Para não esquecer: do filme doméstico ao filme-ensaio

Data: 09/09/2019

Fonte/Veículo: Diário da Manhã

Link da notícia: https://impresso.dm.com.br/edicao/20160910/pagina/31/conteudo/cultura/2016/09/para-nao-esquecer-do-filme-domestico-ao-filme-ensaio.html

 

Que foi selecionado para a 18ª Muestra Internacional Documental de Bogotá MIDBO

Para não esquecer, filme dirigido pelo pesquisador e realizador Rafael de Almeida, professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), teve sua estreia no final de setembro durante o 14º Vancouver Latin American Film Festival. O festival canadense selecionou 15 obras entre os melhores da América Latina para compor sua seção competitiva de curtas.

O curta-metragem foi selecionado agora para 18ª Muestra Internacional Documental de Bogotá (MIDBO), que acontece de 24 a 30/10, na capital colombiana. O evento contará com a projeção de documentários colombianos e estrangeiros de alta qualidade artística, mostras especiais com a presença de seus diretores, atividades acadêmicas e de formação com convidados nacionais e internacionais.

O filme é um desdobramento direto de projeto de pesquisa, sobre as relações entre o filme-ensaio e o filme de família, desenvolvido pelo realizador junto ao curso de Cinema e Audiovisual da UEG e ao Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, onde Rafael de Almeida desenvolve seu pós-doutorado.

Dentre as atividades acadêmicas destaca-se o Seminário Internacional Pensar lo real, que integra a programação, onde o professor apresentará a comunicação “Entre a chegada e a partida: reciclagens do cinema doméstico no filme-ensaio”, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

Registro e memória

Para não esquecer é um curta-metragem que busca traçar uma reflexão sobre os valores que permeiam a experiência do ato de fotografar na sociedade contemporânea em sua relação com as memórias de viagem. Em uma inversão de papéis, os registros de viagem se tornam mais importantes que viver a experiência de viagem, algo que se intensifica pela difusão da tecnologia digital.

A obra resgata imagens de arquivo domésticas realizadas pelo diretor (em vídeo digital e super-8 mm) em nove países – França, Alemanha, Itália, Malta, Marrocos, Portugal, Espanha, Inglaterra e Brasil – para tecer uma narrativa audiovisual ensaística, em que aos poucos o olhar vai se desviando das paisagens em si para esse fenômeno de registro compulsório dos sujeitos presentes na paisagem. Com o auxílio de uma voz off do próprio realizador, a intenção é refletir sobre o quanto essas fotografias interrompem o fluxo da vida para tentar impedir, por meio do registro, que o esquecimento apague da mente imagens (quase) vividas.

No mundo em que vivemos a fotografia, que sempre atuou enquanto instrumento de memória, transmuta-se em um dispositivo do esquecimento. A fotografia como memória-prótese: fotografa-se não mais para arquivar aquele instante, mas para esquecer tranquilamente, com a possibilidade de revisitar essa imagem quando houver tempo suficiente para isso.

Nesse sentido, de alguma maneira, o filme reflete sobre quais são os valores dos indivíduos em seus momentos de lazer e viagem, quando podem simplesmente desfrutar de um momento de descanso distante do ambiente de trabalho. Tendemos a crer que a lógica capitalista que impulsiona os movimentos do mundo, gerando tão raros instantes de liberdade e descanso, altere a preocupação dos indivíduos da vivência da experiência para o simples registro compulsório da mesma. Sendo assim, o dispositivo fotográfico atua como um aliado que permite erroneamente ao homem contemporâneo quantificar pelo número de fotos a qualidade da experiência vivida. Enquanto, na realidade, o que percebemos é que a mediação do aparato fotográfico, por um lado, impede o contato direto do olhar do sujeito com a paisagem e, por outro, o induz a narcisicamente inserir-se no registro que faz da paisagem, ao invés de apreciá-la no tempo que possui.

 

Sobre o diretor

Rafael de Almeida é realizador e pesquisador de cinema e audiovisual, doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, professor efetivo do curso de Cinema e Audiovisual da UEG. Também desenvolve projeto de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual na UFG. Dirigiu alguns filmes de curta-metragem, entre os quais, CarrosselA saudade é um filme sem fim Impej. Seus interesses artísticos e científicos estão centrados hoje nos diálogos entre o cinema documentário, o filme-ensaio e o filme de família.

A obra resgata imagens de arquivo domésticas realizadas pelo diretor em vídeo digital e super-8 mm

A obra resgata imagens de arquivo domésticas realizadas pelo diretor em vídeo digital e super-8 mm