Incremento do consumo em dezembro e a ocorrência de chuvas levaram à maior geração de resíduos

Incremento do consumo em dezembro e a ocorrência de chuvas levaram à maior geração de resíduos


Maria José Silva

A população goianiense produziu em dezembro mais de 41 mil toneladas de lixo. O volume bateu o recorde da quantidade de resíduos domiciliares coletados por mês pela instituição na capital (veja quadro). São restos de alimentos, entulhos, vasilhames descartáveis, sucatas, pedaços de papelão, pneus, vidros e latas, entre tantos outros itens consumidos e dispensados sumariamente pelas pessoas e acrescido ao montante de resíduos levados para o Aterro Sanitário da cidade, na saída para Trindade.

O Presidente da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), Wagner Siqueira, considera exorbitante o acréscimo da produção de lixo. “Sempre observamos um crescimento da geração de resíduos no último mês do ano, mas desta vez o avanço foi assustador. É uma loucura”, enfatiza. Levantamentos da Comurg revelam que em dezembro foram coletadas 2,8 mil toneladas a mais do total de lixo domiciliar captado em novembro (38,4 mil toneladas) e 6,2 mil toneladas a mais da média de resíduos produzidos ao longo de 2009 (35 mil toneladas).

Apesar de ter sido verificada com mais incidência em dezembro, o avanço da geração de resíduos por moradores de Goiânia tem ocorrido ano a ano. As notificações da Comurg mostram que a quantidade de lixo captada pulou de 306,2 mil toneladas, em 2004, para 402,8 mil, em 2009 (veja quadro).

Especialistas na área alegam que em dezembro, particularmente, o fenômeno foi motivado pelo pagamento do 13º salário e pelo consumo de bens e produtos nas festas de Natal e Ano-Novo e, ainda, pela predominância de chuvas intermitentes. Nos últimos anos, o avanço do volume de resíduos está relacionado à melhoria do poder aquisitivo da população e ao crescimento da cidade.

O aumento da produção de lixo tem como graves consequencias a saturação dos aterros sanitários e o aumento dos custos para o tratamento de resíduos. Estruturado em 1993 num local antes usado como lixão, o Aterro Sanitário de Goiânia terá sua área específica para depósito e tratamento de lixo ampliada em quase 200 mil metros quadrados. A ampliação, conforme diz a assessora técnica da Comurg, Renata Gonçalves Moura Ribeiro, é fundamental para que o local continue a receber por pelo menos mais 15 anos o material dispensado pela população de Goiânia.

A saturação dos aterros sanitários é um problema verificado em várias metrópoles do País. Capitais como São Paulo (SP), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE) e Porto Alegre (RS), entre outras, estão com aterros sanitários esgotados. O professor Eraldo Henriques de Carvalho, coordenador do Núcleo de Resíduos Sólidos e Líquidos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Católica de Goiás, destaca que os gestores públicos são forçados a providenciar outras áreas para a acomodação dos rejeitos, cada vez mais distantes das cidades.

Aterros sanitários próximos da saturação

Maria José Silva

Todos os dias, o Aterro Sanitário de Goiânia recebe em média 1,2 mil tonelada de resíduos domiciliar, público e comercial. O material é levado em caminhões da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) e depositado numa área de 260 mil metros quadrados, já próxima da saturação. A assessora técnica da Comurg, Renata Gonçalves Moura Ribeiro, informa que o lixo comum é pesado, espalhado, compactado e coberto com material inerte, feito com mistura de terra e entulho da construção civil.

A disposição e cobertura dos resíduos são feitas em forma de camadas, processo chamado pelos técnicos de “bolo de noiva”. Renata Ribeiro destaca que após o acondicionamento são realizadas as coletas do líquido percolado, substância conhecida como chorume, e do gás metano. O líquido é submetido a tratamento. Já o gás metano, uma das substâncias tóxicas que causam o aquecimento do planeta, é queimado e transformado em dióxido de carbono, também causador do efeito estufa, mas menos nocivo.

O coordenador do Núcleo de Resíduos Sólidos e Líquidos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás, Eraldo Henriques de Carvalho, considera satisfatória a situação do Aterro Sanitário de Goiânia. O depósito, conforme diz, tem conseguido reduzir os problemas causados pelas substâncias poluentes do lixo e terá sobrevida maior com a ampliação.

Apesar de ser uma das alternativas consideradas viáveis para a realidade sócio-econômica brasileira, o ato de enterrar o lixo causa danos ao meio ambiente. Eraldo Henriques diz que o problema mais grave é o depósito de metais pesados, entre os quais chumbo e mercúrio, presentes em lâmpadas, pilhas e em baterias de celular e de carros.