Cooperativa não absorve todo lixo

Jornal O Popular - 30/08/2010

Quantidade de lixo reciclado coletado em Goiânia está entre 15% e 20% acima da capacidade de cooperados

Alfredo Mergulhão

As cooperativas de materiais recicláveis de Goiânia já não conseguem dar conta de todo lixo recolhido pelo serviço de coleta seletiva da capital. Com um crescimento que varia entre 15% e 20% todos os meses, a quantidade de latinhas de alumínio, vidros, papelão, garrafas pet e plásticos está acima da capacidade de processamento das oito cooperativas vinculadas à Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg). O excedente fica armazenado na central de triagem da Comurg na espera do encaminhamento.

No começo do ano eram recolhidas mensalmente por volta de 900 toneladas de recicláveis. Esta quantidade subiu para 1.500 toneladas no mês de julho, um incremento equivalente a 66% no período. Com o aumento do lixo reciclável e apenas mais duas cooperativas criadas para fazer o processamento dos resíduos no primeiro semestre, o resultado foi um excedente estimado de 30% do total de materiais recicláveis por mês, volume que fica parado na central de triagem da Comurg.

"É um volume razoável de lixo que fica parado, mas nada que comprometa o sistema. Todo o volume acaba sendo encaminhado para as cooperativas quando elas podem receber", disse o diretor-presidente da Comurg, Luciano de Castro. O órgão municipal tem expectativa de atingir 2.500 toneladas até o final desse ano, mas a meta da companhia é chegar a 10,8 mil toneladas.

Enquanto a Comurg tenta aumentar ainda mais o montante recolhido, o que se vê nos galpões das cooperativas são enormes volumes de materiais recicláveis. Na última quinta-feira, a Cooperativa de Reciclagem de Lixo (Cooprec) recebeu o material coletado por dois caminhões, cujas cargas somavam mais de duas toneladas. Os cooperados não reclamaram da situação, pois a abundância de materiais recicláveis representa mais lucro aos trabalhadores.

Na Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Ordem e Progresso também existe material em excesso. Os 33 cooperados têm trabalho para o dia todo e ainda sobra serviço. "A gente nem consegue tratar tudo, mas isso é bom porque a vida tá melhorando", disse o presidente, Alcir Alves Pereira, que passou cinco dos seus 68 anos catando lixo com a ajuda de uma carroça. "Quando a ferradura do cavalo acabava eu não tinha dinheiro para comprar outra. O animal sofria e eu tinha que comer lixo", conta o homem, que viu sua renda dobrar desde o começo do ano.

Com o aumento da demanda, também cresce a oferta de trabalho no ramo da reciclagem. A Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Beija-Flor tem hoje 16 cooperados e procura mais pessoas para desempenhar o serviço. Na Cooperativa de Reciclagem de Lixo Shekinah, a partir de hoje o número de cooperados sobe de 18 para 25. "Pelo tamanho das nossas acomodações, temos lixo até demais. Se tivéssemos mais estrutura poderíamos empregar mais gente", disse o presidente da Shekinah, Milton Bento.

Atualmente, cerca de 200 pessoas estão empregadas nas cooperativas. Para criar uma, os interessados devem aglutinar um mínimo de 20 cooperados, fazer um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e ter um local para realizar o trabalho de separação dos materiais recicláveis. A Prefeitura ainda oferece ajuda de custo às cooperativas, em valores que podem chegar a R$ 6 mil, de acordo com a quantidade de trabalhadores. O dinheiro serve para ajudar no pagamento de despesas como aluguel e contas de eletricidade, telefone e água

MP quer que população seja melhor informada

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP) encaminhou na primeira semana de agosto uma recomendação à Comurg e à Prefeitura de Goiânia solicitando que sejam adotadas providências para ampliar a divulgação de informações detalhadas sobre o Programa Goiânia Coleta Seletiva. De acordo com o MP, a população precisa ser orientada quanto à importância da separação, da correta destinação dos resíduos sólidos recicláveis e dos procedimentos básicos a serem adotados na reserva e entrega dos materiais.

A promotora Marta Moriya Loyola afirmou que o programa não tem sido ainda mais abrangente por falta de campanhas de educação ambiental e da divulgação dos dias e horários que os caminhões passam. "Recebemos muitas reclamações de pessoas que desejam aderir, mas não sabem como", disse.

O diretor-presidente da Comurg, Luciano de Castro, concorda que existe esta deficiência. "Esta faltando uma maior divulgação para despertar a vontade da população em participar", admitiu. Todos os 545 bairros da capital já são atendidos pela coleta seletiva pelo menos uma vez por semana, garante o presidente. A exceção fica por conta da região verticalizada, onde há uma maior densidade populacional.

Para a professora de Educação Ambiental Sandra de Fátima Oliveira, além de campanhas de orientação acerca do tratamento do lixo, é necessário educar para o consumo com responsabilidade. "A população tem que adquirir consciência para a hora da compra, numa sociedade em que quase tudo é descartável", sustenta a docente do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás.