Uma cidade com muito lixo

Data: 16/07/2015

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

Link direto para a notícia: http://www.dm.com.br/cidades/2015/07/uma-cidade-com-muito-lixo.html 

 

Goiânia produz 1.400 toneladas de lixo ao dia. Detritos residenciais ocupam a maior quantidade dos descartes. E devido a sua verticalização, Setor Oeste é o que mais gera resíduos

Setor Oeste, devido a concentração de moradias e apartamentos, é o bairro que mais produz lixo

Divania Rodrigues,Da editoria de Cidades

Cerca de 1.400 toneladas de lixo são produzidas por dia em Goiânia, em média um quilograma por pessoa. O padrão nacional diário é de 900 gramas até um quilo e 100 gramas por pessoa. Os resíduos residenciais são os produzidos em maior quantidade e de acordo com dados da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), o Setor Oeste é o local onde mais se produz resíduos na Capital, resultado da intensa verticalização.

De material infectante são nove mil quilos, diariamente coletados nos grandes geradores, hospitais de médio e grande portes, e nos pequenos geradores, desde farmácias a estúdios de tatuagem e piercing. Esse tipo de resíduo exige mais cuidado durante a coleta e equipamentos específicos, além de ter destinação diferenciada – é encaminhado para uma empresa conveniada para incineração.

Apesar do volume coletado, apenas cerca de 8% é reciclado, conforme o último levantamento realizado pela Comurg. “Em comparação com as 1.400 toneladas por dia nós temos tirado por volta de três mil toneladas por mês para reciclagem”, explica Ailson Alves da Costa, diretor de coleta da companhia.

A reportagem conversou com algumas pessoas pelas ruas e o que ouviu é que muitos não separam seu lixo alegando falta de tempo ou por acreditar que todo material terá a mesma destinação. Mas Ormando José Pires Júnior, presidente da Comurg explica que não é deste modo. “(O material) Tem uma destinação muito importante, pois está impactando de maneira positiva o meio ambiente, sofrendo um processo de reaproveitamento, reutilização ou reciclagem. Além desse trabalho ambiental que a pessoa faz quando separa esse material, está ajudando pessoas que sobrevivem disso. É um trabalho social também.”

As cooperativas de catadores se mantêm por meio da renda que conseguem da seleção, beneficiamento e venda do material que é separado pelo morador. Apesar do número baixo de material que é reciclado, o presidente da Comurg comemora: “Goiânia está em processo novo de coleta seletiva, assim entendemos os números como extremamente positivos. Claro que precisamos avançar, mas é extremamente positivo se você lembrar que a coleta seletiva foi lançada em 2008, através de alguns projetos pilotos, e que apenas em 2011 a gente conseguiu abranger 100% da cidade.”

 

Separação

Zeneide Pontes Santos Brito, 27 anos, trabalha como vendedora e explicou à reportagem que não tem tempo para separar o lixo e normalmente quando chega em sua casa a irmã, que mora com ela, já fez o descarte de maneira imprópria. Para Dulce Helena do Vale, 50 anos, uma dica simples para quem nunca selecionou seus resíduos é começar separando o lixo seco do molhado. Ela é técnica em contabilidade e em 2008 foi convidada a ajudar na fundação de uma cooperativa de catadores na Região Noroeste de Goiânia. Hoje é presidente da Cooper-Rama, representante estadual do movimento dos catadores e diretora de comunicação da Rede Uniforte – Central das Cooperativas de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis – que ajuda na comercialização do material reciclável para agregar mais valor.

Dulce Helena explica que ainda há falta de incentivo em educação ambiental e campanhas que informem a população que ainda não sabe como tratar seus resíduos. Outra medida, conta ela, é juntar os materiais de mesmo tipo em um único saco de lixo, como papéis e papelão, garrafas pets e outros plásticos, alumínio e outros metais. “Lembrando que papel higiênico e guardanapos usados são considerados lixo orgânico e devem estar junto aos materiais molhados”, esclarece.

Os metais têm maior valor no mercado, porém Dulce explica que devido a quantidade coletada o papel branco é o carro-chefe das cooperativas. “Mas que se o papel for molhado perde o valor de mercado”, completa pedindo para que os moradores cuidem para que isso não ocorra. Para ela é essencial que sejam realizadas mais campanhas que mostrem como separar o material reciclável para sensibilizar a população de que a destinação correta de seu lixo ajuda não só o meio ambiente, mas colabora com a criação de emprego e inclusão social de quem não consegue um trabalho com carteira assinada.

 

Cooperativas

Hoje a reciclagem de materiais é um mercado competitivo e que dá lucro, avalia Dulce Helena. Porém, a concorrência com empresas privadas e a falta de indústrias de reciclagem em Goiás, faz com que os cooperados ainda mantenham um baixo salário. “Ficamos nas mãos dos atravessadores e por causa disso os cooperados que deveriam ganhar na faixa de R$ 1.500 por mês recebem um salário mínimo”, explica a presidente da cooperativa.

Ela acrescenta que em Goiânia cerca de 480 pessoas são cooperadas e sobrevivem por meio da renda de materiais reciclados, porém esse número é maior porque muitos são indiretamente beneficiados por causa do lixo produzido pela população. Para Dulce o projeto de Coleta Seletiva na Capital é excelente, mas tem sido abandonado pelo poder público e necessita de incentivos para melhorar.

“A coleta funciona com a Comurg, mas se houver orientação para toda população separar o lixo vai aumentar o volume e aí vai ter como coletar?”, questiona, lembrando que são 16 cooperativas e 16 caminhões de coleta seletiva, “um para cada, apenas”. Dulce Helena também explica que as indústrias para destinação final dos produtos recicláveis ficam em sua maioria no Sul e Sudeste do País e que apenas os grandes empresários tem condições de transportar o material para vender diretamente.

“O poder público precisa incentivar a instalação de indústrias no Estado, o que fecharia o ciclo da cadeia produtiva. Enquanto isso não acontece são os atravessadores que mais lucram”, pontua.

Vitor de Melo Amorim, 32 anos, técnico em autogestão da incubadora social da Universidade Federal de Goiás (UFG) que trabalha junto as cooperativas de catadores, explica que em Goiás, por exemplo, há apenas uma indústria de papel reciclado e que esse é um dos entraves no processo de reciclagem no Estado. “Há uma conversa de que tudo é reciclado, porém em Goiás apenas alguns materiais são comercializados. Falta investimento na cadeia produtiva da reciclagem. Falta investimento na cooperativa, em galpões e áreas próprias. Falta olhar para o catador como um profissional.”

Para ele, o incentivo para que 100% da população separe seu lixo fará o volume aumentar, mas sem a melhoria no sistema o resultado ainda seria problemático. “O material já existe e o que a população já separa hoje daria para ter mais cooperativas ainda”, explica.

Crise não se repetirá

Um ano depois de Goiânia atravessar o que ficou conhecida como crise do lixo, quando os resíduos se espalhavam pelas ruas da Capital o presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Ormando José Pires Júnior, descarta que o fato possa se repetir. “Esse período foi turbulento, justamente porque há um ano a frota estava em final de ciclo por ser um equipamento locado, enfim, de lá para cá nós adquirimos 60 caminhões e continuamos apenas com sete locados. A coleta está devidamente normalizada com sua frequência regulamentar conhecida pela população.”

De acordo com Ormando, atualmente o período menor de frequência em que é realizada a coleta é de três vezes por semana, embora seja aceitável uma frequência de duas vezes. Além dos 67 caminhões disponíveis há ainda os 16 de coleta seletiva e sete minicompactadores que são utilizados na coleta em áreas específicas, como vias de difícil acesso. “O que nós entendemos é que com crescimento da população e às vezes até a dispersão desses locais habitados aí sim seja necessário implemento e melhoria”, acrescenta.

 

Coleta seletiva é executada na Capital:  reciclagem de materiais é mercado competitivo e que dá lucro, mas faltam indústrias especializadas em Goiás

Coleta seletiva é executada na Capital: reciclagem de materiais é mercado competitivo e que dá lucro, mas faltam indústrias especializadas em Goiás

 

Sistema de coleta da Capital: resíduos residenciais são os produzidos em maior quantidade, explica a Comurg

Sistema de coleta da Capital: resíduos residenciais são os produzidos em maior quantidade, explica a Comurg

 

Como fazer a coleta seletiva do lixo?

1- Separe e limpe: na hora de descartar separe e limpe tudo que pode ser reciclado. Coloque em um mesmo recipiente materiais semelhantes.

 

2- A coleta seletiva é realizada por um caminhão próprio que toca uma música que ajuda a identificá-lo. Se informe a respeito das datas de coleta em seu bairro.

 

3- Coloque o material separado em frente a sua casa nos dias certos.