De cachorro mau a bom garoto

Data da notícia: 08/12/2016
Veículo/fonte: O Hoje
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Especialistas dão dicas e explicações sobre como perceber e lidar com a agressividade dos cachorros

Elisama Ximenes 

Orelhas voltadas para trás e nada de balançar o rabinho. Alguém chega perto, às vezes, inclusive, para fazer carinho, e recebe um rosnado em resposta. Se o cão estiver com alguma comida ou objeto que considere sua propriedade, a reação pode ser até pior. Chega alguém estranho em casa, e os latidos são intensos e parecem intermináveis. Carinhos e brincadeiras com ele não são bem-vindos – nem qualquer tipo de interação. Aliás, o isolamento social é uma de suas principais características. Esses são alguns dos comportamentos típicos de cães agressivos. Os motivos de ele agir assim são diversos, e é preciso saber identificá-los para, então, reeducar o animal.

Cachorros que têm histórico de maus-tratos na relação com humanos estão no grupo com tendências a ter um comportamento agressivo. De acordo com Leandro Meireles, especialista em comportamento animal e adestramento, isso ocorre porque é a forma que o cão encontra de se defender antes que o tratamento violento se repita. Mas esse não é o único motivo. Leandro explica que a principal razão para o desenvolvimento dessa agressividade é a falta de exercícios que estimulariam o gasto da energia canina. O isolamento social ainda colabora para esse acúmulo enérgico. Assim, o animal acaba canalizando essa energia para comportamentos aguerridos. “A falta de comida também é um grande motivador, porque influencia o animal a lutar pelo alimento”, exemplifica.

Para saber e perceber o que fez com que esse comportamento começasse é preciso que seja feita uma observação atenta, preferencialmente, por um especialista. “Se a agressividade for maior quando está comendo, por exemplo, pode ser um sinal de que o motivo esteja relacionado à alimentação”, explica Leandro. No caso de cães que sofreram maus-tratos, é possível notar que essa é a razão se a reação ao toque humano, independentemente da situação, for agressiva. “Por meio da observação da forma com que o cão reage e interage com pessoas, outros animais e estímulos, é possível identificar a causa”, explica o também adestrador e especialista em comportamento animal Cléber Santos, que está à frente da ComportPet.

Se as causas não forem identificadas e tratadas em tempo, o comportamento tende a piorar até que chegue ao ponto de o dono perder totalmente o controle. Leandro alerta para a necessidade de dar atenção a esse tratamento, porque, por muitas vezes, a agressividade do animal é utilizada como desculpa para aqueles que abandonam ou sacrificam os cães sem necessidade. A permanência desse quadro é prejudicial tanto para quem convive com o bicho quanto para o próprio cachorro. O início do tratamento é realizado, primeiro, com o diagnóstico do especialista em comportamento animal e, depois, com o seu adestramento. “O cachorro só pode ser adestrado depois que estiver devidamente equilibrado pelo especialista”, afirma.

Então a reabilitação é feita pelo adestrador e pode ser aliada a outra medidas – como o uso da musicoterapia. “Alguns experimentos realizados com bebês e com cães descrevem que o uso de músicas em hospitais e canis, respectivamente, reduziram a ansiedade de separação, diarreia, agressividade e choro ou latidos excessivos”, relata a médica veterinária doutora Patrícia Lorena do Hospital Veterinário da UFG. De acordo com Patrícia, a simplicidade matemática dos compassos, arranjos, previsibilidade, ritmo e volume consistentes, além das vozes dos cantores e o som de batimento cardíaco familiar presentes nas músicas, são os elementos que fazem com que a música seja um aliado nessa reeducação. Além disso, a comunicação assídua entre o animal e o dono é uma estratégia importante nesse processo.

PRINCIPAIS MOTIVADORES DA AGRESSIVIDADE CANINA

Dominância - Isso ocorre quando o animal se sente o líder da casa. Quer dizer, se o dono não se estabelecer como o chefe, o cão acaba se sentindo o líder da manada. “Por isso é importante não mimar demais o bichinho e impor regras, definir horários específicos na sua rotina para que ele entenda que tem a quem obedecer”, recomenda Leandro como forma de prevenção.

Medo - Os cachorros que se sentem amedrontados na maior parte do tempo podem utilizar a agressividade como instrumento de defesa. Por isso, o cão nunca deve ser repreendido com agressão ou gritos. “Agir dessa forma é um grande erro, pois, além de não educar o cão, o dono ainda estimula a agressividade do animal”, explica Cleber.

Marcação de Território - Quando o animal reage dessa maneira quando alguém chega perto de sua comida ou, mesmo, quando vê algum estranho em casa, pode significar que a motivação é o sentimento de territorialidade. “O ideal é demonstrar ao cão que não precisa ficar defendendo um determinado objeto. Para isso, é indicado, por exemplo, recompensá-lo com petiscos sempre que ele se mantiver calmo quando alguém se aproximar de seus objetos ou de seu território”, ensina Cleber.