Um novo espaço para os vivos

Data: 28 de agosto de 2015

Veículo: O Popular

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Características credenciariam cemitério a se tornar atração turística, mas especialista vê abandono

 

Ricardo Rafael

Espaço, que é administrado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), foi tombado como patrimônio histórico do município em 2000. Local não tem bancos ou bebedouros

 

Pedro Nunes

O Cemitério Nossa Senhora de Santana, no Setor Campinas, tem diversas histórias. Muitas enterradas, outras edificadas em jazigos imponentes. Até a própria entrada conta uma: a influência do movimento art déco na arquitetura de Goiânia. O cemitério mais antigo da capital - construído em 1940 - chegou a abrigar o primeiro túmulo de padre Pelágio Sauter, que mesmo sem a ossada ainda é ponto de visitação no local, entre outras personalidades do Estado (veja quadro).

Por tudo isso, a Associação das Empresas Funerárias de Goiás (Aefego) pretende proclamar o espaço tombado como patrimônio histórico do município no ano 2000 como uma atração turística. “Queremos quebrar o paradigma da sociedade de que o cemitério é um lugar de tristeza e trazer um novo olhar para os vivos”, salienta o secretário-geral da Aefego e idealizador do projeto, Omar Layunta.

Antes, porém, a Aefego desenvolve projetos de sensibilização para o projeto, como a exposição itinerante de arte tumular do fotógrafo Caio Gallucci, atualmente montada na Câmara dos Vereadores. A mostra continuará no espaço até 2 de setembro. “É um trabalho para conscientizar a população sobre o espaço e também para incentivar que os proprietários façam a requalificação dos jazigos até mesmo por questões de segurança e saúde. Esquecidos, eles podem se tornar criadouros para o mosquito da dengue ou para outros insetos vetores de doenças”, ressalta.

O cemitério é administrado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), que será uma das parceiras da requalificação do espaço. “Junto com os idealizadores temos buscado empresas que se interessem em requalificar o cemitério. Conseguimos o apoio do arquiteto Léo Romano, que voluntariamente assinará o projeto de revitalização. Tudo será pensado para a visitação, para o resgate cultural e arquitetônico”, diz a secretária da Semas, Maristela Alencar. No entanto, ainda não há data estipulada para o início das obras. “Estamos buscando o apoio de entusiastas. Temos também a expectativa de que o arquiteto conclua o projeto até o fim de setembro.”

Turismo

O historiador e professor de artes da Universidade Federal de Goiás (UFG), Wolney Unes, argumenta que o espaço tem características que o credenciam a se tornar uma atração turística. “Ele tem mausoléus impressionantes e o cemitério conta, inclusive, com traços de art déco”, diz.

Wolney critica, porém, a atual situação do espaço. “Ultimamente ele anda mal cuidado. O local está com um perfil de abandono. Tem, inclusive, um mausoléu do artista Frei Nazareno Confaloni, famoso em Goiás por suas obras, só que ele foi esquecido. Na última vez em que visitei o cemitério a pintura estava corroída e, como não foi restaurada, acredito que tenha se perdido com o tempo”, afirma o historiador, ao lembrar do artista pioneiro da arte moderna no Estado.

O secretário-geral da Aefego, Omar Layunta, destaca outros entraves. “O espaço tem problemas graves, como poucas árvores. Não tem bancos nem bebedouros. Pessoas que precisam atravessar o cemitério não têm onde descansar.”

 

Gostei da ideia

 

"Este local tem valor cultural significativo. É importante valorizar o que é nosso. Existem monumentos belíssimos, mas o cemitério tem de ser restaurado primeiro.”​

Arlindo Carlos da Silva, estudante

 

Não gostei da ideia

 

" Prefiro visitar pontos mais alegres como parques ou lugares em que posso ser útil às pessoas, como abrigos de idosos. A visitação em cemitérios é para dias de tristeza, de saudade.”

Andrea Barbosa, recepcionista

Ricardo Rafael

Túmulo do fundador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira