Xaropes infantis ou bebidas alcoólicas? UFG detecta etanol não declarado em medicamentos

Sete de dez marcas de xaropes infantis analisadas em uma pesquisa continham etanol não declarado no rótulo. Em uma delas, de acordo estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), o teor da substância é caracterizado como de bebida alcoólica.

Para ser considerada não alcoólica, conforme prevê a legislação brasileira, uma bebida deve ter menos de meio por cento em volume de etanol. Porém, em uma das marcas pesquisada pela Universidade o valor detectado foi de 1,8%. “Nós refizemos as análises com outros dois lotes do produto, já que a diferença havia sido significativa. Mesmo assim, o valor persistiu”, afirma Luiz Keng, coordenador da pesquisa.

O estudo analisou a composição de diversos xaropes que circulam no mercado brasileiro para tratar doenças broncopulmonares e que não necessitam de receita médica para serem comprados quando administrados em crianças acima de dois anos.

Para os pesquisadores, o fato de haver etanol nos medicamentos administrados em crianças na faixa etária de dois anos é preocupante porque elas ainda possuem os sistemas hepático e nervoso em acentuado desenvolvimento e formação.

Além deste problema, a pesquisa detectou que a quantidade do princípio ativo presente nas amostras não correspondia ao valor declarado no rótulo. Das dez marcas, apenas quatro apresentaram a quantidade de princípio ativo (cloridrato de ambroxol) de acordo com o referido na bula, sendo que as demais declaravam uma quantidade superior à encontrada.

De acordo com Luiz Keng, os problemas detectados podem estar relacionados à falta de estudos e recomendação de pesquisas para avaliar a qualidade de medicamentos no Brasil. “Em geral, temos uma escassez de estudos relacionados à qualidade de fármacos no Brasil de maneira preventiva. Muitas pesquisas ocorrem apenas em casos de problemas já reportados”, explica .