Duas crianças desaparecem por dia

Duas crianças desaparecem por dia

Em Goiás são investigados 56 desaparecimentos de crianças e adolescentes ocorridos somente este ano

Rosana Melo

A Divisão de Pessoas Desaparecidas (DPD) da Delegacia de Investigações de Homicídios registrou este ano o desaparecimento de 56 crianças e adolescentes em Goiás. Cinco casos aconteceram em Goiânia e são investigados pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

Entre as ocorrências, estão as relativas aos seis jovens, com idades que variam de 13 a 19 anos, que desapareceram em Luziânia nos últimos 23 dias, causando apreensão na população da cidade.

Entre as principais causas dos sumiços estão os conflitos domésticos, problemas mentais, consumo de drogas, dívidas, acidentes e negligência de adultos, além da violência urbana. É o que explica Dijaci David de Oliveira, professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em Sociologia. Autor de uma tese de doutorado sobre desaparecimentos no Brasil, o professor critica a falta de treinamento especifico entre os policiais responsáveis por este tipo de investigação. “É cultura no meio policial deduzir que o desaparecimento é fruto de irresponsabilidade de jovens”, disse. O professor condena também a prática da polícia esperar de 24 a 48 horas do desaparecimento de uma pessoa para registrar o caso, o que não é exigido por lei.

A delegada Adriana Accorsi, titular da DPCA, confirma que uma lei promulgada no ano passado determina que a investigação seja iniciada imediatamente após a notificação. Essa rapidez, explica, é fundamental para a eficiência da investigação.
Nos Estados Unidos, lembra o professor Dijaci David de Oliveira, existe o alerta Amber - criado depois que uma menina foi sequestrada, estuprada e morta - que determina a imediata divulgação do caso para a imprensa e para toda a polícia quando uma criança ou adolescente desaparece. “A chance de encontrar a vítima é maior nas primeiras três horas”, revela.

A delegada Adriana Accorsi garante que a maioria dos casos é esclarecida pela Polícia Civil e é decorrente de fugas, inclusive parte dos casos ocorridos este ano. “São crianças vítimas de maus-tratos, abusos, de violência doméstica”, disse. Outros fatores que levam à fuga são o relacionamento amoroso que a família não permite.

“É preciso treinar os policiais”

Rosana Melo

O professor Dijaci David de Oliveira, da Universidade Federal, defende que é preciso investir no treinamento de policiais para tratar do desaparecimento de pessoas. Para ele, um passo importante já foi dado, que foi a criação da Divisão de Pessoas Desaparecidas, mas é preciso um estudo mais detalhado sobre as causas dos desaparecimentos.

Segundo ele, o Estatuto do Desaparecimento Civil não define nada a respeito da investigação. “E o caso se agrava quando se trata de criança e de adolescentes, porque a lei define a prioridade na investigação, mas a maioria dos policiais não foi treinada para esse tipo de investigação e para tratar do assunto com as famílias das vítimas”, disse.

Luziânia
Em relação ao caso de Luziânia, onde seis adolescentes, entre 13 e 19 anos, desapareceram desde o dia 30 de dezembro, o professor alerta que os casos não devem ser vistos como fatos isolados - por tratar-se de uma mesma região - e nem descartar um caso porque a vítima tem histórico de desaparecimentos. “A polícia não pode achar que vai perder tempo com isso, porque desta vez, o adolescente pode ter sido vítima de verdade”, alerta.