Cursinhos populares surgem para atender pessoas de baixa renda

Data: 26/09/2016

Fonte/Veículo: Jornal O Hoje

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As iniciativas sobrevivem de doações e são realizadas com trabalho voluntário

Entrar em uma universidade é um direito de todos e um sonho de muitos, porém, grupos mais privilegiados social e economicamente são os que possuem mais chances de passar no vestibular. Sabe-se que o sistema de cotas e as políticas afirmativas adotadas pelas instituições nos últimos anos estão modificando essa realidade e, neste contexto, professores e estudantes de licenciatura tentam ajudar jovens e adultos de baixa renda a entrarem no ensino superior por meio dos cursinhos populares.


É com o objetivo de viabilizar a aprendizagem de estudantes que não conseguem pagar por um curso preparatório para o Enem e vestibulares, que os cursinhos populares surgem, a partir do trabalho voluntário de professores e estudantes de graduação que acreditam na transformação pela educação. Há 11 anos o Cursinho Popular Comunidade FazArte tem cumprido essa premissa. Fundado por estudantes, professores e artistas da Universidade Federal de Goiás (UFG), o cursinho atende cerca de 100 alunos por período.

O Educador Popular Nicolas Arantes é um dos coordenadores do projeto e integra o quadro de 15 professores. Ele leciona aulas de biologia e tem orgulho das ações desenvolvidas, “acho incrível estar ao lado de lutadores e lutadoras populares que constroem, lado a lado com a classe, um projeto de educação e sociedade mais justa. Precisamos fortalece-lo cada vez mais!”, afirma.
 
Amanda Karly, 22, conheceu o FazArte em 2012 e encontrou no projeto a capacitação que precisava para concorrer a uma vaga no curso de Jornalismo da UFG. “A minha experiência foi maravilhosa. Eu estudei a vida toda no ensino público, quando entrei no cursinho eu vi que não sabia quase nada, tive certeza que se não fosse o projeto não teria conseguido entrar na universidade”, relata. Ao fim das provas, o resultado: Amanda Karly constava na lista de aprovação. 

Laços

A relação entre professor e aluno estabelecida nesses projetos configura-se como um vínculo familiar. Muito além do conhecimento passado em sala de aula, a amizade, o respeito e o apoio são construídos em conjunto e faz toda a diferença na aprendizagem do pré-vestibulando. Emily é um exemplo disso. A estudante quer cursar medicina e encontrou no Projeto Educação Aberta (Prea) mais do que uma chance de reforçar os estudos, uma oportunidade de integrar a família do cursinho.

O Prea funciona em Anápolis há cinco anos com o apoio da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e atende de 80 a 120 alunos por período. O único valor cobrado deles é uma taxa de R$ 50 para a compra de uniforme e cinco resmas de papel. O professor de debates, Rodrigo Gomes, explica que a iniciativa parte da concepção de que o cursinho popular preza por uma maior liberdade de conteúdo e didática, além de proporcionar aos alunos mais senso crítico.

Emily concluirá o Prea no fim do ano e já garantiu uma aprovação em biologia na Universidade Federal do Tocantins (UFT) no período passado. Ela, que não tem condições de custear um cursinho particular, vê no Prea uma iniciativa a ser multiplicada para atender estudantes de baixa renda. Segundo ela, aqueles que passam nos vestibulares retornam ao Prea para servir secundaristas e devolver ao projeto aquilo que aprenderam com ele. 

Mudar o mundo

Em Brasília, o Galt, 2º cursinho voluntário a ser fundado na capital federal, recebe alunos de baixa renda das cidades satélites e até mesmo de outros estados. JakelineNunes é professora de literatura brasileira desde o início deste ano e, mesmo ocupada com o mestrado, topou participar do Galt por não querer adiar mais a vontade de colaborar no sonho da universidade pública para todos. “É incrível ver o esforço dos alunos e ainda vê-los superando tantas dificuldades para estar presente na minha aula”, diz.

As atividades do cursinho começaram em 2015 com duas turmas de 40 alunos. Hoje, o Galt trabalha com 180 estudantes e a procura é muito grande, cerca de 1.200 pessoas já se inscreveram no processo seletivo em um único semestre. No entanto, apenas 120 foram selecionados devido à estrutura do cursinho. É através de entrevistas que os estudantes de baixa renda são identificados e selecionados para as aulas.

Atualmente, a equipe do Galt é formada por 100 membros, entre professores, administrativos e psicólogos que organizam orientações vocacionais e grupos de técnicas de estudo. Todo o trabalho é voluntário e o cursinho sobrevive de doações. A experiência de Jakeline no Galt, segundo ela, mostra que há a possibilidade de mudar o mundo com a educação e que o cursinho popular é a prova disso. “Pode mudar não só a trajetória do aluno, mas também da família dele”, diz. 

Empatia

Infelizmente, não é só a renda que coloca pessoas às margens da sociedade. O preconceito, de forma mais específica, a transfobia impede o acesso de pessoas transexuais, travestis e transgêneros a espaços que já os pertencem por direito. Foi pensando nas dificuldades que mulheres e homens trans enfrentam diariamente que surgiu o Prepara Trans, trabalho realizado por pessoas de dentro e de fora da universidade, desde novembro de 2015.

O Prepara Trans é desenvolvido na Faculdade de Educação da UFG, de segunda à sexta, das 19h20 às 21h20. Vinte e cinco voluntários atendem 10 estudantes, preparando-os para o Enem e outros exames. O público-alvo do cursinho é prioritariamente pessoas trans, mas, caso sobrem vagas, o atendimento estende-se às lésbicas e bissexuais.

Gustavo de Aguiar, 19, é um dos organizadores do cursinho. Para ele, o Prepara Trans é um projeto gratificante, uma inciativa muito bonita, a qual presta atendimento específico e dá oportunidades. O Prepara Trans sobrevive de doações e seus voluntários ajudam como podem seus estudantes, seja com material, passagem de ônibus e muito apoio. Interessados em realizar doações podem depositar na conta poupança 36631-3 da Caixa Econômica; agência 1394; operação 013. Paulo Victor R. dos Santos é o nome do titular.