Saudade da aldeia

Tribuna do Planalto - 28/08/2010

Carmen Cruz

Secretaria Estadual de Educação

Cláudio nunca tinha morado fora da aldeia. E, nos primeiros dias, a vida na Capital parecia dura demais, quase impossível. Longe dos amigos, da mãe e do jeito que a vida seguia calma para os Tapuia no Carretão, mergulhou de cabeça nos livros para acompanhar o ritmo dos colegas de sala. Uma vez ou outra dá um giro pela cidade, mas a maior parte do tempo passa mesmo é estudando.

Primeiro aluno do Colégio Estadual da Aldeia do Carretão a concluir o Ensino Médio na própria aldeia e ingressar numa universidade, Cláudio Farias Ramos, 17 anos, sabe que esse momento de adaptação exige muito esforço. “Pelo menos, pude ficar mais tempo com a minha família e meus amigos depois que foi criado o Ensino Médio lá no Carretão”, afirmou o indígena, explicando que, após a morte do pai, Anivaldo Ramos Machado, há cinco anos, ele passou a ajudar a mãe, trabalhando na roça comunitária.

Em Goiânia, Cláudio está morando na Casa do Estudante Universitário (CEU) e se beneficia do auxílio-refeição na própria Universidade Federal de Goiás (UFG), onde cursa Engenharia Elétrica. “Desde pequeno eu gosto de montar e desmontar equipamentos elétricos e eletrônicos. Sempre quis estudar mais para entender melhor essa área”, afirmou Cláudio.

Segundo ele, foi o professor de Biologia, o Márcio, que perguntou se tinha interesse em fazer vestibular para Engenharia Elétrica. “Eu não sabia direito como seria. Ouvia falar de uma prova muito difícil para entrar na universidade, então resolvi fazer”, explicou. Cláudio ingressou na UFG pelo regime de cotas.

Embora esteja encontrando dificuldades em disciplinas como Cálculo, Cláudio não tem medo de estudar. “Estou estudando durante o dia e à noite para acompanhar o ritmo das aulas”, declarou, lembrando que só retorna à aldeia no final do ano. A mãe, Juvercina de Farias Silva, está trabalhando na casa de farinha da aldeia. Os colegas que concluíram o Ensino Médio na aldeia não quiseram fazer vestibular.

Para vencer a solidão, Cláudio anda a pé pelo Centro da cidade. “Gosto de ver as pessoas, as lojas, depois volto para estudar”, afirmou. Um dia desses, uma sexta-feira, em que teve aula no Campus Samambaia, Cláudio pegou um ônibus errado e foi parar do outro lado da cidade. “Com o tempo, vou me acostumar”, disse. Visitar a mãe e os amigos na aldeia só nas férias de fim de ano.