Cota reduz ponto de corte em até 12 pontos

O HOJE – 20 de novembro de 2010

Os afrodescendentes têm o que comemorar neste Dia da Consciência Negra, hoje. Uma das mais polêmicas ações de inclusão, a cota para negros das vagas no ensino superior  começa a tomar corpo. Em algumas unidades goianas de ensino, até 20% das vagas são destinadas às cotas para negros e com pontos de corte abaixo da concorrência do sistema universal de seleção. Na última seleção do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, o último selecionado na concorrência universal precisou obter 188,25 pontos, enquanto o último dos cotistas, 101,05.

Coordenador do Núcleo de Estudos Africanos e Afrodescendentes da UFG, Alex Ratts conta que o número de negros frequentando o ensino superior no Brasil e em Goiás é visivelmente inferior ao de brancos. Ele informa não terem sido realizados censos entre os alunos daquela faculdade, mas que essa proporção pode ser exemplificada no número de professores negros da instituição. “Apenas 10% dos professores da Federal são negros”, apontou ele.

Parcela que pode muito bem ser estendida aos alunos daquela instituição. Quem ensina foi aluno um dia e a quantidade inferior de professores dá uma amostra da realidade. Daí a importância, para Ratts, das cotas. “É inegável que ainda existe racismo. Discriminação essa que por vezes impede o negro de frequentar boas escolas, ter bom emprego ou de chegar à faculdade”, argumenta.

Ponto de corte

Na Universidade Estadual de Goiás (UEG), 20% das vagas de cada curso são destinadas aos negros. Assim, cinco das 24 vagas do curso de Engenharia Civil – o mais concorrido daquela instituição – são exclusivas para a concorrência entre os afrodescendentes. Mesmo com número menor de vagas para o grupo, a concorrência ainda se mostra facilitada.

Facilidade que pode ser explicada pelo número reduzido de negros que buscam o ensino superior. Na última seleção da UEG, apenas 86 negros se inscreveram às vagas do curso de Engenharia. Na concorrência universal, foram 1.584 inscritos. Com isso, o ponto de corte do sistema por cotas ficou 12 pontos abaixo da seleção tradicional, que chegou aos 60 pontos.

O atendente Gerson Guedes da Silva, de 21 anos, deixou há dois anos a pequena Nova Roma, no interior de Goiás, para dar continuidade aos estudos na capital. Ele tenta, pela segunda vez, ser aprovado na Universidade Federal de Goiás para o curso de Jornalismo. O rapaz, que sempre estudou em escola pública e ainda dividiu parte desse tempo com o trabalho, deveria concorrer com uma centena de outros, que tiveram toda uma vida apenas dedicada aos estudos. Com o sistema de cotas, essa disparidade tende a diminuir.

Tendo de custear aluguel e alimentação, por estar bem longe da casa dos pais, ele analisa não ter condição alguma para financiar um curso superior em uma faculdade particular. O jeito então é enfrentar a maior concorrência do Estado, tentando ser aprovado na UFG. As chances dele, porém, devem ganhar força pelo modelo de cotas denominado UFGIncluiu. “Sei que de uma forma ou outra haverá concorrência, mas acredito que as chances devem ser bem mais favoráveis no sistema de cotas”, analisou.