Setor Expansul abriga haitianos

Data: 23 de março de 2015

Fonte: O Popular

Link da matéria: http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/setor-expansul-abriga-haitianos-1.809982

 



 

Até há dois anos, Expansul era apenas mais um bairro de Aparecida de Goiânia, município vizinho de Goiânia e o segundo maior em número de habitantes do Estado. Nos últimos tempos o bairro ganhou uma nova configuração. Lá está uma das maiores comunidades de imigrantes haitianos que vieram para Goiás após o terremoto que assolou o país caribenho em janeiro de 2010, matando mais de 150 mil pessoas. A catástrofe não só deixou um grande número de desabrigados como também reduziu a escombros uma importante parcela da infraestrutura habitacional e governamental. O que já era ruim ficou ainda pior para a nação já considerada na época a mais pobre do continente americano. No Expansul funciona há poucos meses o primeiro templo religioso dedicado aos novos moradores, estimados hoje em cerca de 300 pessoas.

No Ponto Missionário Expansul da Igreja Metodista, as bandeiras brasileiras e haitianas estão lado a lado, assim como a saudação aos fiéis inscrita na fachada – “Aqui haitianos e brasileiros são recebidos de braços abertos” – pode ser lida em Créole, o dialeto haitiano, e em Português. Mais de 60 haitianos se reúnem para a celebração de domingo e para aprender o Português em aulas ministradas gratuitamente por uma professora aposentada da Universidade Federal de Goiás, que integra a instituição religiosa.

O ponto missionário surgiu a partir do encontro do reverendo Eliéser de Oliveira Alves, da Igreja Metodista do Jardim das Esmeraldas, em Aparecida de Goiânia, com o pastor haitiano Smork Bocicot. Com um diploma do Seminário Teológico John Wesley, da República Dominicana, o pastor procurou o brasileiro, explicou que buscava a sua igreja e anunciou a vinda de mais compatriotas. Augustin Septy, de 43 anos, que já estava no Expansul, se uniu a Smork para consolidar a parceria. “Quando você é crente tem de falar a todos sobre Jesus Cristo e ajudar a não fazer nada de errado”, explica Augustin.

Atualmente o trabalho missionário no templo está a cargo do brasileiro Edson Rodrigues Machado e do haitiano Dorval Nodieu, que pouco fala o Português. Com a migração de Smork para Santa Catarina, ele assumiu a função de líder religioso e em Créole celebra o culto aos seus pares, traduzido simultaneamente a Edson por um haitiano que vive há mais tempo no Brasil. Com formação superior em Agronomia, Dorval e a mulher Lucia migraram para o Brasil e hoje trabalham numa grande empresa de prestação de serviços. Ela em limpeza, ele como jardineiro. O casal deixou no Haiti os três filhos, com idades entre 26 e 20 anos, e sonha em trazê-los para o Brasil. Para quem vivia em dois cômodos, a vida já melhorou. A Igreja Metodista paga o aluguel de uma casa para o casal no Expansul.

Augustin deixou mulher e quatro filhas, entre 3 e 17 anos, no Haiti e partiu em busca de melhores condições de sobrevivência. Trabalhou como pedreiro e na coleta de lixo em Aparecida de Goiânia e fez um curso de ceramista no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Em outubro, conseguiu trazer a mulher, que também trabalha em serviços gerais. O casal aluga um pequeno barracão de José Lino da Silva, próximo ao ponto missionário. “Eles são muito bons, não brigam com ninguém”, diz.

Josef, de 23, mora no Centro de Aparecida de Goiânia, onde também existe outra grande comunidade de haitianos. Ele começou a fazer Medicina na República Dominicana, mas optou por migrar para o Brasil. Josef trabalhou como pedreiro, mas está com dificuldades para conseguir emprego. Anel Exantus, de 23, que colabora nas atividades da igreja, pensa o contrário. Com o dinheiro que ganhou em pouco mais de um ano em Goiás comprou passagem para a noiva de 17 anos vir em abril.

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