Não sai da boca da galera

Data: 24 de dezembro de 2015

Veículo: O Popular

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Recursos de firmação de identidade, gírias nunca saem das rodas jovens e estão constantemente sendo renovadas

 

Cristyele Oliveira (Supervisão de Rodrigo Alves)

Véi, que paia! Miga, viu o crush? Já tô shipando aqueles dois! É sempre uma tarefa complexa saber o que se passa na cabeça dos jovens, mas algumas vezes entender o que eles falam também não é muito fácil. Afinal, o que é um crush e o que é shipar?

Se a adolescência é a fase de construção da imagem e identidade, a língua é fundamental no empenho para se encaixar e se individualizar. Ao se identificarem com determinados grupos, os jovens usam a linguagem para criar códigos que os reconhecem entre si e os distinguem dos demais.

De acordo com o professor e coordenador dos cursos de Letras da UFG, Israel Trindade, a gíria nada mais é do que uma demarcação de áreas linguísticas identitárias, algo que se aplica a todos grupos sociais. “Isso pode ser observado no futebol, na política, na polícia, entre as manicures”, destaca o professor.

Apropriação

Usar expressões diferentes, dar nova significação a palavras e criar novos termos é algo que existe desde o princípio da língua, explica Israel Trindade. Por isso, gerações que chegam podem se apropriar de expressões e lhe atribuir novos significados de acordo com a realidade em que vivem.

Muitas gírias podem fazer sucesso, mas também cair no esquecimento, lembra o professor. A aceitação delas no grupo é fundamental para que sobrevivam e até passe de geração a geração ou ainda extrapolem os limites de suas tribos (surfistas, skatistas, hippies). A comunidade gay, por exemplo, teve forte influência na firmação e difusão de gírias vigentes hoje.

Muitas destas palavras são apropriação de outras línguas, caso de crush, stalkear, nice, cool, top e tantas outras (veja significados no quadro). “Atualmente, assistimos a uma invasão de palavras e expressões inglesas, principalmente pelas tecnologias da internet”, observa Israel Trindade.

Ele afirma que o empréstimo de palavras pode ser motivado por diversos fatores, de necessidade (por não existir correspondentes) a modismo. Em tempo, se você ainda está tentando entender as expressões do início desta reportagem, fique sabendo – e use em sua próxima conversa descolada – que crush é um “interesse amoroso” e shipar é “torcer por um casal”.