Índio cursa mestrado na UFG para garantir melhor educação em aldeia

Data: 29 de dezembro de 2014

Fonte/Veículo: G1 Goiás

Link direto da notícia: http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/12/indio-cursa-mestrado-na-ufg-para-garantir-melhor-educacao-em-aldeia.html

 

Com melhor formação, estudante espera que indígenas mantenha sua cultura.
Ercivaldo é o 1º indígena a cursar o mestrado em direitos humanos pela UFG.

Do G1 GO, com informações da TV Anhanguera

Professor em sua aldeia, o índio xerente Dansonkekwa se esforça para concluir seu mestrado em direitos humanos na Universidade Federal de Goiás (UFG) para lutar por uma educação indígena de qualidade para que as tradições de sua cultura sejam mantidas. Para conseguir os objetivos, o indígena deixou sua casa no Tocantins para enfrentar as dificuldades da língua portuguesa e morar com outros estudantes.

Dansonkekwa se apoia no significado de seu nome para ultrapassar as dificuldades e conseguir se formar. “Meu nome significa aquele que abre o caminho, que faz a trilha”, diz com orgulho. Porém, para facilitar o seu convívio fora da aldeia, o índio escolheu usar o nome Ercivaldo.

O maior objeto é garantir que as leis relacionadas ao povo indígena sejam cumpridas, inclusive o acesso às crianças a livros didáticos na língua nativa da etnia, e não em português. “A minha busca vai ser nessa área de ser reconhecido a partir dos direitos garantidos pela constituição brasileira e nós temos esse direito. Precisa de alguém que está apto pra elaborar o plano de como que a escola seria na comunidade no dia a dia”, explica Ercivaldo.

Com isso, ele acredita que as tradições de seu povo serão mantidas e passadas às novas gerações. “No mundo escolar, a gente pode transformar a oralidade para escrita, nos documentários e pode servir de ferramenta para que possamos futuramente mostrar e valorizar a nossa cultura”, complementa.

O estudante é o primeiro indígena a cursar o mestrado em direitos humanos pela UFG. Ercivaldo se considera privilegiado por estar abrindo portas e por poder servir de exemplo para outros índios que também desejam usar a educação como forma de ajudar suas aldeias.

Para o professor do mestrado, Douglas Pinheiro, a participação de um indígena na sala de aula é benéfica para todos os estudantes. “Isso cria uma nova dinâmica de ocupação do espaço. E em um mestrado de direitos humanos, isso é fundamental, porque um dos aspectos que nos costumamos discutir é ocupar espaços sociais. E quando o Ercivaldo está aqui presente, ele está como pessoa, obviamente, e a presença dele já é um testemunho vivo, mas ele também verbaliza as suas demandas, as suas angústias”, relata.

Para os alunos, a troca de experiência também gera um grande aprendizado. “É uma grande vitória pra ele e para o grupo étnico dele também. E nós fazemos parte com muita honra. Ele nos ensina muito todos os dias e isso é muito bom”, disse Fabrício Rosa, que é um dos 15 alunos do mestrado.

Dificuldades
O caminho para a realização do sonho não tem sido fácil para Ercivaldo. Além da saudade dos seis filhos que ficaram na aldeia, em Tocantins, o estudante enfrenta dificuldades com a língua e também com a moradia.

“Eu tenho alguns problemas de compreensão das palavras acadêmicas e eu estou tentando me adaptar, porque a língua portuguesa, pra mim, é uma língua inglesa, estrangeira”, diz o indígena.

Além disso, por não ter bolsa de estudo, Ercivaldo depende da Casa do Estudante Universitário, mantida pela UFG, para morar. Ele foi acolhido por outros estudantes da etnia xerente que estudam na instituição, porém está em situação irregular. A moradia é apenas para estudantes de graduação e como ele cursa o mestrado, não poderia continuar no local. Para tentar se manter na casa, o estudante já escreveu uma carta para o reitor da universidade, pedindo ajuda para que ele possa continuar alojado e continuar os estudos.

Mas, para superar tudo isso, o indígena se apoia nas fotos que carrega da família e também na esperança que todos depositam nele. “Ele é uma pessoa que a gente tem visto que com certeza vai contribuir conosco. Essa é a esperança. A gente fica também muito feliz. Com certeza é uma conquista para o nosso povo”, disse o cacique da aldeia, José Xerente.