Orquestra Filarmônica interpreta sons das cidades

Data: 15/09/2016

Veículo/Fonte: Diário da Manhã

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Filarmônica une peças menos exploradas em concertos que retratam as cidades

Steve Reich, um dos maiores compositores eruditos da atualidade, flerta com o minimalismo

As cidades costumam atrair olhares. Por isso moradores e turistas gostam de observá-las. A pintura, fotografia e cinema são artes mais acostumadas a revelar a beleza e riqueza humana de cada localidade. Toulose-Lautrec e gênios do cinema como Woody Allen descreveram sons, cores e formas de cada centro urbano.

A arte que menos habita os centros urbanos é a música – mais notadamente a música erudita. Apesar de temática difícil e complexa, a leitura das cidades por meio de sons costuma render bons discos e apresentações.

É este o interesse da Orquestra Filarmônica de Goiás, que apresenta nesta quinta-feira, 15, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, um concerto que foca as cidades e composições inspiradas nelas. A apresentação é diferente do habitual. E une músicas de ‘cores’ diferentes.

Sob a regência de Neil Thompson, serão apresentadas obras que buscam transmitir – por meio da música – as características que estão presentes na vida urbana dos grandes centros.

O concerto  desta noite terá a “Sinfonia n. 31”, em ré maior, de W. A Mozart.  Apelidada de Sinfonia Paris, a obra tem um lépido início em ‘allegro assai’. Começa com um ré oitavado em semibreve (nota bastante demorada) e segue com mais três marcações vivas de ré e se desenvolve na escala consonante, de ré médio ao ré mais agudo. Depois expõe um desenvolvimento expressivo e bastante clássico, no sentido organizacional da composição mozartiana.

Enquanto os violinos fazem toda a escala oitava (de ré a ré),  oboé, clarinete e fagote apenas anunciam as notas oitavadas iniciais (justamente as mais cheias e enunciativas).

A composição tem quatro movimentos: allegro assai,  andante, alegro e andante. O mais belo é o intermediário andante, que mostra um Mozart aos modos franceses, educado, otimista e refinado.

Mozart foi para Paris em busca de sucesso e dinheiro. Todavia, recebeu poucas encomendas musicais.  Para piorar, a mãe que o acompanhava na viagem ficou doente, deixando o compositor preocupado em sua estadia em Paris. Tanto a sinfonia 31 quanto a 32 mostram um Mozart maduro e cheio de musicalidade, adstrito a pegar só o que o tornava feliz ao seu redor.

Outra peça que será apresentada pela Orquestra Filarmônica de Goiás diz respeito a Londres, com a abertura de “Cockaigne”, escrita pelo compositor Elgar. A música remete ao estilo de vida da cidade, principalmente ao aspecto da boemia, da gula, das animadas refeições. Surgem imagens religiosas (sinos), sons de banda (Exército da salvação), com grande sentido orquestral.  A música começa em um forte 4/4 e se desenvolve para expressivos fraseados em dó maior.

Traduzida para Cocanha, “Cockaigne” é uma referência a um país mitológico popular na Idade Média. Nele, não havia trabalho e o alimento, a bebida e o sexo era abundante. Talvez seja esta a referência desejada por Elgar ao significar o termo e o relacioná-lo com Londres.

SONORIDADE URBANA

Do contemporâneo Steve Reich, a orquestra interpreta “City Life”, a composição mais diferente da noite, pois flerta com o minimalismo e musicalidades contemporâneas. Escrita em 1995, a peça é uma aventura nos sons da cidade moderna e traz colagens, sirenes (ao estilo de Edgar Varése) e sonoridades pops  aliadas a frases instrumentais que colocam a música mais como um retrato da instrumentalidade não erudita – em muitos momentos, relembra as ousadias sérias de Frank Zappa, talvez mais profícuo do que Reich nesta tentativa de fazer música erudita na cidade.

Por fim, a orquestra goiana interpreta o Poema Sinfônico “São Paulo”, do compositor brasileiro Orestes Farinello – artista muitos estudado e reverenciado nos círculos musicais goianos.

A Orquestra Jovem de Goiás já tem interpretado insistentemente a obra de Farinello.  O autor foi tema de mestrado de Eliseu Ferreira da Silva, na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (UFG).

É uma música moderna, mas com grande apreço às consonâncias e frases belas. A composição retrata, de certa forma, o olhar de Farinello para São Paulo e sua religiosidade. Sons de sinos marcam o drama da cidade, junto aos movimentos apaixonados dos violinos empolgados com arpejos, marcando  paisagens através de percussões.

Concertos Especiais – Vida na Cidade

SERVIÇO

Data: 15 de setembro de 2016

Horário: 20h30

Local: Centro Cultural Oscar Niemeyer

Programa:

  1. A. Mozart: Sinfonia No. 31, K. 297(300a), “Paris”
  2. Reich: City Life
  3. Farinello: São Paulo ( Poema Sinfônico)
  4. Elgar: Overture “Cockaigne” (In London Town)