Projeto social cuida de famílias que viviam no lixão

Data: 01/08/2016

Fonte/Veículo: Diário de Aparecida

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Para uma parcela da sociedade – a que possui emprego, moradia fixa, boa alimentação e lazer – há uma realidade totalmente desconhecida, de milhares de pessoas que perambulam pelas ruas à procura de alimentos e coisas que possam ser reaproveitadas do lixo. Por muito tempo essa foi a realidade da comunidade que habitava a região antigamente conhecida como Vila Papel, onde era depositado todo o lixo recolhido na cidade.

O lixão de Aparecida era fonte de sustento de centenas de famílias, que sobreviviam dos restos que eram jogados fora por outras pessoas. Um cenário de máxima tristeza e banalização da vida, ignorado pelo poder público e pela população, onde seres humanos se misturavam ao lixo e se expunham a todo tipo de periculosidade oriunda da falta de saneamento e da exposição a materiais em condições precárias de uso.

Felizmente, nem toda a sociedade é alheia aos problemas do próximo. Graças a alguns jovens universitários, a realidade dessas famílias passou por significativa mudança. Marcos Antônio da Silva é um dos seis estudantes que tiveram a ideia e a iniciativa de ser voluntário em um projeto que traria dignidade a 174 famílias.

“Em 2013, em uma reunião rotineira entre amigos, chegamos à conclusão de que deveríamos deixar as críticas filosóficas e ideológicas e tomar decisões concretas que melhorassem a condição de vida das pessoas. Foi quando resolvemos visitar o lixão e nos deparamos com uma realidade que não sabíamos que existia”, conta Marcos, que tem 25 anos, estuda Ciências Econômicas na Universidade Federal de Goiás (UFG) e é coordenador do projeto.

Desse encontro nasceu o Crisálida, que começou a acompanhar as famílias do lixão e oferecer ajuda tanto material como psicológica e afetiva. O grupo começou o trabalho discretamente, doando cestas básicas às 174 famílias que viviam na Vila Papel. “Com o passar do tempo notamos que aquilo era pouco, aquelas pessoas precisavam de muito mais que alimento. O envolvimento com o tráfico era muito grande, então começamos a participar da rotina deles e identificar pontos que poderiam ser melhorados”, pontua o voluntário, que diz que a primeira coisa a se fazer então era extinguir o lixão.

Fim dos lixões

Desde 2010 está em vigência a Lei 12.305, de âmbito nacional, que instituiu a política de resíduos sólidos. A norma busca soluções para o destino incorreto dado ao lixo e decreta a proibição de lixões a céu aberto em todo o País, tornando obrigatória sua substituição por aterros sanitários como medida de proteção ambiental.

Para se adaptar à regra, em 2014 a Prefeitura de Aparecida de Goiânia acabou com o lixão e, por meio de uma parceria com os voluntários da Crisália, fundou a Cooperativa de Catadores de Material Reciclável (Coocap). Foram cedidas 68 casas aos trabalhadores que quiseram continuar trabalhando com reciclagem na cooperativa.

Marcos conta que a partir daí condições mais humanas foram dadas aos catadores. “Hoje, todo o lixo trabalhado faz parte da coleta seletiva do município, que recolhe os resíduos em cerca de cem bairros. Os trabalhadores possuem equipamentos de proteção individual e não estão mais expostos aos riscos de antes”, explica.

Realizando sonhos

Mais que alimentar as famílias, a obra comunitária realiza sonhos. Marcos conta que por diversas vezes viveu situações emocionantes durante as ações do grupo, e uma delas foi com o senhor João Batista, que vive o Crisálida desde o início. O primeiro carrinho de brinquedo que ele ganhou foi quando já tinha mais de 50 anos, em um Natal promovido pelo projeto que presenteou as crianças do antigo lixão.

“Seu João nos abordou e disse que viu os presentes dentro do carro. Ele sabia que eram para as crianças, mas nos pediu que déssemos um para ele, porque em toda sua vida nunca havia ganhado um presente assim”, relata Marcos.

Outra vez, o Crisálida levou as famílias para um dia de diversão em um espaço de brinquedos, em Goiânia, e ouviu-se de uma criança de oito anos que aquele era o melhor dia de sua vida. “São essas demonstrações que dão sentido ao nosso trabalho. O mundo fala tanto em sonhos, mas é difícil sonhar quando a vida não lhe dá condições para isso”, ressaltou o jovem.

Hoje eles ajudam cerca de 60 famílias e sempre estão necessitando de doações. “Para quem se interessar em conhecer e ajudar nosso projeto, basta nos procurar nas redes sociais, onde estamos presentes com o nome ‘Ação Nova Cultura’”, concluiu Marcos.

Reconhecimento

Aparecida de Goiânia faz parte do G100, que são os cem municípios brasileiros com maior índice de vulnerabilidade social. Para combater esse número, os voluntários procuraram ajuda junto a políticas nacionais que visam acabar com a extrema pobreza no Brasil.

O projeto Crisálida

Informar, Formar e Transformar foi inscrito, juntamente com outros 103 projetos de todo o País em uma ação do governo federal que estuda e acompanha organizações filantrópicas no intuito de transformá-las em atividades nacionais.

Os jovens, que hoje contam com uma média de 150 voluntários – número bem diferente do grupo de seis pessoas do início – foi aprovado em 1° lugar e será acompanhado durante todo o ano de 2015 e 2016. “Eles vão avaliar nossos resultados e nossas metodologias. Se forem considerados bons, eles irão incorporá-los como política pública nacional, e a gente tem condição de ser referência nacional nessa área”, adianta. (Danielle Borges)