Os transtornos psiquiátricos da juventude

Data:14 de julho de 2017

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

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A partir de uma pesquisa de mestrado realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a pós-graduação em Ciências da Saúde revelou o perfil epidemiológico dos transtornos psiquiátricos de crianças e adolescentes internados em um hospital de referência em Goiânia. No estudo realizado por Ciro Mendes Vargas foram analisados prontuários de 1.318 pacientes menores de 18 anos internados de janeiro de 2001 a dezembro de 2011.

A investigação indica que o Transtorno Bipolar é o diagnóstico mais comum para um total de 35,4% dos pesquisados. “Houve significante maioria masculina no transtorno bipolar, transtorno relacionado à substância e transtorno mental orgânico; maioria feminina no transtorno depressivo e transtorno dissociativo”, diz o pesquisador.

Os dados quantitativos mostram uma predominância do transtorno bipolar e transtorno relacionado à substância na faixa etária de 15 a 18 anos. O transtorno mental orgânico, déficit atencional e hiperatividade (TDAH) são predominantes na faixa de 10 a 14 anos. O estudo ajuda a suprir uma lacuna na capital, já que são raras informações sobre crianças e adolescentes que foram internados em hospitais psiquiátricos especializados. Além da pesquisa em prontuários, o estudo da UFG serviu para revisar a literatura que fala sobre o assunto. Ciro analisou 17 artigos que comprovam um equilíbrio de gênero e etnia na incidência das doenças.

De acordo com o estudo da UFG, comorbidades estiveram presentes em 46,2% da amostragem. Na relação das doenças, a síndrome psicótica foi a mais frequentemente descrita, explica o pesquisador.“Transtornos externalizantes foram mais comuns em crianças menores e do sexo masculino, e os transtornos internalizantes, em crianças maiores e do sexo feminino”, diz o estudo.

A pesquisa que engloba a criança e adolescente é rara, o que reduz a qualidade da atenção a este público. O pesquisador acredita que é preciso ampliar os estudos: “Existem poucos dados, informações e baixa qualidade dos serviços, além dos raros estudos em psiquiatria infantil”.

O tema afeta diretamente a saúde pública, já que Ciro diz ser comum o aparecimento da doença que incide no adulto ainda na adolescência. “Entre adultos que apresentam quadro de doença psiquiátrica, 73,9% já desenvolveram o transtorno antes dos 18 anos e 50% antes dos 15 anos”, escreve em seu estudo.

A partir dos prontuários oferecidos pela Associação de Saúde Mental Infantil de Goiás (Asmigo), hospital filantrópico responsável por internações de menores de 18 anos pelo sistema público de saúde do Estado de Goiás, Ciro correlacionou o perfil básico dos pacientes e desenvolveu uma pesquisa introdutória importante para aprimorar o tratamento de jovens.

A partir de outras pesquisas já realizadas com esta faixa etária, os dados epidemiológicos revelam prevalência de 20% de transtornos mentais em crianças e adolescentes na população geral. “Graves consequências sociais e de saúde pública estão emergindo desse fato, sendo o suicídio a terceira causa de morte entre adolescentes”, escreve o pesquisador.

INTERIOR

No estudo realizado nos prontuários médicos, Ciro afirma que o tempo médio de internação foi de 20,1 dias. Existiram casos em que a internação durou 13 dias e outras que marcaram 74 dias.  Pelos números da pesquisa, mais homens foram internados do que mulheres.  Uma variação mostra que mais pessoas de cidades são internadas do que moradores de cidades interioranas – 53% contra 42, 6%.  Existe baixíssima participação de pessoas da zona rural (3,3%) nas internações.

No caso da infância e adolescência, a internação ocorreu mais na idade entre 15 e 18 anos e menos na infância (1 a 4 anos).  Parte significativa (32%) tem antecedentes familiares psiquiátricos.

Bipolaridade domina diagnóstico

O estudo de Ciro Mendes Vargas revela que a bipolaridade é a principal motivadora das internações, com 28,7%.  Os transtornos mentais orgânicos chegam a ter  22,4%.

Os transtornos disruptivos – muitas vezes caracterizados por comportamentos de transgressão de regras comportamentos desafiadores e antissociais – registram 9,1% dos casos.  Na moda dos diagnósticos,  a hiperatividade e o déficit de atenção têm relativa importância, com 8,5% das internações.

Conforme a pesquisa realizada pela UFG, dentre sintomas e síndromes descritos em prontuários pelos avaliadores, a Síndrome Psicótica foi a mais relatada (31%). Caracterizada por uma combinação de comportamento hiperativo e desatenção, além da falta de envolvimento persistente nas tarefas, a Síndrome Hipercinética (30,2%) vem em seguida, acompanhada da Síndrome Orgânica, Depressiva e Ansiosa – 27, 5%, 26,6% e 25,3%.

A menos relatada é a Síndrome Distímica – uma forma mais branda, todavia crônica, de depressão. Em crianças e adolescentes, chega a durar um ano. O diagnóstico da distimia costuma ser de difícil solução, já que pode ser confundido com outros problemas.

BORDERLINE

De acordo com  Ciro Mendes Vargas , o diagnóstico de transtorno de personalidade ocorreu de forma siginificativa no sexo feminino. “Nas descrições em pontuário, a grande maioria continha relatos de transtorno de personalidade histriônica ou borderline, notadamente mais descritas em pacientes do sexo feminino”.

No estudo, o pesquisador conseguiu apontar que o transtorno relacionado à substância se configura como grave problema de saúde pública e deve ser levado em conta nas políticas públicas de enfrentamento. Existe alta frequência como diagnóstico principal e comorbidade. De acordo com Ciro, esta espécie se associa aos transtornos disruptivos e aos transtornos bipolares, o que provoca quase sempre um encadeamento que exige muita atenção de familiares e equipe médica.

Brasileiros aprimoram diagnóstico de esquizofrenia na adolescência

A revista “Schizophrenia” (editada pela “Nature”) trouxe uma nova possibilidade para melhorar o diagnóstico de adolescentes que possam ter esquizofrenia: a análise da fala dos pacientes será realizada a partir do uso de algoritmos para mensurar padrões.

A partir da definição de um índice de fragmentação, dizem os pesquisadores do Instituto do Cérebro, em Natal, seria possível prever com mais rigor qual a situação do paciente.  Uma das ideias é analisar as desordens do pensamento manifestas na fala. De acordo com os autores do texto, existe certa dificuldade em separar a esquizofrenia de transtorno bipolar ou de comportamento.

Com a metodologia ocorreria uma melhora no diagnóstico, na ordem de 91,67%.  De acordo com o artigo científico, em dois relatos de 30 segundos já seria possível analisar a fala e perceber, através da transcrição, se o jovem tem ou não esquizofrenia.

A melhora no diagnóstico é importante para evitar que o paciente deixe de ser atendido de forma correta, com um processo terapêutico adequado.