Luto na música

Luto na música

Talento do violoncelo, o músico goiano Jabez Oliveira morreu na quarta-feira, vítima de um acidente de carro

Rodrigo Alves

O violoncelista goiano Jabez Oliveira, de 45 anos, morreu na noite da quarta-feira, em decorrência de um acidente de carro. Ex-professor de Música na Universidade Federal de Goiás (UFG) – ele se preparava para assumir uma vaga efetiva de professor na Universidade de Brasília (UnB) –, Jabez viajava de carro da capital federal a Formosa (GO) quando bateu de frente com uma carreta. O corpo do músico seria velado ontem à noite na Igreja Batista da Vila Canaã, em Goiânia, mas até o fechamento desta edição ainda não havia chegado à cidade.

Jabez Oliveira, tido com um dos maiores talentos do violoncelo do País pelo meio musical, iniciou seus estudos musicais no antigo Instituto de Artes da UFG, hoje Escola de Música e Artes Cênicas (Emac). O primeiro contato com o violencelo foi aos 18 anos, idade já considerada avançada para quem está iniciando. Indiferente à situação e às críticas, Jabez, porém, seguiu na formação clássica e obteve êxito como poucos. Ainda nos primeiros cinco anos como estudante de música, ele usava um violoncelo emprestado pela escola técnica das universidades pelas quais passou, em Goiânia e depois no Rio de Janeiro.

Somente em 1987, o músico conseguiu o primeiro violoncelo próprio, um Schuster, único instrumento comprado até pouco tempo atrás com o próprio dinheiro. Depois desses primeiros passos na década de 1980, já no início da de 1990, Jabez Oliveira deixou o País para ir estudar música na Universidade de Graz, na Áustria. Lá apurou a formação acadêmica completando a graduação e, em seguida, o

mestrado, sempre focando como objeto de estudo o instrumento escolhido no fim da adolescência.

Trio Brasil Central
De volta ao Brasil, em 1999, Jabez voltou a se reunir com dois colegas músicos que conheceu na Europa, para formar o Trio Brasil Central – o violinista italiano Alessandro Borgomanero e o pianista goiano Wolney Unes, hoje também colunista do POPULAR. Juntos a eles (que também retornaram ao Brasil) e em perfomances solo, Jabez atuou em concertos por todo o País. Também nesta época, já de volta, o músico passou a integrar a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, cidade onde acabou se fixando.

Após uma passagem pela UFG, na qual deu os primeiros passos na música, agora já como professor, Jabez há pouco tempo havia sido aprovado em um concurso para ser professor na UnB, cargo que nem chegou a assumir efetivamente. “Infelizmente ele nem pôde começar de vez, agora em fevereiro”, lamenta o amigo e companheiro músico Alessandro Borgomanero, que hoje vive em Goiânia. O violinista, que o conhecia há mais de duas décadas, recorda-se dos tempos em que iniciaram os estudos e do talento do amigo. “Realmente uma perda para a música”, completa.

Wolney Unes salienta a importância que a música teve para o violoncelista. “Filho de pastor de igreja e de origem humildade, Jabez encontrou na música um meio de ascensão grande”, elogia Wolney, acrescentando ainda o esforço em busca de uma formação de qualidade, nas melhores escolas dentro e fora do País. “Foi um dos grandes músicos que nasceram em nosso Estado”, assinala ele, amigo de Jabez há 30 anos. O local do enterro, previsto para a manhã de hoje, não tinha sido definido até a tarde de ontem.