Como era antigamente

Data: 14 de dezembro de 2014

Fonte/Veículo: O Popular

 

Com inauguração do Ateliê Tipográfico, UFG recoloca em atividade equipamentos antigos que dão um charme único à impressão de obras. E vem aí a reedição em linotipos de um clássico

Rogério Borges

14 de dezembro de 2014 (domingo)

 

Elas chegaram à Universidade Federal de Goiás em 1962. Os documentos da encomenda ainda existem. Um investimento e tanto para montar aquela que seria a Imprensa Universitária da UFG. Três grandes máquinas de linotipo, equipamentos que antes das sucessivas revoluções tecnológicas na área gráfica imprimiram, por décadas, todo tipo de material, de folhetos a livros.

Junto chegaram outros instrumentos para realizar todo o processo de impressão, como máquinas para picotar e encadernar, grandes guilhotinas, gravadoras para fazer capas mais complexas. Patrimônio precioso que, depois de aposentado por computadores e maquinário moderno, ficou esquecido num canto do Centro Gráfico da UFG (Cegraf). Pois agora essas peças de museu estão voltando à ativa.

A universidade acaba de inaugurar seu Ateliê Tipográfico, espaço que torna-se educativo para diversos cursos superiores, como Design, Letras e Jornalismo, e para escolas que agora têm um lugar onde possam ver como um livro era composto algumas décadas atrás. Era não. Continua sendo. O local torna-se também a primeira tipografia reativada em todo o Estado.

“Temos aqui, convivendo, a única tipografia que voltou a funcionar em Goiás e a melhor gráfica pública da região, já que estamos modernizando o equipamento do Cegraf, com a aquisição de novas impressoras de grande porte”, comemora o professor Anton Corbacho, diretor do Cegraf. Foi esse espanhol voluntarioso, aliás, que efetivou uma ideia que existia há quase 30 anos.

“Sempre diziam que tínhamos que recuperar as linotipos e que deveríamos encontrar um espaço para a preservação desse maquinário, até como peças de visitação. Resolvemos então que não deveríamos esperar a construção de um prédio para isso. Tínhamos o espaço aqui mesmo no Cegraf. Bastava remanejá-lo”, afirma. O Centro Gráfico da UFG, que fica no Campus 2 da instituição, reservava um amplo cômodo para seu estoque.

“Eram encalhes de livros dos anos 1980. Não tinha sentido mantê-los guardados aqui. Nós doamos tudo para bibliotecas e escolas, onde deveriam estar há muito tempo, e instalamos o Ateliê Tipográfico”, relata Anton. “E não para mostrar as máquinas paradas. Elas voltaram a funcionar.”

POESIA

O primeiro livro que saiu com o selo do Ateliê Tipográfico é Orchideas (sim, com essa grafia), de Leodegária de Jesus. “É uma obra muito importante e simbólica”, diz Igor Kopcak, assessor editorial do Cegraf e um dos coordenadores do projeto. “É o primeiro livro de poesias que uma autora goiana publicou.”

O original foi impresso em São Paulo em 1928 e o professor Anton o garimpou em um sebo. Como o texto já está em domínio público, o desafio era reimprimi-lo tal qual quase 90 anos atrás. Isso só foi possível nas linotipos reformadas.

O título, que mantém a ortografia original da época em que foi lançado, integra a Coleção Cidade de Goiás, que planeja reeditar mais obras importantes, mas pouco conhecidas. “É um trabalho essencial para que possamos recuperar a tradição do campo literário em Goiás”, aponta Anton.