Anticoncepcional: dúvidas e cuidados

Data: 24 de novembro de 2015

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

Link direto para a notícia: http://www.dm.com.br/cotidiano/2015/11/anticoncepcional-duvidas-e-cuidados-2.html 

 

Ainda hoje as mulheres tem questionamentos a respeito do uso das pílulas para não engravidar

POR FERNANDA LAUNE

24/11/2015 ÀS 13:30 PM

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Muito se fala do uso do anticoncepcional e o assunto está constantemente presente nas rodas de amigas. O medicamento que surgiu na década de 60, trouxe uma revolução nos hábitos sexuais do mundo ocidental. A gravidez que algumas mulheres da época não desejavam, passou a ser evitada com ajuda do contraceptivo, e se passou à satisfação do prazer sem a preocupação com consequências. Para esclarecer alguns questionamentos das nossas leitoras, a reportagem do DM buscou a ajuda de uma profissional especialista na área.

Antes do início da medicação, a ginecologista Marta Franco Finotti, doutora em Pesquisa Clínica com Fármacos pela UFG e presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, alerta que há necessidade de fazer uma uma anamnese (entrevista) cuidadosa e somente depois há a prescrição do contraceptivo oral combinado. “Devemos indagar a respeito de doenças preexistentes, como hipertensão, diabetes, obesidade e antecedentes de tromboembolismo. É importante também saber sobre hábitos de vida como tabagismo e sedentarismo”, afirma Marta.

Em relação aos riscos de tromboembolismo venoso, que é a trombose venosa profunda e embolia pulmonar, a ginecologista Marta Finotti explica que os principais fatores a ser pesquisados em mulheres na fase reprodutiva da vida são a história pessoal ou familiar (parente de primeiro grau) de tromboembolismo venoso e síndrome metabólica. Outro fator que pode contribuir para o trombose é a obesidade que aumenta 2,7 a 4,6 vezes o risco e pessoas que têm histórico familiar garante o acréscimo de 2,5 vezes. “Uma história pessoal prévia de tromboembolismo venoso contraindica o uso de contracepção combinada”, ressalta a ginecologista.

A ginecologista conta que os contraceptivos hormonais são métodos altamente eficazes para prevenir a gestação e também conferem benefícios adicionais, o que justifica muitas vezes seu emprego de maneira terapêutica. ”Os principais efeitos benéficos dizem respeito aos sintomas relacionados ao ciclo menstrual como as menorragias, dismenorréia (cólica menstrual) e sangramento irregular”, explica.

Outros benefícios que algumas mulheres podem ter é a melhoria da tensão pré-menstrual, a conhecida TPM, além da seborreia associada a acne e hirsutismo (aumento de pelos corporais). Pode ser também a primeira opção para o tratamento sintomático da dor associada à endometriose.

“Os benefícios em longo prazo incluem uma redução significativa nos casos de câncer de ovário e endométrio (mucosa que reveste o útero internamente) e provavelmente também de câncer colo retal. Todos esses benefícios adicionais além de propiciar uma melhor aceitação das mulheres, tem impacto significativo sobre saúde pública”, comenta Marta.

Ela cita também que os novos preparados e vias de administração de contraceptivos, como as vias transdérmica e vaginal, mantém os efeitos benéficos adicionais aliados a maior comodidade da paciente e maior aceitação do método.

Já em relação a diminuição do libido, a ginecologista explica que em algumas mulheres pode ocorrer essa consequência, entretanto há mulheres que relatam o aumento da libido e  já outras esse efeito é neutro.

Saiba mais

O que pode prejudicar a eficácia do anticoncepcional?

A médica Marta Finotti alerta que alguns remédios podem ter interação medicamentosa com os contraceptivos o que pode ocasionar a diminuição de sua eficácia. “Os principais são os antibióticos (rifampicina) e anticonvulsivantes (fenitoína, carbamazepina barbitúricos, primidona, topiramato, oxcarbazepina)”, conclui Marta.

Métodos contraceptivos mais usados e recomendados

A ginecologista Marta Finotti alerta que os métodos contraceptivos devem ser indicados de acordo com a idade da mulher, o tempo em que deseja a contracepção, o número de filhos, se existe ou não alguma condição especial, como por exemplo câncer, diabetes e hipertensão, e as necessidades das mulheres ou casais, tendo como prioridade a eficácia do contraceptivo.

Segundo a ginecologista, os principais métodos contraceptivos são:

  • Contraceptivos hormonais combinados: Oral (pílula), transdérmico (adesivo), anel vaginal e injetável

Contraceptivo só com progesterona: Oral, injetável e implante

DIU de Cobre e Medicado com progesterona (Mirena)

Preservativo: masculino e feminino

Esterilização: laqueadura tubária e vasectomia

Questionamentos de leitoras

 

A pílula traz diversos benefícios à saúde da mulher

A pílula traz diversos benefícios à saúde da mulher

Maria Rita Rocha (analista de mídias): Os médicos falam para iniciar o uso do anticoncepcional no 5º dia da menstruação, mas como fazer se muitos ciclos não duram 5 dias?

Os contraceptivos hormonais combinados por via oral (pílula), devem ser iniciados no primeiro dia do ciclo, no primeiro ciclo, tomado de maneira rotineira, de preferência no mesmo horário, por 21 ou 24 dias (na dependência da pílula indicada) e ao termino da cartela fazer um intervalo de sete ou de quatro dias, entre as cartelas e reiniciar após o intervalo, independente da menstruação. Alguns anticoncepcionais devem ser tomados de forma continua, sem pausa. A usuária do método anticoncepcional deve ficar atenta as orientações do profissional que prescreveu o método e esclarecer o modo correto de usar antes de iniciar, para que o contraceptivo tenha a eficiência e a proteção desejadas.

Maria Rita Rocha (analista de mídias) – Quando a mulher esquece de tomar o anticoncepcional pode ou não tomar 2 comprimidos no mesmo dia?

No caso de esquecimento de uma pílula: tomar imediatamente; pode ser necessário tomar 2 pílulas no mesmo dia.

Letícia Brandão (jornalista) – Existe algum problema em emendar a cartela? Quero ficar sem menstruar por um período.

Não existe problema em emendar as cartelas, em uso estendido. Este regime de uso é uma tendência e cada vez mais vem sendo utilizado por usuárias que desejam fazer intervalos maiores entre as menstruações. Peça orientações ao seu médico se após três ou mais cartelas usadas sem intervalo, começar a ocorrer um sangramento escasso diário, não programado. Nestes casos é recomendável interromper o uso, fazer a pausa e reiniciar. O uso estendido traz benefícios para pacientes que se beneficiam com ciclos mais longos, como pacientes com endometriose, TPM severa, enxaqueca no período da pausa, por exemplo.

Maria Jessyca (estudante) – Se a mulher que nunca tomou o remédio e começar a tomar, depois de alguns dias ter relação sexual, pode engravidar?

Se ela iniciou a pílula combinada no primeiro dia da menstruação e está tomando corretamente, sem esquecimento, não é necessário nenhum método complementar. Pode ter atividade sexual, com segurança de não engravidar.

Jeyce Pires (publicitária) – Porque algumas mulheres sentem enjoos ao ingerir o anticoncepcional?  

Um dos efeitos colaterais dos contraceptivos hormonais é o enjoo. Geralmente são de fraca intensidade, surgem com maior frequência nos primeiros meses de uso, e muitas vezes regridem es­pontaneamente.

Thaís (analista de marketing) – Sobre a injeção, posso tomar antes da menstruação vir? Exemplo: meu dia de tomar injeção é sempre no dia 28 de cada mês e em algumas vezes a menstruação ainda não desceu. Mesmo assim posso tomar?

Sim, com relação aos contraceptivos hormonais combinados injetáveis de uso mensal, a primeira injeção deve ser feita no primeiro dia do ciclo menstrual. As injeções seguintes devem ser administradas independente do padrão menstrual, com intervalos de trinta (mais ou menos três) dias, isto é, no mínimo 27 e no máximo 33 dias.

Núbia Kelly Oliveira – É normal durante a amamentação menstruar? Eu tomo o cerazete que é uso contínuo, mas minha bebê tem 4 meses e eu menstruei 2 vezes já, é normal?

Sim, é normal. Você deve verificar se não está esquecendo de tomar a pílula corretamente, diariamente, no mesmo horário. O uso incorreto favorece o sangramento de escape. Mas todas as pílulas que contem só progestagênio, como o Cerazette, podem ter como intercorrência o sangramento não programado.

Amanda Sousa (estudante) – Se eu trocar de anticoncepcional sem pausas corro risco de engravidar?

O ideal é fazer a pausa antes da troca.

Tati Lee (empreendedora) – Tenho DIU (Mirena), mas queria tomar anticoncepcional também, quais os prós e contras?

Está completamente contraindicado. A dose de hormônios circulantes é excessiva podendo ter efeitos colaterais importantes e não traz nenhum benefício adicional.

Maria Augusta (jornalista) – Não há problemas tomar o mesmo anticoncepcional por um período muito longo? É preciso trocar de marca?

Não. Se você está bem adaptada e tem o aval do seu médico de que o contraceptivo em uso é seguro e eficaz, não existe necessidade de mudar.

Núbia Gonçalves (funcionária pública) – Os injetáveis também tratam o ovário policístico?

Sim, os contraceptivos hormonais combinados orais ou injetáveis são uma forma eficaz de tratamento para a síndrome de ovário policístico.

Lenice Batista (funcionária pública) – Eu fiz laqueadura 5 anos atrás, após esse período sinto fortes cólicas e estou tomando anticoncepcional há 5 meses direto pra não menstruar. Isso pode prejudicar a saúde?

Cada caso deve ser individualizado e orientado pelo médico. A princípio, após fazer laqueadura, não haveria necessidade de usar o anticoncepcional com finalidade de contracepção. Entretanto ele pode ser usado pelos benefícios não contraceptivos adicionais. Isso só pode ser avaliado pelo médico que assiste a paciente.

Fernanda Souza (nutricionista) – O DIU não seria uma melhor opção para evitar esses problemas que o AC trás? Ele tem alguma contra indicação?

O DIU de cobre está indicado em todas as pacientes que tem contraindicação ao uso de hormônios. O DIU medicado com progesterona, é indicado em várias situações em que a paciente tem contraindicação ao uso de estrogênios. Ambos os métodos são muito eficazes, de longa duração, e tem muitos benefícios. Podem ser usados por adolescentes e por mulheres que ainda não engravidaram, mas que já iniciaram atividade sexual.

Natália Campos (funcionária pública) – Quais anticoncepcionais tem menor risco de causarem trombose? Há algum exame que a mulher possa fazer para saber se tem predisposição a ter trombose?

O tromboembolismo venoso (TEV) é um efeito adverso grave, mas raro, da Contracepção Hormonal Combinada (CHC). O aumento do risco de TEV nas usuárias de CHC é inferior ao risco de TEV associado à gravidez e ao puerpério e   é mais elevado no primeiro ano de utilização do método, No entanto o risco de TEV entre usuárias de COC é consideravelmente menor do que o risco de TEV associado à gravidez, sendo que, a gestação aumenta em cerca de 5 vezes o risco, quando comparado a mulher não  gravida e no puerpério este risco aumenta em 60 vezes. Nenhum contraceptivo hormonal combinado é mais trombogênico que o estado gestacional-puerperal.

O uso de formulações contendo doses baixas de estrogênios ainda confere um risco de TEV de duas a quarto vezes, quando comparado ao risco de mulheres não usuárias. Observou-se ainda que o risco é maior no primeiro ano de uso do contraceptivo e que depende também do tipo de progestagênio usado na associação.

CHC de 3ª geração, contendo desogestrel ou gestodeno, foram associados com um aumento de risco de TEV duas vezes superior aos que contêm levonorgestrel. Recentemente, também os CHC com drospirenona foram comparados aos que contêm levonorgestrel, tendo-se encontrado um aumento de risco de TEV.

O risco absoluto de tromboembolismo venoso em não usuárias depende da idade, ou seja, em menores de 30 anos etários é de 1 a 2 casos/10.000 mulheres.

Assim, usar etinilestradiol e levonorgestrel aumenta o risco de 1 a 2 casos/10.000 para 2 a 4 casos/10.000. Usar desogestrel, drospirenona ou ciproterona – todos associados ao etinilestradiol – faz o risco aumentar de um a dois casos por 10.000 mulheres para quatro a oito casos por 10.000 usuárias.

Vale ressaltar que a trombose arterial é menos frequente na idade reprodutiva que o tromboembolismo venoso (um caso de trombose arterial para cada cinco a dez casos de tromboembolismo venoso). Consideram-se trombose arterial o infarto agudo do miocárdio, o acidente vascular cerebral e a doença vascular periférica.

O rastreamento universal de trombofilias antes da prescrição de contraceptivo oral combinado não é recomendado, uma vez que não é clinicamente viável nem é custo-efetivo. Soma-se a isso o fato de que o achado de trombofilia em mulheres assintomáticas não indica que está terá tromboembolismo venoso, apenas que terá maior risco de ocorrência do problema.