Embrapa apóia recuperação da biodiversidade em mananciais do Cerrado

Data: 13 de fevereiro de 2015

Fonte/Veículo: Cenário MT

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Publicado Sexta-Feira, 13 de Fevereiro de 2015, às 08:16 | CenárioMT

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia assina acordo de cooperação com Instituto IPOEMA e se une ao projeto Águas do Cerrado – O futuro em nossas mãos. Definida no dicionário como “processo de alteração intencional de um habitat que visa restabelecer um ecossistema a fim de imitar a estrutura, função, diversidade e dinâmica do ecossistema original”, a chamada Restauração Ecológica é uma das áreas de atuação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, cujo objetivo final é recuperar as funções ecológicas de um ecossistema ou de uma paisagem.

Esse é o principal objetivo do projeto Águas do Cerrado – O futuro em nossas mãos, desenvolvido pelo Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente (IPOEMA) com apoio financeiro da Petrobras e, agora, cooperação técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O projeto envolve ações de revegetação de áreas associadas a cursos d`água e a promoção do uso racional dos recursos hídricos. O contrato de cooperação com a Embrapa, formalizado no dia 28 de janeiro de 2015 e com duração de 17 meses, prevê a realização de monitoramento dos processos e dos impactos associados às ações de recuperação de áreas degradadas.

Lançado em abril de 2014 e com estimativa de duração de dois anos, o projeto “Águas do Cerrado” prevê o plantio de 170 mil mudas de árvores nativas do em 76 propriedades rurais localizadas na área da Bacia Hidrográfica do Rio São Bartolomeu, na Estação Ecológica do Jardim Botânico e em Áreas de Proteção de Manancial da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Ao final, a estimativa é recuperar uma área de aproximadamente 90 hectares.

De acordo com Daniel Luís Mascia Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Embrapa está em busca do desenvolvimento de técnicas para tornar a restauração ecológica mais eficaz e barata. “Atualmente, os métodos de restauração ainda são muito caros e nem sempre são eficazes. Então o nosso objetivo é acompanhar de perto o projeto e determinar que fatores influenciam o sucesso da restauração ecológica, do ponto de vista dos ganhos na restauração dos recursos biológicos. Ao final, pretendemos gerar recomendações que poderão resultar no aprimoramento das técnicas de restauração ecológica, atualmente adotadas em diversas pesquisas”, explica o representante da Embrapa no projeto “Águas do Cerrado”.

O trabalho da Embrapa já começou. O pesquisador Daniel Vieira já está orientando um aluno de mestrado em Ciências Florestais e dois de graduação em Ciências Ambientais que estão realizando pesquisa de campo, que consiste em recolher dados sobre o sucesso da restauração, informações relativas às atividades de plantio e manejo e sobre o envolvimento dos proprietários com as atividades de restauração, para recomendar melhorias ao programa estabelecido pelo projeto “Águas do Cerrado” e outros programas de restauração em larga escala. Segundo Daniel, são muitos e complexos os fatores a serem analisados. Ele cita alguns, como a resiliência do local, a forma como foi feito o plantio, o método de manutenção, e a própria aceitação do projeto pelos proprietários/agricultores locais. Os resultados finais do monitoramento serão disponibilizados à equipe do projeto.

E quando a área a ser restaurada pelo projeto poderá ser considerada restaurada? Segundo Daniel, para chegar a essa conclusão serão utilizados os parâmetros estabelecidos na legislação brasileira sob o ponto de vista da produção e da preservação. “O Código Florestal, por exemplo, prevê um período de até 20 anos para determinar o estágio final de um projeto de restauração ecológica. Já a legislação de São Paulo, que tem um sistema de monitoramento similar ao que estamos adotando no projeto, diz que se a área tiver mais de 80% de copa de árvores e mais de três mil plântulas ou arvoretas por hectare de mais de 30 espécies nativas, já se pode considerar que a área está restaurada”, explica o pesquisador.

Ele ressalta ainda que é possível conciliar áreas de reserva legal com produção agropecuária, os chamados Sistemas Agroflorestais (SAFs), que integram espécies florestais a culturas alimentares. “O crescimento das espécies nativas do Cerrado é lento, então o plantio consorciado permite que o produtor não gaste muito com manutenção do plantio e tenha retorno econômico”, diz.

O projeto é novo, mas o assunto já é bastante familiar ao pesquisador Daniel Vieira, que em novembro do ano passado lançou, juntamente com o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e a WWF Brasil, o livro “Agricultores que cultivam árvores no Cerrado”. A publicação conta as experiências de dezenas de agricultores no plantio de recursos genéticos nativos do Cerrado para reflorestar áreas desmatadas. Daniel acredita que a valorização do conhecimento tradicional dos proprietários das terras onde será feito o plantio de árvores é um dos fatores determinantes a serem considerados para o sucesso do projeto. “Acredito que entre os diversos fatores que interferem no sucesso da restauração ecológica está a satisfação dos financiadores, clientes, técnicos, pesquisadores e educandos”, conclui.

Projeto tem forte vertente educacional

Paralelamente à recuperação de áreas degradadas, o projeto “Águas do Cerrado” possui uma forte vertente educacional. É que se antes a questão da restauração florestal não estava tão associada à preservação dos mananciais hídricos, no atual momento, em que a chamada “crise hídrica” é pauta diária dos meios de comunicação, a educação para o uso racional da água e uso sustentável do solo possui igual importância dentro no projeto. Para tanto, serão executadas ações educativas em escolas públicas nas comunidades atendidas e ainda ações de capacitação, mobilização social e formação de redes de relacionamento e trabalho.

Entre as metas e impactos do projeto, destacam-se alguns números: implantação de viveiro para produção de 4 mil mudas, jardim agroflorestal e minhocário em seis escolas públicas do Distrito Federal; sensibilização de 8 mil alunos; oferta de 540 vagas em cursos; capacitação de 30 professores e 16 membros da comunidade da bacia do São Bartolomeu; formação de 30 jovens empreendedores; e construção do Centro de Referência de Águas do Cerrado, que terá sala de aula, refeitório e parquinho ecológico. O projeto prevê ainda auxilio na elaboração de anteprojeto de lei para a preservação de recursos hídricos no Distrito Federal.

Situação da Bacia do São Bartolomeu já é crítica, afirma IBRAM

O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental (IBRAM), órgão ligado ao Governo do Distrito Federal responsável pela execução de políticas públicas ambientais e de recursos hídricos no DF, afirma em documento datado de 2012 que já são graves as situações de conflitos ambientais quanto à ocupação do solo e ao uso dos recursos hídricos em todas as principais bacias hidrográficas do Distrito Federal.

Especificamente em relação à Bacia do São Bartolomeu, área escolhida para a execução do projeto “Águas do Cerrado”, o IBRAM diz que “a ocupação territorial desordenada, com a rápida transformação de áreas rurais em loteamentos com características urbanas, promoveram uma impressionante perda da vegetação natural, muitas vezes em áreas de preservação permanentes (matas de galerias, nascentes e veredas) além da impermeabilização de áreas de recarga natural dos aquíferos”.

A exploração intensiva das águas subterrâneas e o lançamento de esgotos sem tratamento em mananciais foram outros problemas identificados na bacia. Vale lembrar que as duas principais fontes de água para a população do Distrito Federal são as bacias do Lago Paranoá e do Rio São Bartolomeu.

Embrapa também realiza ações relacionadas à restauração ecológica na Serra do Facão e na Hidrelétrica de Jirau

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia também participa de projetos para o planejamento e monitoramento de ações da restauração ecológica em dois outros lugares: na Serra do Facão, localizada no município de Catalão, em Goiás; e na Barragem para Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) de Jirau, localizada no Rio Madeira, a 120 Km de Porto Velho, em Rondônia.

O Termo de Cooperação Técnica e Financeira com a Serra do Facão Energia S.A (SEFAC), empresa privada que atua no setor elétrico, foi assinado no dia 04 de fevereiro de 2015 e prevê a execução de pesquisa e desenvolvimento referentes ao projeto “Desenvolvimento de metodologia e técnica para implantação de Áreas de Preservação Permanente através da restauração por semeadura direta: Pesquisa para diminuir custos e melhor o potencial ecológico de plantios de APPs”. Também participam do projeto a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape).

O outro projeto, denominado “Plano de Monitoramento da restauração das APPS do entorno do reservatório da UHE JIRAU”, foi celebrado entre Embrapa, a Energia Sustentável do Brasil S/A – UHE JIRAU e a Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) em fevereiro de 2013 com vigência prevista até fevereiro de 2016. O objetivo é executar um plano de monitoramento da restauração das Áreas de Proteção Permanente (APPS) do entorno do reservatório da UHE JIRAU.

 

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia