Afinal de contas, o que o índio brasileiro espera do Brasil?

Data da notícia: 07 de junho de 2017
Veículo/Fonte: Yahoo Notícias
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Atualmente existem 462 territórios classificados como Terras Indígenas (TI) no Brasil. Habitadas por cerca de 300 povos, representam apenas 12% do território nacional. Só em 1990 o Estado reconheceu a necessidade de demarcar e proteger as terras pertencentes aos povos nativos. Mas isso não é o suficiente. Afinal, os índios deveriam ser reconhecidos como os brasileiros originais. O que os descendentes de povos nativos precisam para serem reconhecidos adequadamente?

Para ter uma idéia das principais demandas do povo indígena brasileiro, nesta série de quatro matérias, o @yahoobr conversou com dois dos principais líderes do movimento no país e traçou um perfil da luta e das dificuldades atuais dos índios no Brasil.

Almir Narayamoga Suruí é hoje uma das lideranças políticas indígenas do país. Filiado à Rede – RO, hoje vive e defende a Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, no mesmo estado. Ele nasceu apenas cinco anos depois do contato de sua tribo com o homem branco. Aos quinze anos resolveu estudar biologia, na Universidade Federal de Goiás, onde desenvolveu pesquisas para defesa étnica e ambiental e lutou contra o desmatamento. Ele propôs ao Google um projeto de mapeamento por satélite da reserva Suruí. Na ocasião ajudou a catalogar etnias, aldeias, locais de confrontos e pontos sagrados da comunidade local.

Almir esclarece que a situação indígena é mais delicada que parece aos olhos de quem apenas observa o assunto à distância, como é o caso da grande maioria da população brasileira.

“Ao definir o indígena brasileiro temos que ver vários aspectos: índios isolados são aqueles que voluntariamente se recusam a fazer contato com o não-indígena. Estes estão totalmente vulneráveis diante do avanço do agronegócio, da construção de estradas e hidrelétricas, das minerações e das invasões de terras. Suas vidas correm perigo constante e eles estão totalmente desamparados pelo poder público”, explica.

“Os indígenas contatados estão na luta para manter os territórios já demarcados e para que se demarquem os que ainda não foram demarcados. Eles querem desenvolver de forma sustentável sua agricultura e alternativas econômicas que mantenham a floresta em pé, como projetos de Sistemas Agroflorestais (SAF), pisciculturas e reflorestamentos de áreas degradadas. O índio pode contribuir no combate ao aquecimento global, mas precisa de uma certa autonomia”, pontua.

De acordo com os dados demográficos fornecidos pela Funai e pelo Censo de 2010 do IBGE, a população indígena no país atualmente conta com quase 900.000 indígenas. Todos os estados do Brasil são habitados por índios. Sendo que pouco mais de 500.000 vivem em zonas rurais e cerca de 315.000 em regiões urbanizadas.

217 diferentes línguas indígenas registradas são faladas no país e esse dado é relevante. Mais de 17% da população indígena não fala português, especialmente entre as 69 comunidades que não tiveram contato como homem branco.

Curiosamente, o percentual de indígenas em relação à população branca subiu de 0,2%, em 1991, para 0,4% no ano 2000, um aumento de pouco mais de 10% na população total, refletido no aumento de 150% na quantidade de pessoas que se declararam indígenas no último Censo.