Tinta domina a cidade de Goiás

Data: 06 de fevereiro de 2016

Fonte/Veículo: O Popular

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Além de homens vestidos de mulher e vice-versa, brincadeira com tintas tomou conta do local

06/02/2016 06:00Marcello Dantas

Parte tradicional dos festejos na antiga capital do Estado, homens se vestiram de mulher durante o Bloco da Alegria

Sarah Teófilo

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Homem com roupas de mulher e mulher com roupas de homem está longe do que o Bloco da Alegria, ou Bloco dos Sujos – que um dia foi apenas o Bloco do Zé Pereira – mostra durante o carnaval. O rastro por onde o grupo passa é fácil de identificar: apenas siga a tinta. O grupo saiu do local de concentração ontem à noite por volta das 18h30 e andou pelas ruas da cidade de Goiás até chegar à praça de eventos. E não dá para negar: o que não falta é alegria.

A festa engloba todas as idades. Crianças correm de um lado para o outro com garrafas de refrigerante cheias de tinta, jogando umas nas outras. Quem não quer se sujar que não vá ao bloco. O evento todo é organizado pela Escola Mocidade Independente do João Francisco, especificamente por Josimar Bruno, de vestido amarelo e uma peruca comprida. Para o carnavalesco, são meses de dedicação até a época do carnaval. “Metade do meu ano é voltado para a festa. São meses de ensaio e organização das roupas”, explicou. E completou: “Mas a minha alegria maior é estar aqui.”

E é a alegria de muito mais gente que vai a Goiás todos os anos para prestigiar o bloco e os desfiles das escolas de samba, que ocorrem amanhã. É o caso de Jakelline Porto, 20 anos, que mora em Trindade mas não perde o evento por nada nesse mundo. “Chega sexta-feira e eu já aviso no trabalho que vou para Goiás.” Ela estava junto com um grupo de amigos, dentre eles Igor Felipe, ou Elsa, do desenho Frozen. “Isso aqui é para congelar a homofobia”, disse o estudante de Design Gráfico da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Maria Abadia do Nascimento, de 47 anos, e Cássia Cristina de 51, são naturais de Goiás e aproveitam todos os anos o carnaval, sem perder um sequer. Elas explicam que vestir homem de mulher e mulher de homem é uma tradição muito antiga que ninguém sabe ao certo porque, mas todos os anos não deixam de fazer. Quando eram criança, contam que no carnaval um homem era escolhido para guiar o bloco. E a brincadeira era gritar para ele frases como “Zé Pereira capeta sem rabo”, o que fazia o homem correr atrás da pessoa com um pedaço de pau, ou mesmo guarda-chuva. “A gente era criança, morria de medo, mas gritava”, conta Cássia.

A tradição do Zé Pereira, de acordo com Cássia, acabou há um tempo. Mas muitos continuam a se vestir com as roupas do sexo oposto para lembrar um pouco do Zé Pereira. Para Cássia e Maria, pouco mudou com o decorrer dos anos. O público ficou mais jovem, mas a alegria é a mesma. A intensa programação continua até o próximo dia 9. Amanhã os moradores e visitantes da Villa Boa vão contar com o show da dupla Israel e Rodolfo para o fechamento do dia.

Público

Tirando o Bloco da Alegria, o movimento não era intenso na cidade. Nas ruas paralelas, moradores sentados nas portas de casa, conversando entre si em um clima de cidade do interior. O tenente Nascimento, da Polícia Militar, explicou que de fato o município está menos movimentado do que o costume.

Entretanto, com a não realização de carnaval em muitas cidades das proximidades, é provável que amanhã e nos outros dias as pessoas migrem para fazer a festa em Goiás. “Eu percebi, inclusive, que a GO-164, de Faina para Goiás, está com um fluxo intenso de carros.”