Arte Grega com coração brasileiro

Data: 12 de janeiro de 2015

Veículo: Diário da Manhã

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Angelos Ktenas trabalha com bronze e é inspiração para vários outros artistas

 

Ao entrar no ateliê, muito simples e ao mesmo tempo aconchegante, nota-se em todos os lados diferentes obras de arte: em madeira, em resina, alumínio e bronze. É tanta coisa a se obsevar que pode se passar horas e horas admirando cada detalhe da arte clássica.

Angelos Ktenas é natural de Lévkas, na Grécia, mas é brasileiro de coração. Teve que fazer uma escolha aos 16 anos e meio de idade: servir ao exército grego na Guerra da Coréia e na Segunda Guerra Mundial, na qual nenhum soldado voltava vivo ou seguir para algum país como refugiado. Escolheu a segunda opção, deixou toda a família e veio para o Brasil somente na companhia de Deus e sem falar uma palavra em português. A escolha do destino foi devido ao País estar na moda naquela época e oferecer vantagens aos estrangeiros que queria trabalhar no País.

A intenção de Angelos seria ficar no Brasil até passar a idade de servir ao exército grego e voltar para Grécia. “A minha ideia nunca era de permanecer no Brasil e a Grécia de qualquer maneira mesmo depois da guerra, a Europa como um todo tem algo melhor para oferecer: a educação, modo de viver e além do mais tinha toda a minha família lá”.

O tempo passou e o plano de permanecer quatro, cinco anos se estendeu por 40, 50 e está completando 60 anos. “É claro que voltei diversas vezes para a Grécia, conheço a Grécia de ponta a ponta e conheço praticamente a Europa toda. Tem alguns anos que não tenho ido porque não tenho nada de novo para ver e depois que meus pais faleceram perdi toda a graça de voltar”.

Ao chegar no Brasil, se dedicou a aprender a língua portuguesa. Em cinco meses começou a dominar a língua. “Difícil foi, mas para quem fala grego torna-se mais fácil porque a língua grega é a mãe das línguas. Todas as línguas que existem tem algo grego e dentro da língua portuguesa se analisar as palavras, a raiz é grega. Então de tudo que se fala no cotidiano, 30 a 40% é de origem grega”. Além do estudo, começou a trabalhar para o próprio sustento. Trabalhou como mascate, garçom, cozinheiro, vendedor de roupa, motorista de caminhão, foi dono de restaurante e dono de perfumaria.

Passou pelos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Minas Gerais. Chegou em Goiânia próximo a inauguração da cidade de Brasília. “Diziam que o Estado de Goiás era um Estado promissor porque tudo que estava sendo feito em Brasília estava vindo de Goiânia e a partir daí comecei a criar raízes”. Largou o trabalho e dedicou aos estudos. Passou no vestibular na 1ª Escola de Belas Artes, localizada na Praça Cívica. Estudou por cinco anos e antes de formar foi convidado para ser professor. Devido ao vasto e profundo conhecimento em arte clássica foi nomeado Doutor. Na Universidade Federal de Goiás foi designado como notório saber – candidato que possuía conhecimento além da banca examinadora.

Seguiu na carreira acadêmica por 35 anos até se aposentar pela Universidade Federal de Goiás. No decorrer dos 35 anos, fez inúmeros trabalhos e ganhou prêmios que todo o artista almeja na vida. Percebeu que em Goiás as esculturas eram feitas com pedra sabão, mas segundo Ktenas é um material ingrato. “É fácil de trabalhar, mas é um material pesado, tem que buscar em fazendas e se por acaso cair, ela quebra e não tem conserto”.

Viajou para a Grécia e visitou uma fundição que trabalhava com bronze e trouxe a técnica para o Brasil e treinou os próprios funcionários. “Depois que comecei com o bronze, nunca mais parei. Quem conhece o bronze, trabalhar com a pedra sabão é regredir porque o bronze é eterno e qualquer outro material não tem a mesma durabilidade”. Começou com ateliê e logo depois vieram as encomendas já que não tinha outra fundição no Centro-Oeste, começou a fazer bustos que já tem 1000 peças em praças públicas em todo o País, cerca de 70 em Goiânia e 300 no Estado de Goiás.

“As pessoas, parte delas, ainda não tem sensibilidade. Preferem colocar a figura de um cavalo na parede ao invés de uma obra de arte. Dá pra se viver de arte sim. E bem. Se levar a sério. Se fizer o curso de Belas Artes para esperar o noivo ou para passar o tempo no final de semana, não dá. A arte, principalmente a escultura é 20% inspiração e 80% transpiração”.

Angelos Ktenas não tem projetos futuros. “Não tenho projetos porque eu aprendi com o Buda lendo um livro dele na qual há a seguinte frase: Não viva seu passado, não busque seu futuro. O passado já passou, o futuro ainda não chegou. Viva o presente momento e terá a eterna felicidade”. Mas isso não quer dizer que Ktenas esteja realizado. “Não quer dizer que não penso em fazer algumas coisas porque a pessoa a partir do momento se sentir realizado, é uma pessoa morta. Os sonhos têm que existir”.

O artista hoje vive das encomendas. “Foi a época que eu tinha que fazer escultura e fazer exposição para poder vender. Hoje eu não busco cliente. Eles que me procuram”.