Sequestro, roubo e morte cruel

Data: 17 de dezembro de 2014

Fonte/Veículo: O Popular

 

Soldado da PM estava com um amigo quando foi rendido. Um assaltante foi morto a tiros pela vítima

Rosana Melo

17 de dezembro de 2014 (quarta-feira)

 

O soldado da Polícia Militar Fábio Araújo Costa, de 29 anos, foi barbaramente executado depois de ser sequestrado e roubado na madrugada de ontem, em Aparecida de Goiânia. Fábio e um amigo, estudante que pediu para não ser identificado, aguardavam duas amigas na porta da casa delas no Setor Urias Magalhães. Antes da chegada das mulheres, eles foram rendidos por dois homens armados de revólveres e colocados dentro do carro de Fábio, o Voyage placas OGY-1512, de Goiânia.

Fábio foi colocado no banco de passageiro ao lado do motorista e o amigo, com o outro assaltante no banco de trás. Em um Cobalt prata com placas de Minas Gerais outros quatro homens faziam a escolta dos criminosos. Fábio e o amigo foram obrigados a ficar o tempo todo – cerca de 40 minutos – com a cabeça abaixada. “Quando tentavam levantar a cabeça para olhar onde estavam eram agredidos”, contou a testemunha ao delegado Rogério Bicalho, adjunto do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Aparecida de Goiânia.

As duas vítimas de sequestro foram levadas para uma casa, onde os assaltantes exigiram os cartões bancários e as senhas das contas. Dois assaltantes saíram com as informações para ir ao banco enquanto outros quatro ficaram com as vítimas.

De acordo com o estudante, os assaltantes mandaram os dois tirarem as roupas porque queriam “brincar” com eles. “A vítima acha que eles seriam espancados nus, pelo que os assaltantes falavam”, contou o delegado. Os dois sequestrados já haviam tirado a roupa e ficado apenas de cueca quando Fábio resolveu reagir ao assalto.

Para o delegado Fabrício Madruga, do GIH, o soldado sabia que, durante o sequestro-relâmpago, seria descoberto com a arma na cintura, sob a blusa e, com medo de ser morto, teria reagido, atirando cinco vezes com o revólver calibre 38 que portava. Ele atingiu o peito de Franchel Jony dos Santos Lima, de 30, duas ou três vezes e, em seguida, acabou sendo morto espancado e esfaqueado várias vezes pelos assaltantes.

CNH FALSA

Franchel foi levado por volta da 1h30 de ontem no Cobalt prata pelos companheiros de crime até o Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Setor Vila Nova, onde foi abandonado. Franchel estava com uma carteira nacional de habilitação (CNH) falsa no bolso e teria antecedentes criminais, segundo Fabrício Madruga.

Quando era esfaqueado, Fábio foi socorrido pelo amigo, que também foi ferido com um golpe na perna e recuou. Ambos foram algemados e colocados no porta-malas do carro. Foram uns cinco ou seis minutos dentro do carro até serem retirado. “Ele me pediu para cuidar das filhas dele”, contou a testemunha que afirmou não notar mais sinal de vida em Fábio ao ser tirado do carro e jogado em um lote na Rua C-17, no Bairro Ibirapuera, em Aparecida de Goiânia.

O estudante disse que foi jogado ao lado do corpo de Fábio. Os assaltantes ainda teriam passado com o veículo sobre a perna direita dele e quando davam ré no carro para passar novamente sobre ele, saiu correndo e fugiu pulando o muro de uma casa, onde pediu socorro e ligou para a Polícia Militar.

Ontem, após atendimento médico, a testemunha prestou depoimento e foi encaminhada ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de exame de lesão corporal e posteriormente ao Instituto de Criminalística para a confecção de retrato-falado dos prováveis latrocidas.

O corpo do policial militar começou a ser velado no início da noite de ontem no Cemitério Parque, em Goiânia, onde será sepultado, com honras militares, às 14 horas de hoje.

DEDICAÇÃO

De acordo com o comandante do36º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Sandro Mauro Pereira de Almeida, Fábio era muito dedicado, bom militar, estudioso, fazia pós-graduação em Direitos Humanos na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Ele lembrou que há um mês e meio, aproximadamente, o soldado baleou um assaltante em uma lan house no Setor Urias Magalhães. O assaltante foi preso e hoje seria a audiência na Justiça. “Pela tortura sofrida, já que não é comum matar um policial militar a facadas, nem nós nem a Polícia Civil descartamos a possibilidade de vingança”, contou o comandante.

O 36º BPM é o responsável pelo policiamento militar no complexo prisional de Aparecida de Goiânia, onde o soldado Fábio era lotado. Ele estava havia cinco anos na PM. O soldado era casado e deixa uma filha pré-adolescente. No Facebook, amigos da vítima informaram que a mulher de Fábio está grávida de dois meses, o que não foi confirmado até a noite de ontem pela Polícia Militar. Ela e a mãe do soldado tiveram de ser socorridas quando souberam da morte dele.

Carro tinha placas clonadas

17 de dezembro de 2014 (quarta-feira)

O Cobalt usado pelos assaltantes que mataram o soldado Fábio Araújo Costa, de 29 anos, foi encontrado na tarde de ontem abandonado no Residencial Araguaia, em Aparecida de Goiânia. Dentro do carro estava o revólver calibre 38 do policial militar.

A Polícia Civil foi informada pelo próprio comandante do 2º Comando Regional da Polícia Militar, coronel Mauro Sales de Araújo sobre o abandono do veículo.

O carro foi mantido no local até o fim da perícia e seria levado para o pátio do Instituto de Criminalística ou para as Delegacias Especializadas, em Goiânia.

Com placas de Minas Gerais, o carro não tinha restrições de furto ou roubo. “Pode ser clonado”, contou o delegado Fabrício Madruga, do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) de Aparecida de Goiânia. Até o início da noite de ontem, ninguém da organização criminosa havia sido identificado e preso.

A morte de Franchel Jony era investigada pelo delegado Maurício Kai, da Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH) de Goiânia, mas por ter indícios de ligação com a morte do militar, o inquérito seria remetido hoje ao delegado Rogério Bicalho, no GIH.

“Se ao final das investigações não for encontrado vínculo, o procedimento pode voltar para a DIH”, disse Fabrício Madruga.