Honras ao mestre

Data: 04 de fevereiro de 2015

Fonte: O Popular

 

Seminário que será realizado pela UFG, Sesc e Companhia das Letras em março vai discutir importância da obra de José J. Veiga

Rogério Santana - Especial para O POPULAR04 de fevereiro de 2015 (quarta-feira)
José J. Veiga: seminário vaia discutir a obra do escritos

2 de fevereiro de 2015 é um dia especial para a literatura brasileira. Há 100 anos nascia José J. Veiga, numa propriedade rural entre Pirenópolis e Corumbá de Goiás. Esse ambiente seria fundamental para sua obra, que aborda literariamente mudanças estruturais no Brasil a partir da segunda metade do século passado. Sem os contos e os romances de Veiga, algo nessa malha que é a literatura ficaria mal-entendido. Utilizando uma estética apropriada para o momento brasileiro, em particular, e para o ambiente latino-americano, em geral, o autor traçou os pilares da passagem da ruralidade brasileira em declínio para a urbanização entregue a iniciativas inescrupulosas.

Como essa data não poderia ficar esquecida, o Sesc-GO tomou a iniciativa de realizar, em parceria com a UFG, o seminário José J. Veiga 100 Anos, que acontecerá nos dias 18 e 19 de março próximos, com participação de convidados que atuam profissionalmente em Goiânia, Brasília e São Paulo. Com a curadoria sob minha responsabilidade, tratei de dar ao seminário um caráter nacional, na mesma dimensão da obra vigorosa do nosso homenageado. Já estamos no momento de rediscutir a aplicabilidade do conceito de literatura regional, uma variação do conceito francês aplicado no Brasil com desvio de sentido.

A parceria entre as duas instituições promotoras do seminário ganha o apoio valioso da Editora Companhia das Letras, à qual pertencem agora os direitos de publicação de toda a obra literária de José J. Veiga. Para abrilhantar ainda mais o evento, estarão disponíveis na ocasião as duas primeiras obras publicadas pelo novo selo: Os Cavalinhos de Platiplanto e A Hora dos Ruminantes. Sem que as novas edições possam representar uma ruptura editorial, creio que o projeto gráfico e as introduções elaboradas por estudiosos da literatura marcarão uma nova fase na divulgação da obra de Veiga, nos últimos tempos relegada comercialmente a segundo plano.

Com o novo impulso que ela ganhará no mercado livreiro, a mais importante consequência virá brevemente, além do prazer inalienável da leitura que poderá ser desfrutado por todos: a divulgação da obra veigueana entre os estudantes brasileiros, cada vez mais distantes dos nossos clássicos recentes. O seminário José J. Veiga 100 Anos quer dar a sua contribuição para a reinserção da obra do autor de A Estranha Máquina Extraviada no meio estudantil, quando não ser um paradigma para eventos que queiram resgatar o vínculo que deve ser frequente entre literatura e público.

Para tanto, a abertura do seminário, com a participação de autoridades e pessoas importantes para a compreensão da vida e obra de José J. Veiga, e as duas mesas coordenadas que compõem a programação terão esse caráter de discutir a obra em seus diversos aspectos estéticos, com abordagens adequadas para professores que virão adotar os livros de Veiga em seus planos de curso.

A celebração do centenário de José J. Veiga é antes de tudo a celebração da literatura que resultou da aplicação sistemática de um grande autor, ainda que distante dos holofotes midiáticos. Consciente de sua tarefa de intelectual do imaginário, ele não se distanciou de suas fontes de formação, num momento em que a urbanização no Brasil era o tema preferido entre os nossos ficcionistas, salvo exceções honrosas. O seminário celebrará sobretudo esse universo literário singular de José J. Veiga.


Rogério Santana é professor de literatura na UFG, com pós-doutorado na EHESS-Paris