a conquista de Wellington tem um forte simbolismo. “Ter um doutor negro, cotista, se titulando na UFPR representa para mim, o sucesso da política e sua função social no combate ao preconceito e à intolerância. Indica, para a comunidade negra, interna e externa, que estes jovens podem sonhar e efetivar seus sonhos. E demonstra, da parte dessa primeira turma de cotistas, alta capacidade de resiliência e de mobilização para a luta cotidiana dentro dos espaços da instituição”.

A tese de Wellington Oliveira dos Santos, que integra o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR, consiste num estudo comparado entre políticas educacionais antirracistas no Brasil e na Colômbia.

As questões raciais são seu objeto de estudo desde a graduação em Psicologia. A monografia de conclusão de curso versou sobre a percepção de estudantes que não haviam ingressado pelo sistema de cotas acerca do sistema de cotas e dos cotistas. No mestrado, também na UFPR, Wellington analisou a presença de personagens negros/as e brancos/as em ilustrações presentes em livros didáticos de Geografia para o 2° ano do ensino fundamental recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático em 2010.

“Ele vem colocando seu investimento intelectual num tema que é muito importante não apenas para a comunidade negra, mas para o país”, diz o orientador.

De acordo com Wellington, esse foi um caminho natural para quem, teve sua vida transformada por essa oportunidade. Filho de pais que se conheceram em Curitiba depois de serem empurrados para a capital pelo êxodo rural, o doutorando faz parte da primeira geração da família a chegar ao ensino superior. A mãe, Lucinda, que só tem o ensino fundamental, criou os três filhos trabalhando boa parte da vida como empregada doméstica e diarista.

Hoje, Wellington é professor da cadeira de Psicologia da Educação da Universidade Federal de Goiás. E, claro, um orgulho para a família. “Minha mãe está convidando pessoas que eu nem conheço para assistir à defesa de tese”, conta. “Para mim, é uma grande vitória, mas acho que é algo que extrapola o círculo pessoal. É a prova do sucesso da política de cotas, que não apenas favorece os cotistas, mas enriquece a universidade ao trazer para dentro dela outros olhares e outras realidades.”

Para o professor Paulo Vinicius, a política de cotas apresentou avanços e retrocessos ao longo dos anos, mas sua efetividade é inegável. “Nesse período a UFPR formou mais alunos negros do que em toda a sua história anterior, de quase cem anos”, diz.

“Hoje a universidade é multirracial na graduação e demonstra caminhar no mesmo sentido na pós-graduação. Com isso teremos mais doutores afrodescendentes, quebrando um padrão de pirâmide escura na sua base, mas que se torna branca no topo”, afirma a professora Maria Tarcisa, que fará parte da banca examinadora de Wellington no dia 7.


Fonte: Geledes