Gestores da UFG fazem força-tarefa contra violência

Data: 27 de janeiro de 2015

Fonte: Diário da Manhã


 

Confronto entre traficantes foi estopim para reação da Reitoria contra insegurança.

A Universidade Federal de Goiás convidou mais de 40 pesquisadores para diagnosticar os problemas de segurança nos campus. O grupo de pesquisa Violência, Conflitos e Crimes foi uma resposta à preocupação da Reitoria em relação ao aumento de crimes na instituição.  O estopim foi um episódio em que supostos traficantes se ameaçaram armados, em abril do ano passado.

“O rapaz que estava devendo saiu correndo e chegou inclusive a pedir ajuda ao guarda daqui”, conta o coordenador do grupo e diretor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) Dijaci David de Oliveira. O Professor disse que a partir desse fato, ficou mais evidente a existência de tráfico nas imediações da Universidade.

Dividida em três partes, a pesquisa pretende gerar subsídio para um Plano de Segurança da UFG que será aplicado esse ano. Entrevistas com mais de 1100 estudantes, levantamento das ocorrências  em delegacias, comparação com outras universidades. Essas são algumas das medidas realizadas pelos pesquisadores. “Não é uma coisa diletante de ficar pensando. Tem prazo”, explica o professor Francisco Tavares, também da FCS, que se preocupa com uma possível interpretação equivocada de seu trabalho. “Medidas efetivas não precisam ser necessariamente aumento de aparato coercitivo”, defende.

O relatório final com o resultado da pesquisa deveria ter ficado pronto em dezembro de 2014. De acordo com um bolsista participante do grupo, ele está atrasado porque só foi aprovado pelo Conselho de Ética da UFG em dezembro do ano passado.

Patio UFG thalys

Os estudantes do período noturno são os mais atingidos pelo medo da violência. Dos 30 entrevistados, 17 afirmam ouvir boatos de assaltos e arrombamentos de veículos. Desses, cinco conhecem vítimas desses tipos de crime. Um aluno do curso de Administração relatou que a maioria dos assaltos acontece nos pontos de ônibus. Ele responsabiliza o atraso dos coletivos e a falta de vigilantes, como fatores que colaboram para esse tipo de ação dos criminosos.

Dados do Centro de Gestão do Espaço Físico da UFG (Cegef)* revelam o aumento de furto em veículos. O número de ocorrências de arrombamento de carro seguido de furto de pertences subiu de 15 para 81, quando comparados os anos de 2012 e 2013. Também é evidente o aumento de assaltos. Entretanto, o baixo número de ocorrências para essa forma de delito, menos de 10 por ano, impede que se tenha uma noção real do problema. Já o roubo de automóveis e furto de patrimônio diminuiu consideravelmente.

O diretor do Cegef, Marco Antônio de Oliveira, citou outras medidas que foram tomadas para combater a insegurança. Em 2010 contrataram a empresa Tecnoseg, gigante da segurança patrimonial no Centro-Oeste, para fazer um trabalho de consultoria na universidade. “Dessa forma foi possível diagnosticar os problemas e propor alternativas para melhorar a segurança em curto, médio e longo prazo”, explica o diretor. Em 2014 entrou em vigor o novo Procedimento Operacional Padrão dos vigias e vigilantes, que visa unificar a conduta dos profissionais de diferentes empresas terceirizadas.

Bosque UFG - thalys

DROGAS

O consumo de Cannabis sativa (maconha) no espaço do Bosque Augute Saint-Hilaire, localizado no Campus Samambaia, não é coibido pelos seguranças da Universidade. Seu uso se tornou habitual e é quase uma tradição desse espaço. Com o aumento de ações policiais contra traficantes em outras partes da cidade, como na Praça Universitária, a UFG se tornou um lugar convidativo para esse tipo de comércio.

“Não era desse jeito antigamente. Para pegar beque (cigarro de maconha) tinha que ligar para alguém, esperar chegar, e tinha que pegar muito”, explica um usuário. Hoje é possível comprar a droga em diversas quantidades nos pontos espalhados nas partes internas e externas da mata.

A professora Marilúcia Lago, da Faculdade de Educação (FE), encontra relação entre o aumento de crimes e o tráfico de drogas. “O adolescente que vende para o estudante universitário, na maioria das vezes, pertence a outro universo” explica, se referindo às diferentes realidades sociais. “Se ele começa a utilizar alguma droga, ele vai ter que entrar em um tecido social totalmente desfavorável a ele”. Com vasta experiência com menores infratores e no setor penitenciário, ela é idealizadora do projeto Vamos Conversar Sobre o Bosque. Uma série de iniciativas como debates e atividades culturais com o objetivo de reocupar os espaços estigmatizados dentro da Universidade.

O professor Dijaci de Oliveira defende que os problemas de segurança se devem, inicialmente, ao isolamento e a precarização do Bosque Auguste de Saint-Hilaire. Nos últimos anos, parte do espaço se transformou em um canteiro de obras e seus dois portões de entrada foram fechados temporariamente. Ele revela que a empresa responsável pela reforma da Faculdade de Física abandonou a obra, obrigando a universidade a abrir um novo processo de licitação. Sobre isso, o supervisor do Cegef, Joacir, disse que estão apenas esperando a término da construção para iniciar uma reforma no Bosque.

Bosque UFG 2 - thalys

POLÍCIA

Não existem motivos legais que proíbam a presença da Polícia Militar dentro da UFG. O diretor do Cegef Marco Antônio explica que não há um convênio entre a Universidade e a PM, mas que eles prezam por uma boa relação com a mesma. “Pensamos que a entrada da polícia não tem que ser de forma ostensiva, mas sim preventiva”. Por outro lado, o professor Dijaci revela que algumas vezes a PM deixaria de atender ao chamado da Federal, como uma espécie de ‘punição’ por não ter livre acesso aos Campus.

Existe a hipótese de que a Polícia Civil já tenha iniciado uma investigação. O professor da FCS Frascisco Tavares é a favor desse tipo de ação, desde que controlada pela comunidade universitária. Também afirma que isso já acontece em menor escala, na investigação de crimes cometidos dentro da Federal. Já o gerente de segurança Elias Magalhães, garante que não existe nenhuma investigação da Polícia Civil, e que caso houvesse, ela teria que passar pelo setor de segurança da UFG.

*Os dados do Cegef só incluem ocorrências feitas dentro dos campus.

(Com informações do Projeto de Extensão da UFG Boca Livre – 2014)