Bravo!

Data: 23 de dezembro de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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Jovem maestrina goiana assume cargo em orquestra vinculada ao Theatro Municipal de São Paulo

23/12/2015 06:00Não Informado

Katarine Araújo: "Os grandes regentes ainda são, em sua maioria, homens, e existe uma tradição. Mas as mentes estão se abrindo"

 

Rute Guedes

 

A maestrina goiana Katarine Araújo está prestes a realizar um sonho: ela está arrumando as malas para assumir a disputada função de regente assistente da Orquestra Experimental de Repertório (OER), vinculada à Fundação Theatro Municipal de São Paulo. Katarine, de 25 anos, fez piano no Instituto de Artes Basileu França, graduação em piano e mestrado em regência na Universidade Federal de Goiás.

Quando assumir a função em São Paulo, em janeiro, Katarina estará rompendo dois tabus. Ao mesmo tempo em que conquista um cargo ainda pouco ocupado por mulheres, a maestrina lembra que os talentos goianos na música vão além do sertanejo, valorizando a cena da música erudita no Estado.

A conquista de agora começou ainda na infância. A música está em sua vida desde os 8 anos de idade, quando ela passou a ter aulas particulares de violão. Aos 10 anos, Katarine entrou no curso de piano do antigo Veiga Vale, o cerne do que viria a ser o Instituto de Artes Basileu França. Como a instituição estava em fase de transição, ela passou a integrar o coral, e logo passou a se interessar pela regência. “Eu tinha 14 anos, nem entendia direito o que era, mas o trabalho do maestro me cativou muito", recorda-se Katarine.

Simultaneamente ao curso de graduação em piano na UFG, a jovem manteve a paixão pela batuta, ingressando na primeira turma de regência do Basileu França. Infelizmente, por causa do curso na universidade, Katarine não pôde concluir essa etapa no Basileu. Ela voltou ao estudo da regência no mestrado e, há dois anos, retornou ao Basileu, mas dessa vez como assistente da Orquestra Sinfônica Jovem.

Batuta

Na nova fase de sua carreira, que começa em janeiro, como maestrina assistente da Orquestra Experimental de Repertório, Katarine Araújo pretende se dedicar também aos estudos. Ela quer tentar doutorado, mas não descarta a possibilidade de, após o contrato de um ano, voltar a Goiás, um terreno que a artista considera fértil

para a música erudita. “A gente já tem uma história, não tão longa quanto São Paulo e Rio, claro, mas nós temos uma história com a música erudita aqui também. Temos formado músicos aqui que vão para esses grandes centros.

Falta divulgar isso para o resto do País, porque o trabalho que tem sido feito aqui é magnífico. Só falta ser descoberto", defende a maestrina.

Mulher

Além da pouca idade, Katarine reconhece que, por ser mulher, os desafios são ainda maiores. “São poucas as orquestras que abrem espaço para jovens regentes e para mulheres, principalmente. Há dificuldades de espaço porque nenhum maestro cede a orquestra assim para outro regente e, ainda mais, jovem. A regência é uma carreira que você geralmente atinge o ápice lá pelos 60 anos, quando está bem experiente", comenta a maestrina.

Em pleno século 21, reconhece a jovem, o estranhamento em relação a uma mulher como regente continua a ser uma realidade. “Ainda não é algo comum. Os grandes regentes ainda são, em sua maioria, homens, e existe uma tradição. Mas as mentes estão se abrindo", opina a maestrina.

“Eu sinto um estranhamento maior nem tanto por parte do público, mas às vezes dentro das próprias orquestras, que abrigam pessoas ainda muito tradicionais e conservadoras", observa Katarine. Além do próprio talento e determinação, ela se mira em exemplos como da norte-americana Marin Alsop, que desde 2012 é regente titular da Orquestra Sinfônica de São Paulo, uma das principais do País, e da mexicana Alondra de la Parra, regente e diretora musical da Queensland Symphony Orchestra, dos Estados Unidos.