Ciclistas em segundo plano

Data: 25 de janeiro de 2015

Fonte: O Popular

 

Falta de plano cicloviário e de prioridade no trânsito e vias sem espaço são principais obstáculos

Vandré Abreu25 de janeiro de 2015 (domingo)

Onde estão as vias cicláveis

Onde estão as vias cicláveis

Renato Conde

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Ciclovia da Avenida T-63: Prefeitura concluiu apenas a primeira etapa, ligando o Parque Anhanguera à Praça Wilson Sales, no Setor Nova Suíça

 

Um trânsito sem lei, sem local e sem chance de concorrer com ônibus, carros e motocicletas é o que os ciclistas enfrentam em Goiânia; pelo menos enquanto ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas não são implantadas em grande escala na capital. A promessa contida no Plano Diretor de Goiânia (2007) sobre a implantação de 140 quilômetros de ciclovias chega ao início de 2015 com apenas 4% cumprida.

A quantidade de ciclovias implantadas é a mesma desde o fim de 2013, quando a Prefeitura finalizou a primeira etapa da obra na Avenida T-63, do Parque Anhanguera até a Praça Nova Suíça. Em 2012, a ciclovia da Praça Cívica até a Praça da Bíblia também havia sido concluída. No ano passado, nenhum projeto foi adiante e a promessa é que até o final deste ano sejam implantados 40 quilômetros, que corresponde aos projetos para os corredores do transporte coletivo nas Avenidas 85, T-63, T-7, T-9, Independência e 24 de Outubro.

A iniciativa e as premissas do Plano Diretor mostram que a prioridade das políticas públicas é o transporte coletivo urbano. Os ciclistas são incluídos como possibilidade de integração entre os dois modais. Até por isso, os projetos da Prefeitura ligam um terminal de ônibus a outro, onde ficariam os bicicletários. A proposta principal é que os ciclistas possam ir de bicicleta até os terminais ou pontos principais, como Praça Cívica, e depois terminar o trajeto de ônibus. O que não se sabe é se este é de fato o trajeto feito pelos ciclistas na capital.

ELABORAÇÃO DE PLANO

A professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em transportes, Erika Cristine Kneib, cobra a elaboração de um plano cicloviário para a capital, que traçaria origem e destino, as demandas dos ciclistas, a quantidade e a estimativa de quantas pessoas estariam dispostas a adotar a bicicleta como meio de transporte. O plano seria uma maneira também de a Prefeitura assumir uma posição política sobre as bicicletas. Pelo Plano Diretor, o plano cicloviário deveria ser feito “pelo órgão competente”.

A única informação legal é dada pela lei complementar 169, também de 2007, chamada de Lei das Ciclovias, e que corrobora o Plano Diretor, com a integração com o transporte coletivo. Arquiteta e urbanista e ciclista, Gabriela Silveira, acredita que o conceito não é confirmado com o que ocorre nas ruas. “Hoje a bicicleta concorre com os ônibus. Quem anda de bicicleta em Goiânia é para não pagar a passagem ou não ficar esperando nos pontos de ônibus ou terminais. Eu mesmo deixo de andar de transporte coletivo para ir de bicicleta”, conta.

O projeto de ciclovia realizado por professores e alunos da UFG, em 2012, que ligaria o Câmpus 2 (Bairro Itatiaia) ao Câmpus 1 (Setor Universitário) é o único que não está ligado a um corredor do transporte coletivo. Até por isso, é o único também sem previsão para ser realizado. Enquanto as ciclovias dos Eixos T-7 e 85 devem ser iniciadas já em fevereiro, o projeto da ciclovia para a UFG segue engavetado, sem verba prevista para a sua execução. A Prefeitura ainda teria de complementá-lo com projetos de drenagem nas vias.

Gabriela concorda que o ideal para os ciclistas é que houvesse o plano cicloviário, mas lembra que há dificuldade para realizar as pesquisas necessárias devido aos recursos que deveriam ser utilizados. Neste sentido, a bicicleta é utilizada em todo o trajeto, de maneira individual, sendo comparada aos carros e motos, com a vantagem de ser mais barata e ecologicamente correta. Mas necessita de uma via exclusiva ou pelo menos sinalizada, além de equipamentos extras, como os paraciclos, e trajetos diretos.

COMPARTILHAMENTO

Até por isso, cresce a tendência de favorecer o conceito das vias compartilhadas entre todos os modais, em que o respeito dos motoristas abriria espaço para a faixa dos ciclistas. “Com a sinalização, os motoristas podem perceber o direito do ciclista e se atentar a esse dever de compartilhar a via, mas há muita resistência e dificuldade em tirar o espaço do carro”, afirma Gabriela. A prefeitura de São Paulo (SP), com a implantação de ciclovias em espaços antes destinados aos carros, sofreu resistência de motoristas e até denúncias no Ministério Público do Estado de São Paulo.

Assim mesmo, a decisão política na capital paulista é pela manutenção da prioridade aos ciclistas e do compartilhamento das vias, de maneira desvinculada dos corredores de ônibus. Mas este problema resiste nos projetos da Prefeitura, de modo que, onde o espaço é reduzido, os ciclistas são colocados em outras vias. O protótipo seguido pela Prefeitura é o que foi feito na Avenida Universitária, com a ciclovia no canteiro central, junto aos pedestres, com ônibus, carros e motos na via. Nem sempre isso é possível.

No corredor da Avenida 85, por exemplo, parte do canteiro central, entre a Avenida Mutirão e a Alameda Coronel Joaquim de Bastos, foi suprimida e as vias cicláveis serão sinalizadas em uma ciclorrota, paralela à avenida principal. A mesma situação vai ocorrer no Corredor T-7, em que a ciclovia segue pela Avenida Assis Chateaubriand. Neste caso, após a Praça do Cigano, deixará de haver ciclovia e será implantada uma ciclofaixa, ainda no centro da Avenida T-6, mas que se tornará uma ciclorrota, no lado direito da pista quando a via deixa de ser pista dupla.

Usuário quer rotas cicláveis

25 de janeiro de 2015 (domingo)

Um projeto independente e feito por usuários de bicicletas e sociedade em geral tem trabalhado para a elaboração de um mapa com as rotas cicláveis em Goiânia. A organização tem sido feita pelas arquitetas e urbanistas Gabriela Silveira e Laís Rincon e pelo geógrafo Ary Soares. Eles elaboram oficinas colaborativas para traçar as rotas mais seguras para o uso da bicicleta. A intenção é, quando o projeto for finalizado, apresentar o resultado à Prefeitura e pedir que sejam feitas as intervenções, que são consideradas de baixo custo, como as sinalizações para o uso das bicicletas

Pelo Facebook, a página Rotas Cicláveis em Goiânia apresenta um formulário pelo qual os cidadãos podem participar do projeto, sendo ou não ciclistas, ao responder perguntas simples que vão determinar quais as características das vias e se as necessidades dos ciclistas são consideradas. Gabriela explica que as rotas são feitas com base nos projetos da Prefeitura, numa tentativa de ligar as ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas que serão oficiais. “No primeiro momento traçamos as vias até o Centro e agora tentamos ligar as ciclovias”, afirma.