[UFG] Médico é encontrado morto em apartamento (Diário da Manhã, 4/11/2009)

Médico é encontrado morto em apartamento

Delegacia de Homicídios afirma que Carlos Fernando Figueiras de Magalhães pode ter sido vítima de latrocínio

04/11/2009

O corpo do médico e escritor Carlos Fernando Filgueiras de Magalhães, 69, foi encontrado no apartamento em que morava sozinho, no Centro de Goiânia, na tarde de ontem. A polícia ainda não confirmou a causa da morte do médico aposentado. A adjunta da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DEH), Rejane Cristina Gondim Melo, afirma que Carlos Fernando pode ter morrido naturalmente ou ter sido vítima de latrocínio, isto é, roubo seguido de morte. “Os amigos sentiram falta de dois aparelhos televisores grandes, do celular e dos documentos pessoais da vítima”, explica a delegada sobre a hipótese de homicídio. Até o fechamento desta edição, ainda não havia sido confirmado o local do velório.
Segundo a Polícia Militar (PM), a faxineira do prédio, Edifício Rural, na Rua 3, sentiu um mal cheiro que vinha do apartamento do escritor. Os moradores acionaram o Corpo de Bombeiros, para abrir o local. O comandante da Operação da PM, tenente Antônio, afirmou que a porta do apartamento que a vítima morava sozinha estava trancada e foi necessária a ajuda de um chaveiro para entrar no recinto.
A delegada Rejane afirmou que não há no corpo de Carlos Fernando nenhum sinal de violência. “Não foi encontrado nenhum objeto cortante perto do corpo, e nada demonstrando que houve luta corporal.” A perita criminal Terezinha Violatti Limonge Rangel completa que, devido ao estado avançado de decomposição, não há como confirmar se há algum ferimento. “Apenas a autópsia de um médico-legista poderá confirmar a causa da morte.”
O corpo do médico aposentado foi encontrado deitado nu em um colchão no escritório do apartamento. Segundo a perícia, o corpo estava coberto por camisas da vítima e a cabeça estava coberta por cerca de quatro travesseiros. Havia mancha de sangue perto do rosto dele. Terezinha afirma que, devido ao estado de rigidez, Carlos Fernando estava morto há mais de 72 horas. O quarto da vítima estava intacto.
A delegada explicou que as chaves do apartamento ficarão de posse da polícia, caso seja necessária alguma outra perícia mais aprofundada no local. Ela afirmou que a perícia recolheu copos que estavam sujos de conhaque e licor, além de garrafas de cerveja e uma camisinha usada que estava no lixo do banheiro. A perícia informou que, se foi homicídio, há duas possibilidades da causa da morte, por esganadura ou por envenenamento.
A Polícia Civil explica que o contato com a vítima foi no último domingo (1º), quando ele ligou para um amigo por volta das 15h12. No escritório, a polícia encontrou os jornais que os moradores buscavam na portaria. “No local, estavam os jornais do fim de semana: o de sábado (31) e de domingo (1º).”
A delegada adjunta Rejane Melo afirmou que, se o crime foi um latrocínio, o assassino era conhecido da vítima e tinha a chave do apartamento. A polícia pegou as imagens das câmaras de segurança do edifício para averiguar quem que saiu com os objetos que desapareceram do local.
O porteiro do prédio, Dercílio Lopes, afirmou que, na sexta-feira (30), a vítima recebeu uma visita pela manhã do técnico de informática e, à tarde, de um amigo, que saiu do apartamento em uma hora. Segundo Dercílio, o técnico foi ontem ao edifício às 13 horas. “Interfonamos no apartamento e ninguém atendeu. Ligamos no celular dele e caiu na caixa de mensagem.”
O vizinho e amigo, Francisco de Assis Nascimento, afirmou que a vítima morava sozinha no local há cerca de 15 anos. “Ele era muito discreto. Recebia visitas de muitos amigos médicos e escritores.” O médico não era casado e não tinha filhos. Os vizinhos comentaram que o escritor era muito educado e gentil e que vivia com o seu cachorrinho no colo. “Ele tinha uma poodle toy chamada Petit, que faleceu há algum tempo”, afirma Francisco.
A faxineira, Eveline Alves da Conceição, trabalhava com o médico aposentado há mais de oito anos. Ela afirmou que ele era muito tranquilo e que sempre recebia a visita de um amigo. Um amigo do escritor, que preferiu não se identificar, afirmou que Carlos Fernando ingeria muitos medicamentos, pois era hipertenso.

 

Referência também em artes

Nascido em Paratinga (BA), em 17 de outubro de 1940, Carlos Fernando Figueiras de Magalhães mudou para a Capital nos anos 60 e bacharelou-se em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Uma amiga do escritor afirmou que tudo que é relacionado a cultura, Carlos Fernando estava envolvido.
Carlos Fernando era médico intensivista do Hospital das Clínicas, por onde se aposentou. Ele também era especializado em cirurgia infantil. Ele fez parte da equipe da revista Projeto Práxis, onde publicou vários de seus trabalhos. E foi um dos membros da instauração do Movimento Práxis em Goiás. O médico se destacou como crítico de teatro, literatura, cinema, artes plásticas e história da arte. Professor na Faculdade de Medicina de Goiás e Conselheiro de Cultura do Município de Goiânia, Carlos Fernando pertencia ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
Em dezembro do ano passado, Carlos Fernando recebeu o Prêmio Jaburu, a maior comenda na área cultural no Estado pelo trabalho como estudioso, pesquisador e produtor de arte. O médico trabalhava em várias vertentes: poesia, romance, conto, teatro, cinema, fotografia e música.
Ele é autor de romances, textos de teatros e poesia. Algumas de suas obras: Via Viagem (1970), Daniel (1976), O Jogo dos Reis (1986), Quarks (1993), Lampião (texto-poesia para ópera, publicado na Revista Goiana de Artes), Perau (2003) e Cometa (2007).