Escândalo no DF ameaça debilitar oposição em 2010, dizem analistas

Escândalo no DF ameaça debilitar oposição em 2010, dizem analistas

Único governador da sigla é investigado por comandar mensalão no DF.
Para PSDB, caso não abala aliança entre partidos em nível nacional.

Mariana Oliveira Do G1, em São Paulo

O escândalo político no Distrito Federal envolvendo o único governador do Democratas pode levar o partido a perder espaço no cenário nacional e prejudicar o desempenho da oposição ao governo federal nas eleições presidenciais de 2010, na avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo G1.

O governador José Roberto Arruda é apontado pela Polícia Federal como comandante de um suposto esquema de distribuição de propina a deputados distritais. Arruda nega e se diz vítima de uma trama

Nesta quarta, o vice-presidente nacional do Democratas, deputado Paulo Bornhausen (SC), afirmou que o partido não deve "assumir o ônus" gerado pelo escândalo que envolve o governador do DF.

"Estão chamando de mensalão do DEM. O partido não tem como assumir esse ônus, até porque não foi consultado sobre tudo isso que aconteceu. Isso é um erro de um diretório do DEM que precisa ser apurado." 

No próximo dia 10, o DEM vai decidir se expulsa o governador. "O partido vai fazer um julgamento político. Vai ser uma análise dos efeitos político disso tudo", disse o vice-presidente.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, avalia, segundo sua assessoria de imprensa, que se trata de um fato local e que não abala a aliança com o DEM em nível nacional.

'Chapa pura'

Para o professor do Instituto de Ciência Política (Ipol) da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, no entanto, os desdobramentos do escândalo podem levar os dois partidos a se distanciarem no próximo ano. "É possível que os tucanos decidam que é mais adequado lançar uma chapa pura, para não se misturar."

O cientista político disse, porém, que tudo depende dos desdobramentos do escândalo. "As lideranças na Câmara e no Senado estão pressionando pela expulsão, querem tentar recuperar a imagem do partido. Mas vamos ter que esperar."

Fleischer diz que o partido está "em declínio" desde 2002, com queda no número de parlamentares e chefes do Executivo, mas pode perder ainda mais importância se perder o seu único governador.

A professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Denise Paiva Ferreira, doutora em ciências políticas pela USP e autora do livro "PFL X PMDB: Marchas e Contramarchas", que aborda a organização interna dos dois partidos, o escândalo é "mais um elemento que pode fortalecer o declínio do partido nas próximas eleições".

Para ela, a situação no DF é complicada porque a expulsão de Arruda pode levar o DEM a perder uma das principais lideranças, enquanto que a manutenção do governador nos quadros da legenda pode afetar a aliança com o PSDB em 2010.
"Perder uma liderança e o único governador de estado é prejudicial. Um partido não precisa é buscar lideranças, mas também mantê-las. A saída de Arruda pode ter um custo alto, mas eles vão precisar discutir o que vai ter um custo menor.

 

Histórico

Professor de ciência política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Valeriano Mendes Ferreira Costa diz que o DEM saiu da ditadura militar como um dos maiores partidos do Brasil, ao lado do PMDB, mas foi perdendo espaço ao longo dos anos.

"É a trajetória de se colocar numa posição de segundo partido de um bloco de oposição, comandado pelo PSDB. Ser o segundo do segundo já é bem atrás. No governo FHC, estava na estrutura de poder. Mas houve um estreitamento da base de poder. Um processo sazonal, porque poderia voltar a crescer se retornasse ao poder. Mas o DEM tende a se tornar um partido médio, exatamente porque não tem estratégia nem fôlego de competir com os outros partidos. Mas a trajetória já é de queda desde antes dessa crise."

Para Costa, há um "cenário de desagregação da oposição" que pode se complicar. "Isso fortalece uma chapa pura do PSDB ou a aliança com ala dissidente do PMDB. PSDB já saiu do governo local e critica nacionalmente a demora do DEM em tomar uma decisão sobre a expulsão."

Ele avalia que uma ala do PSDB pode usar o caso na definição do candidato a presidente do partido. "Há muita gente tentando vincular a decisão entre (José) Serra (governador de São Paulo) e Aécio (Neves, governador de Minas Gerais). Quem um ou outro estão mais próximos de Arruda. É por isso que a oposição tem que ter calma. (...) Melhor eles saírem (da crise do DF) com as tropas unidas do que fazerem uma retirada desorganizada."

O cientista pondera, no entanto, que a expulsão "não é uma decisão fácil". "Eles não querem que o Arruda saia atirando para todos os lados com informações que possa prejudicar o próprio partido. Acho que tudo caminha para uma expulsão, mas com acordo com o próprio Arruda."