Rede social do crime

Data: 11 de maio de 2015

Fonte: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/cidades/2015/05/rede-social-do-crime.html#

 

 

Decantado como espaço democrático, a maior experiência do capitalismo eletrônico, o Facebook torna-se suporte comum para práticas criminosas: no domingo, jovem teria assassinado outro por desavença que surgiu na rede social

Racismo na rede: criminosos usam termos agressivos contra usuários, sem que o Facebook impeça a violência ou atue de forma preventiva bloqueando suspeitos(Fotos: divulgação)

 

 

As redes sociais já foram tratadas pelos especialistas como espaço de sociabilidade e diversão sadia e criativa. Mas nos últimos anos, elas estão cada vez mais distantes do ideal de liberdade de expressão.

Ao contrário, algumas delas tornaram-se perigosas. Elas atraem pedófilos, traficantes, aliciadores sexuais, racistas e assassinos. Um caso que ocorreu em Goiânia pode ser um dos primeiros na crônica policial a envolver um homicídio motivado diretamente pelo comportamento que se tem na rede.

O jovem Jean Carlos da Silva Souza, de 18 anos, foi morto no domingo em uma lan house no bairro São Francisco, em Goiânia, após uma discussão no Facebook.

O crime ocorreu no estabelecimento localizado na Rua Vista Alegre, no bairro São Francisco, em Goiânia. Conforme relata a Polícia Civil, que investiga a autoria e a motivação, Jean Carlos da Silva Souza, de 18 anos, teria sido alvejado com três tiros no final da tarde de domingo.

Jonathan Amâncio seria o autor dos disparos, conforme testemunhas disseram para a polícia. Após trocarem insultos pela rede mundial de computadores, ele foi até a lan house tirar satisfações.

Primeiro, o atirador foi até o proprietário e perguntou se ele era a pessoa com quem teclava. Após a negativa, como a vítima estava sentada na primeira cadeira, ela foi questionada da mesma forma.

Ao ter certeza de que o jovem era seu interlocutor no Facebook, o suspeito, supostamente Jonathan Amâncio, atirou e fugiu. A Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH) apura agora as motivações e os passos da vítima e do suspeito tanto na realidade virtual quanto na vida real.

Uma das hipóteses para a morte seria ciúmes: a namorada do suspeito teria enviado uma foto sensual para a esposa da vítima pelas redes sociais.

Para o site G1, o delegado Matheus Costa Melo relatou que as investigações ainda estão em seu início: “Ainda é muito cedo para falar sobre o motivo do crime, até porque as testemunhas ainda não compareceram à polícia para relatar o que poderia ter provocado o homicídio. O que sabemos até agora é que a vítima e o autor não deviam se conhecer, mas como tanto o suspeito quanto o jovem eram casados, precisamos investigar se há alguma discussão envolvendo os casais anteriormente. ”

 

TRÁFICO

Não bastasse o homicídio, o Facebook foi palco e cenário para a execução de outro crime: o traficante Flávio Fernandes da Silva, preso no último sábado, pode ter comandado por meses ações relacionadas ao tráfico de drogas em Goiânia.

Para isso, ele usaria um nome falso na rede. E através dela, comandaria até mesmo a execução de inimigos.

Em uma rápida consulta no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), o Facebook estaria envolvido em pelo menos 235 ações, entre civis e penais. A rede mundial de computadores amplia a sensação de anonimato e a ideia de que tudo que se faz por ela fica impune.

Muitas vezes, impulsionado pelo modelo da comunicação e das ações que nela são produzidas, as pessoas podem avançar na honra, reputação e mesmo no corpo físico das pessoas com quem se comunicam. “Existe uma investigação dentro da Universidade Federal de Goiás (UFG), no âmbito da psicologias jurídica, que temos acompanhado: ela sugere que da mesma forma que o criminoso usa a noite para desaparecer e camuflar a prática delituosa, as redes têm sido utilizadas no mesmo sentido, como espaços penumbrosos e escondidos“, diz a advogada criminalista Clarissa Almeida Santos, que pesquisa crimes virtuais.

Deve ser o que ocorreu com a jornalista Cristiane Damacena, de Brasília, que publicou sua foto no último dia 29 e foi tema de inúmeros comentários agressivos e criminosos. Pela rede, ela foi chamada de ‘macaca’, em nítido confronto contra a legislação penal do País.

Realizar comentários com teor racista é crime previsto na Lei 7.716/89. A pena para este crime chega a 5 anos, além de multa, quando realizado em meio de comunicação. E muitos dos criminosos se escondem nas redes, tendo como artifício a dificuldade de acesso ao Facebook, que aceita denúncias, mas que não tem jurisdição para decidir se algo publicado é ou não um crime.

 

SAIBA MAIS

Contradições do Facebook

Lan house onde teria ocorrido assassinato do jovem: crime é investigado pela  Delegacia de Investigações  de Homicídios (DIH), que acredita em hipótese de ciúmes

Lan house onde teria ocorrido assassinato do jovem: crime é investigado pela Delegacia de Investigações
de Homicídios (DIH), que acredita em hipótese de ciúmes

  •  O Facebook é uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Na atualidade, revela-se em uma das maiores apostas da quarta fase do capitalismo – a sua fase eletrônica.

 

  •  Mas parece ser um instrumento mais contraditório do que outras mídias. No mês de abril, o Facebook bloqueou o acesso a uma fotografia de um casal de índios publicada na fanpage do Ministério da Cultura. Motivo: uma mulher indígena aparecia com os seios despidos.

 

  1.  O mais interessante é que a foto, de autoria de Walter Grabe, faz parte do acervo de um portal com mais de 2 mil imagens históricas dos séculos 19 e 20. Pois o Facebook proíbe uma imagem indígena. Mas permite que surjam crimes e delitos em sua estrutura. Como explicar tamanha contradição?