Laudo da UFG já previa alagamentos em viaduto

Laudo da UFG já previa alagamentos em viaduto

Malu Longo - O Popular

O alagamento sob o viaduto da Praça do Chafariz, entre os Setores Bueno e Bela Vista, no final da tarde de quarta-feira, já era previsto antes mesmo da obra ficar pronta. Laudo da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG), divulgado em agosto de 2008, mostrava que existiam falhas no projeto de drenagem da trincheira.

O parecer, assinado pelos professores Klebber Teodomiro M. Formiga e Maurício Martinez Sales, foi feito a pedido de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara Municipal, presidida pelo vereador Maurício Beraldo (PSDB).

A região, segundo os professores, foi considerada de baixa densidade, apesar do grande número de edifícios residenciais e comerciais que propiciam um elevado grau de impermeabilização do solo. Outro aspecto apontado no parecer foi a ausência de detalhamento dos locais de instalação das bocas-de-lobo ao longo das vias de tráfego, em especial na região de entrada da trincheira do viaduto.

“Dispositivos de drenagem na entrada e ao longo deste local é de primordial importância para o funcionamento do sistema, uma vez que não se pode ter nenhum acúmulo de água na parte mais baixa da via. Caso contrário, haveria interrupção do trânsito, podendo em algumas situações ocorrer alagamentos com passageiros dentro dos veículos”, afirma o laudo da UFG.

Mesmo diante do estudo, a Prefeitura inaugurou a trincheira no dia 12 de dezembro de 2008, ironicamente, sob forte chuva. À época, o extinto Departamento de Estradas de Rodagem do Município (Dermu/Compav), informou que na sequência da rede pluvial projetada haviam sido instalados 50 jogos com cem bocas-de-lobo, entre as ruas S-1 com T-65 até a T-64, e entre a T-37 com T-63, envolvendo a T-62, T-4 e T-5.

Na quarta-feira, após o alagamento, o diretor de Comunicação da Agência Municipal de Obras (Amob), que incorporou o Dermu, Fernando Contart, informou que as técnicos do órgão avaliariam as grelhas instaladas na trincheira para tentar melhorar a drenagem, mas atribuiu à intensidade da chuva o alagamento.

“Na engenharia não tem chuva além da conta. Existe chuva de projeto”, explicou o perito em edificações do Ministério Público (MP) estadual, o engenheiro Luiz Gea. Projetos em área urbana, diz, exigem um período de retorno de, no mínimo, dez anos.

Luiz Gea não descarta a possibilidade do MP voltar a vistoriar o viaduto da T-63, uma obra assinada pela Delta Construções. O perito explicou que o buraco aberto para a construção da trincheira causou dúvidas sobre o impacto ambiental pela possibilidade de atingir o lençol freático ou o risco que causaria nos prédios, o que levou o MP a realizar uma perícia no local.

“Chegamos à conclusão de que a obra não faria diferença no encaminhamento das águas, mas nesse caso o problema tem outra origem, ou o projeto não foi bem dimensionado ou houve algum tipo de entupimento”.

Presidente da Amob, o engenheiro Francisco de Almeida disse ontem ao POPULAR que pediu aos técnicos do órgão para fazer uma análise detalhada dos dispositivos de drenagem da trincheira. “Ou vamos desentupir diariamente as grelhas ou vamos aumentar o sistema de drenagem, mas isso será definido após uma reunião”, explicou.

Interdições
Desde a sua inauguração em dezembro de 2008, a trincheira foi interditada em várias ocasiões, a maior parte das vezes para recolocação das placas de alumínio que revestem a trincheira. Segundo a Prefeitura, as placas não têm suportado a força do deslocamento de ar provocado pelo trânsito no local.

Há um ano, um buraco na pista provocado pelas chuvas, também obrigou a Prefeitura a interditar uma das pistas. Na ocasião, muita água acumulada sob o viaduto teve que ser drenada, confirmando os prognósticos dos especialistas da UFG. Foi feita uma limpeza das grelhas hoje. Em função do período de seca, havia muitas folhas e outros objetos impedindo a filtração da água”, diz Contart.