Condomínio de luxo, novo alvo?

Data: 24 de novembro de 2015

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

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A ação que poderia ser considera inusitada levanta dúvidas e questionamentos sobre a segurança em Goiânia

POR APARECIDA ANDRADE

24/11/2015 ÀS 13:38 PM

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Família que mora em um condomínio de luxo em Goiânia se surpreendeu ao voltar para a casa, no último sábado (21) e descobrir que o imóvel onde moram havia sido arrombado e que os ladrões teriam levado R$ 650 mil. A ação que poderia ser considera inusitada levanta dúvidas e questionamentos sobre a segurança em Goiânia e principalmente nos condomínios, lugares considerados mais seguros.

Em entrevista à reportagem do jornal Diário da Manhã o delegado titular da 1ª Delegacia Regional de Polícia de Goiânia, Alexandre Pinto Lourenço afirmou que, de fato, houve um acentuado aumento nesse tipo furto na capital. Mas ressaltou ainda não ser possível traçar um perfil do modo de agir dos criminosos.

“Não se trata de uma circunstancia comum. Apesar de vários eventos a maneira de agir não é recorrente, não é um furto corriqueiro, não dar para dizer ainda o que está acontecendo, a gente ainda está trabalhando na construção desse perfil criminoso”, declara.

Para o pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi) da Universidade Federal do Estado de Goiás (UFG), Dione Antonio de Carvalho de Souza Santibanez,  com base em suas pesquisas na área da violência, de fato, não se poderia taxar ou classificar que os condomínios não tem segurança.

No entanto, ele afirma que como em outros bairros e outras aglomerações da cidade os condomínios também têm casos de roubos e furtos e o que difere esses espaços dos condomínios é que a população do condomínio opta num grau maior que o restante da sociedade em não fazer registro dessas ocorrências, tentando resolver internamente.

“Deixar de registar ocorrências criminais é um hábito comum em toda sociedade brasileira e nos condomínios esse hábito é um pouco mais reforçado. Há uma cultura própria do condomínio de resolver seus conflitos internamente, até um interesse financeiro em não desvalorizar seus imóveis com a divulgação desse tipo de ato”, avalia.

O sociólogo ressalta que mediante os dados não se pode dizer que há em curso um significativo aumento de furtos e roubos em condomínios fechados. Descreve que o que pode está havendo, e trata-se apenas de uma hipótese, é que as pessoas nos condomínios passaram a registrar mais os casos de furtos e roubos que lá acontecem. “Ainda que seja este o caso a gente não pode afirmar que houve qualquer tipo de aumento desses casos lá” adverte.

Combater a violência

Estudo divulgado ontem (23) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresenta possíveis cenários para o Brasil até 2023, e propõe ações de prevenção social e de segurança pública para o país. De acordo com documento mesmo nos cenários mais positivos, Brasil não conseguirá reverter problemas na área de segurança pública.

De acordo com o pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência (Necrivi), Dione Santibanez para haver mudanças efetivas na redução da criminalidade no Brasil é preciso haver mudanças que vão desde as mais estruturais e as menos estruturais de caráter mais específico. Ele destaca como mudanças estruturais na área de segurança pública a mudança na concepção que se tem do sistema.

“O equívoco principal é que no Brasil a gente trata segurança pública como guerra e não como estado de bem-estar e a gente precisa tratar segurança como um bem-estar social que é necessário a todos. Essa mudança de concepção é que vai permitir que a gente tenha um funcionamento desse sistema baseado muito mais na inteligência do que no uso irracional da força bruta e da violência”, analisa Santibanez.

Ele acrescenta que mudar essa lógica resultará em construir um modelo de segurança que fortalecerá os organismos institucionais da justiça criminal, a qual usará da inteligência e da investigação eficaz no enfrentamento da violência. E para tal mudança ele assegura que isso perpassa por uma mudança significativa na forma como se aplica os recursos.

“No Brasil, ao contrário do que dizem várias autoridades a gente gasta muito com segurança pública, não falta dinheiro para essa área no Brasil. Entretanto, esse recurso é mal utilizado, a gente não gasta bem, apesar de gastar muito. O principal elemento que identifica isso é que dos 60 bilhões de reais que se gasta por ano com segurança no país, a maior parte disso fica concentrado em dois elementos da segurança pública: o policiamento militar ostensivo e o sistema prisional” constata.

Dessa forma avalia o pesquisador acaba ficando a margem e com menos recursos os órgãos que formam o sistema de inteligência, investigação, proteção de direitos e de qualidade técnica científica. “Quando nós remodelarmos esse sistema e passarmos a entender que é preferível investir mais em inteligência e investigação célere a gente vai gastar mais com esse órgãos e passar ter um resultado mais efetivo na redução da criminalidade” afirma.

Ele pontua que foram medidas como essas sugeridas que apresentaram resultados positivos em outros países.“Foi assim em todos os países que conseguiram mudar a lógica da segurança pública para ter números mais positivos frente à violência. E é como estar hoje o Brasil, os países em que insistem em manter o gasto focado no armamento de policiais e na estrutura gigante do encarceramento em massa” lamenta.

Santibanez conclui ao afirmar que, “enquanto a gente não reverter essa lógica da segurança pública os números continuarão ser esses que a gente tem de uma alta violência, de um alta criminalidade sem perspectiva de conseguir resolução”.

A família que teve a casa roubada em um condomínio fechado na capital está revoltada com a situação. O 8º Distrito Policial investiga o furto o qual também é responsável pela investigação de outros cinco casos de crimes em casas de luxo em Goiânia.