UFG aponta que 85% das bacias hidrográficas de Goiás tem qualidade ruim ou péssima

Data: 09 de maio de 2017

Fonte/Veículo: G1 Goiás

Link direto da Notícia: http://g1.globo.com/goias/noticia/ufg-aponta-que-85-das-bacias-hidrograficas-de-goias-tem-qualidade-ruim-ou-pessima.ghtml

 

Bacia do manancial do Ribeirão João Leite, em Goiânia, teve resultado ruim na análise (Foto: Carlos Siqueira)

Bacia do manancial do Ribeirão João Leite, em Goiânia, teve resultado ruim na análise (Foto: Carlos Siqueira)

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) concluiu que 85% das bacias hidrográficas existentes no estado tem qualidade ruim ou péssima. Os dados foram apresentados na tese de doutorado da professora e engenheira ambiental Karla Cruvinel. Ao todo, foram analisadas 126 bacias de 122 municípios goianos. Goiânia e Região Metropolitana, além da cidade de Goiás são os municípios com o estado mais crítico, segundo o estudo.

De acordo com a pesquisadora, o trabalho partiu da análise de amostras de água retiradas dos mananciais e fornecidas pela Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago). Além disso, também foram usadas imagens de satélites das unidades estudadas. A partir delas, foi criada o Índice de Qualidade Ambiental de Bacias (IQAB), que avalia as áreas.

Para chegar ao resultado, foram usados quatro parâmetros: qualidade da água, perda de solo, porcentagem de vegetação nativa e o Índice de Desempenho dos Municípios Goianos (IDM), criado pelo Instituto Mauro Borges (IMB) para avaliar o contexto socioeconômico das cidades goianas. Ela diz se surpreendeu com o resultado.

"Eu confesso que não imaginava esse resultado, que esse índice chegaria a tanto. Eu pensava em um tema que tivesse relevância para a sociedade. O foco, nesse caso, é a preservação do manancial e o fornecimento de água com qualidade e disponibilidade para a população", explicou Karla ao G1.

Para a engenheira, é importante salientar que, apesar dos resultados, a água que é fornecida para a população está dentro do que é previsto pelos órgãos competentes e que não há motivo para alerta nesse sentido.

"Não se pode dizer que a bacia está muito ruim a ponto de o manancial estar comprometido para abastecimento público. Mesmo porque, a qualidade da água analisada é aquele em estado bruto e não a tratada", detalha.

Mapa mostra que agricultura avança sobre áreas verdes e prejudicam as bacias (Foto: Reprodução)

Mapa mostra que agricultura avança sobre áreas verdes e prejudicam as bacias (Foto: Reprodução)

 

Pastagens e indústrias

 

Durante a análise, a pesquisadora verificou que várias bacias estão danificadas por fatores externos, como áreas de pasto e indústrias de mineração instaladas nas Áreas de Preservação Ambiental (APP). Isso prejudica o solo e causar problemas graves.

"É importante analisar o sistema como um todo. Qualquer alteração vai refletir no manancial. Nascentes preservadas resultam em disponibilidade hídrica. Tudo isso tem uma função ambiental. Essa vegetação preservada contribui para a recarga do lençol freático. Se isso é alterado, vai interferir nessa disponibilidade", pontua.

Nesse sentido, a quantidade de vegetação nativa preservada pesou de forma substancial para o resultado obtido. Um exemplo claro foi percebido nas bacias da Região Metropolitana da capital. Segundo Karla, vários pontos tiveram as nascentes e entorno dos rios danificados com a ação do homem para o desenvolvimento urbano. Esse ponto está diretamente relacionado ao desenvolvimento sócioeconômico da região, outro parâmetro utilizado.

Na cidade de Goiás o resultado também foi considerado ruim, mas por outro motivo. "Lá a situação é precupante porque parte da área do manancial fou toda ocupada pela criação de gado. Esse pisoteamento compacta o solo e impede a infiltração da água. Além disso, os próprios atributos naturais da região não são favoráveis, pois o terreno é cheio de irregularidades", detalha.

Para buscar uma solução, a doutora lista algumas alternativas, como a recuperação das bacias e nascentes, o reflorestamento das APPs e o controle de pontos de poluição.

Karla Cruvinel coordenou a pesquisa de bacias hidrográficas da UFG (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Karla Cruvinel coordenou a pesquisa de bacias hidrográficas da UFG (Foto: Sílvio Túlio/G1)

 

Bons exemplos

 

No ranking elaborado na pesquisa, a bacia hidrográfica do manancial que abastece Pirenópolis ocupa a primeira posição. O fator preponderante para o resultado foi a qualidade da água, que alcançou um índice de 0,64% em que 1% é considerado ideal, além do alto grau de preservação natural da região.

"Esta bacia tem 76% de vegetação nativa bastante preservada. Quando falo de perda de solo, levo em conta também atributos naturais, que o homem não interfere, como cachoeiras e parques. Isso favorece para a preservação. Este conjunto traz uma perda muito pequena e resulta em uma água de boa qualidade", salienta.

Outros dois municípios que tiveram índices satisfatórios foram Teresina de Goiás e Cavalcante, ambos na região norte de Goiás. As localidades tem territórios no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e boa parte de sua mata natural preservada, além de fatores naturais que favorecem a qualidade da bacia.

Karla mostra o estado das bacias hidrográficas em Goiás: resultado a surpreendeu (Foto: Sílvio Túlio/G1)

Karla mostra o estado das bacias hidrográficas em Goiás: resultado a surpreendeu (Foto: Sílvio Túlio/G1)