Estudo cataloga aves do Cerrado em Goiás

Data: 04/12/2016

Veículo/fonte: UNESP

Link direto da notícia: http://www.unesp.br/portal#!/noticia/24744/estudo-cataloga-aves-do-cerrado-em-goias/

Levantamento feito em dois anos identificou 271 espécies


Pteroglossus castanotis (araçari-castanho), registrado durante a pesquisa

Aluna de doutorado da Unesp de Rio Preto desenvolve estudo sobre comunidades de aves no Cerrado goiano. Shayana de Jesus fez um levantamento do número de espécies existentes nas áreas florestais e dos efeitos na conservação e na extinção das espécies, levando em consideração as características ambientais das florestas e das paisagens no bioma.         

"O cerrado brasileiro representa a maior e mais rica savana neotropical, cobrindo aproximadamente 20% da área do território nacional. Frente a uma onda global e catastrófica de perda de biodiversidade, e de extinção de espécies, há uma necessidade premente em se detectar os mecanismos e fatores subjacentes a esses processos. A tese de doutorado da Shayana é o resultado de um extremo esforço conceitual, metodológico, e de trabalho em campo, para se compreender o impacto das atividades humanas e da fragmentação de hábitats sobre as ricas comunidades de Aves do Cerrado Brasileiro, visando em última análise trazer subsídios para a sua preservação", diz o orientador Wagner André Pedro, orientador da pesquisa no programa de Pós-graduação em Biologia Animal da Unesp, em São José do Rio Preto.

O objetivo do trabalho é trazer novos conhecimentos da avifauna em fragmentos florestais - áreas de formações florestais interrompidas por barreiras naturais ou pela ação humana – no Estado de Goiás, compreender os efeitos da fragmentação e os fatores responsáveis pela estruturação destas comunidades na região. “O entendimento dos elementos pode auxiliar na elaboração de medidas eficazes para a conservação e manejo das espécies e de seus habitats”, diz a pesquisadora.

No Cerrado, as áreas florestais têm sido fragmentadas principalmente por conta da expansão das atividades agropastoris. De acordo com Shayana, as aves podem responder ao processo de fragmentação florestal em diferentes escalas e de formas distintas, conforme as suas exigências ecológicas e às suas diferentes percepções da paisagem.

Entre os anos de 2012 e 2014, foram realizadas amostragens em 17 fragmentos florestais. Neste período, foram coletadas diferentes medidas dos fragmentos, utilizadas para testar seus efeitos sobre as aves, em uma escala local. No mesmo momento, foram testadas as consequências em relação à avifauna, em uma escala mais ampla.

“Para o estudo, levamos em consideração que a riqueza e a composição de aves podem ser influenciadas tanto por fatores locais, quanto por características da paisagem”, explica. Muitos estudos prévios mostram que, numa escala local, os ambientes mais heterogêneos - ou seja, aqueles que possuem maior quantidade de microclimas e conjunto de recursos - podem abrigar um número superior de espécies. Outros estudos revelam que o perfil da paisagem de entorno pode ser mais importante do que os aspectos locais na estruturação das comunidades.

“Por isto, coletamos tanto medidas dos fragmentos florestais como, cobertura vegetal do sub-bosque, quanto medidas das paisagens de entorno como, cobertura florestal, para compreender os fatores que estão afetando as comunidades de aves nestes ambientes”, explica.

Ao longo do estudo, Shayana utilizou dois métodos de amostragem tradicionalmente empregados em estudos de aves: o método de captura com redes ornitológicas e a amostragem por pontos de escuta.

Os resultados apresentam 271 espécies de aves nos fragmentos florestais, pertencentes a 57 famílias, sendo que sete destas espécies são endêmicas do Cerrado. Foram registradas espécies oriundas dos biomas limítrofes: 14 da Amazônia e 17 da Floresta Atlântica.

A pesquisadora detectou o predomínio de 115 espécies dependentes florestais, aquelas que se alimentam e se reproduzem principalmente em florestas. Também foram registradas 13 espécies com sensibilidade alta aos distúrbios ambientais, quatro ameaçadas de extinção em escala mundial e oito pouco documentadas para o Estado.

Para a pesquisadora, os dados apontam que, enquanto algumas espécies podem estar desaparecendo em paisagens muito fragmentadas, outras podem estar se beneficiando destas mesmas condições ambientais. “O resultado não é a perda de espécies, mas sim a substituição de espécies entre os fragmentos ao longo de paisagens com diferentes níveis de cobertura e de fragmentação florestal”.

Ela ressalta a necessidade de desenvolver estratégias de manutenção em todo o bioma para garantir a conservação da avifauna florestal, mesmo que as áreas florestais sejam mantidas intactas. “Se a destruição das áreas savânicas e campestres persistir, os efeitos sobre as comunidades de aves florestais serão visíveis”, reforça.

Além da orientação do professor Wagner André Pedro, da Unesp, a pesquisa é coorientada pelo professor Arthur Ângelo Bispo, da Universidade Federal de Goiás. Teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), e contou com o auxílio de estudantes de todos os níveis de formação e com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás.

Contato da pesquisadora
shayanabio@gmail.com

Maristela Garmes