“Sociedade também aperta o gatilho”

Data: 04 de setembro de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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Especialistas que pesquisam a violência policial apontam alguns fatores para explicar a letalidade da ação da PM e destacam, dentre eles, o respaldo que as ações mais violentas encontram na sociedade. A socióloga Michele Cunha Franco, que fez da violência policial objeto do seu pós-doutorado, observa que ao fazer comentários elogiando o policial que provoca a morte do criminoso a população legitima a violência policial. “Essas pessoas acreditam que é por meio do uso da violência contra grupos suspeitos que se pode manter a sociedade segura.”

Essa crença faz parte da cultura do brasileiro, na opinião do pesquisador do Núcleo de estudo sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Francisco Tavares. “Uma cultura que relaciona paz e segurança a uma polícia mais truculenta”, afirma. Esse comportamento é bastante perceptível nas redes sociais, onde os comentários que acompanham as notícias de mortes de criminosos durante a ação policial são, em sua maioria, para aplaudir o policial. Segundo Michele, dessa forma a sociedade também aperta o gatilho junto com o policial.

Histórico

A violência policial tem ainda um componente histórico. A socióloga Michele Franco afirma que a Polícia Militar mantém alguns resquícios do tempo da ditadura militar, como o autoritarismo em excesso e a doutrina de guerra. Francisco Tavares aponta que a formação do policial militar não avançou de lá para cá no que diz respeito ao treinamento.

“O PM é treinado para a guerra e para combater inimigos e não para a manutenção da legalidade”, comentou. Para Tavares outro fator da violência policial é a impunidade, que atinge principalmente os oficiais militares.

Michele Franco acrescenta outros fatores à letalidade policial como o treinamento estressante e humilhante, que envolve violência física e psicológica, o que, na opinião da socióloga reduz a possibilidade do policial ser preparado para um policiamento mais próximo da comunidade. “Como o policial vai ter uma ação humanizada se sua formação é para desumanizar?”, questiona.