“A participação da juventude na política é insuficiente”, afirma jovem historiador

Data: 11 de janeiro de 2016

Fonte/veículo: Diário da Manhã

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A participação dos jovens em assuntos políticos já trouxe grandes mudanças para o país

POR Maria Teresa Dorneles Franco

11/01/2016 às 22:34 PM

 


 

Historicamente falando, a participação de jovens em questões políticas se mostrou muito efetiva. Caso procuremos, mesmo em situações particularmente recentes, vemos que os jovens que têm sua vida voltada para os interesses políticos se mostram determinados e dedicados não apenas a ideais que favorecem sua categoria, voltada mais para o público estudantil, como também um infinito de melhorias sociais.

 

Um bom exemplo dessa participação política da juventude são os protestos do movimento passe-livre. Ele teve início em 2013, em São Paulo, quando discutia-se o aumento do preço das passagens de ônibus. Nesse período, a tarifa da passagem de ônibus sofria, no estado de Goiás, um aumento do valor de R$ 2,20 para o acordo final de R$ 2,80.

 

O estudante do curso de história da Universidade Federal de Goiás (UFG) e diretor de relações institucionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, de 22 anos, participou do movimento passe-livre. Ele fala como tomou gosto pela política quando ainda estava no ensino médio e sobre sua participação no movimento.

 

Iago fala que, apesar de já ter melhorado muito, a participação de jovens ainda é insuficiente, porém, por uma questão sociológica. “ Se você parar para pensar na década de 60 ou 70, quando houve principalmente o enfrentamento da ditadura, eu acho que existia uma participação maior dos jovens na política, primeiro porque se havia uma incidência maior do estado brasileiro de repressão sobre a juventude, segundo porque nas universidades tinham mais uma elite, uma classe média que tinha mais disposição de se envolver com política, hoje em dia a gente acabou desenvolvendo uma sociedade mais individualista, mais neoliberal que acaba afastando o jovem da política” explica. Ele ainda ressalta que como as classes mais populares estão começando a ingressar nas universidades, essas classes tem muitas obrigações extras e, por isso, muitas vezes ficam afastados dessa política.

 

Apesar da afirmação, o jovem historiador fala que não estamos tão ruins assim. “Eu acho que tem muitos jovens que ainda se involtem [com a política], muita  gente que não sabe como se envolver”, conta Iago.

 

O estudante Douglas de Santos Mattos, 18, é estudante de Gestão da Informação e faz parte da União da Juventude Religião (UJR), ele explica que a participação dos jovens em assuntos que envolvam política não é de importância apenas em abrangência nacional, mas mundial, pois esses jovens são o “futuro”. “Não adianta de nada apenas alguns estudantes e elegerem quem faria um excelente papel, enquanto a massa, sem conhecimento, não ajuda nas melhores escolhas,  temos a necessidade de construir uma juventude mais consciente, mais participativa e preparada para as políticas atuais e futuras”, explica.

 

Sara Macedo de Paula, 20, estudante de Direito na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC) e fundadora do Movimento Feminista Olga Benário, movimento formado por estudantes da faculdade, concorda com o ponto de vista de Douglas e ressalta. “É evidentemente necessário a presença da juventude, que além de trazer experiências novas, tem cara de rua, de povo, e política é em função do povo”.

 

As palavras dos jovens tem certo fundo argumentativo, pois, cada vez mais, vemos que existe um certo desinteresse em ler ou procurar mais profundamente sobre assuntos que envolvam política. Uma prova disso é que no meio do ano passado a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Esther Solano, e o filósofo Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP), fizeram uma pesquisa com mais de 570 pessoas em um protesto contra o governo. O resultado mostrou que quase metade dos manifestantes confiavam mais em redes sociais, como o Whatsapp e o Facebook, que nos telejornais. As redes sociais receberam a confiança de, respectivamente, 26% e 47% dos manifestantes, enquanto o Jornal Nacional, icone em telejornalismo no país, perdeu a confiança de 37% deles.

 

Douglas fala também sobre como falta nos jovens de hoje o conhecimento não só de política, mas também de cidadania. Ele defende que a cidadania ainda é ensinada nos colégios e/ou pelas famílias, mas que muitos chegam “perdidos” nas universidades quando se trata de política.” A juventude não costuma receber tal educação, digo isso por ver bastante na sociedade isso, além de ter acontecido comigo, fora alguns professores meus, que conheci já no final do Ensino Médio, onde comecei a questionar muitas coisas, tirando eles, eu jamais tinha recebido educação política”, fala Douglas.

 

Quando Questionados sobre o que seria necessário para que os jovens se envolvessem mais em assuntos políticos, os estudantes tiveram respostas bem parecidas, cada um voltado para sua área. “Eu acho que o governo deveria ter mais políticas públicas para estimular isso, realizando mais atividades, mais conferências, que pudessem debater os mais diversos temas, já melhorou muito, há 10 anos atrás você não tinha essas conferências de juventude como vemos hoje, mas ainda precisa de mais, precisa ter também a democratização dos meios de comunicação, que hoje em dia são monopolizados e emitem uma opinião conservadora”, afirma Iago.

 

“Políticas sociais seriam um boa pra colocar em prática agora, mas acho que a maneira de resolver esse problema a longo prazo é a educação, desconstruir isso [machismo] desde o nascimento”, fala Sara em relação ao desincentivo da participação de mulheres na política e sobre a desconstrução do machismo.

“Propagação do assunto, educação política em casa e em escolas, busca de uma mídia menos conservadora e voltada para um certo lado político a qual a favorece melhor, acredito que isso seria um começo interessante a ser analizado”, se expressa Douglas.

 

Preconceitos políticos

 

Ainda hoje existem muitos preconceitos em até definições políticas. Muitas vezes os jovens são criticados por “não terem experiência suficiente” ou mesmo pelo simples ato de defenderem suas causas.

 

Douglas faz parte de um partido socialista, que desde o período da guerra fria sofre constante repressão, na época empregada por interesses militares e hoje por resquícios desse aprendizado. O socialismo também tem uma visão ruim devido a constância que teve muitas vezes em se tornar uma ditadura na tentativa de sua aplicação, temos como principal referência nos dias de hoje, Cuba. O aprendizado que declara o socialismo e o comunismo algo ruim misturado com o repúdio da população a palavra “ditadura”, faz com que muitos achem que tais sistemas sejam opressores e cruéis, tentando evitá-los e condenando seus seguidores.

 

“O socialismo e o comunismo foi difundido para as pessoas de forma bem erronia, não só pelos ditos sistemas ditatórias, mas também pelo conceitos, pelo o que é na real forma o socialismo e o comunismo, por isso acaba sendo bem chato vermos pessoas que necessitam e apoiam uma causa de cunho de esquerda, e xingam totalmente quem é da esquerda, por falta de conhecimento histórico”, afirma Douglas.

 

O preconceito não atinge apenas um lado. Vemos também extremistas de esquerda que acham que toda e qualquer decisão tomadas pelos “coxinhas” é algo a se questionar. Um bom exemplo de projetos de lei sugeridos por militantes de direita é o que de que professores de cargo público devem ter um salário mais elevado, que corresponda com seu nível de formação acadêmica.

 

A luta de Sara, por sua vez, é a participação dos direitos das mulheres e o incentivo a sua participação na política. Feministas sofrem muito preconceito devido a falta de conhecimento muitas vezes até de outras mulheres que não entendem suas bases. Elas são julgadas também devido as práticas de grupos feministas, que, diferente do feminismo, tenta pregar que a mulher é superior ao homem.

 

Sara fala de como a participação da mulher na política é pequena. Ela cita como exemplo o Congresso Nacional que tem apenas 8% de membros do sexo feminino e todas “laranja”, segundo a estudante. “O machismo é uma pauta estrutural, ou seja, influencia todas as culturas de um modo subjetivo, matando cada vez mais mulheres, ou seja, o tema feminismo deve ser cada vez mais colocado como identidade da mulher, porque para termos direitos políticos, infelizmente precisamos gritar que existimos” protesta.

 

Iago explica que essas desavenças existem em todas as áreas, independente de que “lado” você esteja, mas fala também que a criação de movimentos que defendem casos específicos, como no caso de Sara, são ótimos para introduzir e instruir interessados a esses grupos políticos. “Esses coletivos com pautas específicas são formas muito boas de convidar as pessoas, principalmente porque eles dizem respeito a grupos que são socialmente marginalizados, excluídos, ou que sofrem uma determinada opressão ao longo da nossa história” afirma.

 

Iago fala também que mesmo com as diferenças tanto nos grupos quanto nas bases de conhecimento e defesa política ainda existem vertentes de unificação entre elas. Ele afirma também que quando o assunto é relacionado a sociedade a “unidade” é importante. O historiador usa o exemplo da pauta da redução da maioridade penal para exemplificar tal união, “A pauta da redução foi uma pauta que conseguiu unificar todos os setores da esquerda e, inclusive, setores da direita. Teve o juventude o PMDB, do PSDB que era contra a redução”.