Oferta cresce, mas é insuficiente

09 de fevereiro de 2016

Fonte: O Popular

Link da matéria: http://www.opopular.com.br/editorias/economia/oferta-cresce-mas-%C3%A9-insuficiente-1.1034871

 

Produzir sem insumos químicos não é fácil nem rápido e requer convicção do agricultor

 

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De 2010 para cá, o consumo de produtos orgânicos em Goiânia aumentou 30% a cada ano. Produtores locais não conseguem atender a demanda e novos interessados buscam ingressar na atividade. A Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica (Adao) diz que o número de produtores certificados deve saltar de 12 para 27 ainda este ano, com tendência de atingir 50 em 2017.

O que move esse vigoroso aumento é a preocupação com a saúde. Orientações de médicos e nutricionistas são os maiores fomentadores desse mercado. Produtores contam que nas feiras de alimentos orgânicos não existe a hora da xepa (fim de feira quando os preços ficam mais em conta). Muitos produtos acabam logo no início das vendas.

Em Goiás a produção de alimentos livres de agrotóxicos ainda é tímida, se comparada à agricultura tradicional. São 30 mil hectares de cana-de-açúcar, dois mil hectares de soja e menos de mil hectares para hortifrutis.

Em todas as feiras, sempre aparecem dois ou três interessados em entrar na atividades. Segundo o produtor e professor de entomologia da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Paulo Marçal Fernandes, geralmente são pessoas simpáticas à filosofia orgânica. “A primeira coisa que procuramos saber é se estão procurando por conveniência ou por convicção. Se for por conveniência não é bem-vindo”, diz. Ele explica que, primeiro, a pessoa se torna orgânica depois a propriedade rural.

Em seguida, a Adao oferece assistência técnica gratuita e entrada no grupo de certificação. Na prática, é agendada uma primeira visita de reconhecimento de técnicos do Instituto Biodinâmico (IBD) – maior certificadora de produtos orgânicos da América Latina – ao local e, se não houver graves problemas, o certificado de culturas anuais pode sair em 12 meses. Frutíferas demandam 18 meses. Para vender para o mercado externo, o período de carência é de até três anos.

“É um mercado crescente, hoje 80% do que produzimos é vendido nas feiras e ainda temos que abastecer restaurantes, supermercados e as vendas diretas”, explica o presidente da Adao, Ricardo Máximo.

Orientação

Para embrenhar no mundo orgânico é importante que o interessado busque informações sobre as normas legislativas – a internet e cursos no Senar são considerados boas fontes de informação.

A escolha de um bom terreno dá celeridade ao procedimento. Isso porque, quanto maior a presença de elementos químicos encontrados no solo, maior o tempo de carência para “limpá-lo”. Por isso, produtores costumam procurar áreas isoladas.

Segundo Marçal, o principal processo é atingir o equilíbrio físico, químico e biológico do solo. Em média, esse processo dura dois anos. Para tal, é preciso fazer análise do solo e adicionar a quantidade necessária de adubos para promover o melhoramento. “Se o solo não estiver equilibrado, não teremos plantas equilibradas que, por sua vez, terão mais incidências de pragas. É como o nosso corpo.”

Esse é um dos aspectos mais melindrosos. Não há pacote ou receita pronta. A assistência técnica é local e individual. Solo, altitude, relevo e peculiaridades da região são devidamente analisados. “Inclusive a carência de assistência técnica é um dos gargalos do setor”, diz. O outro é a falta de pesquisa. “As pesquisas são feitas pelos pequenos, não há investimento para o orgânico, só para os alimentos convencionais”, critica.

Entretanto, outros tipos de cuidados são necessários. Nunca uma cultura deve ser plantada duas vezes consecutivas no mesmo local. A rotatividade é fundamental para a diminuição de pragas e a melhora do solo.

O terreno também não deve ficar exposto. A proteção com palhada ou outras plantas é importante para sua conservação. O plantio de cada cultura deve respeitar sua época propícia. Por isso, é necessário bom planejamento.