Redutos rachados: candidatos têm que reconquistar eleitores no 2º turno

Correio Braziliense, 10/10/2010

Renata Mariz - Enviada Especial

Anápolis e Goiânia (GO) — O resultado das urnas goianas confirmou a divisão de forças no estado. Se, por um lado, Iris Rezende (PMDB) se destacou na região metropolitana de Goiânia, formada pela própria capital e por Aparecida de Goiânia, onde abriu 12% de vantagem à frente do adversário; de outro Marconi Perillo (PSDB) dominou o interior. O tucano ganhou em 176 dos 246 municípios, vencendo o adversário, na apuração final, por uma diferença de 300 mil votos (10% do total). A campanha rumo ao segundo turno em Goiás, portanto, começa com o eleitorado dividido. Mas não apenas geograficamente. Até nos redutos tradicionais de um e de outro, há divergências.

No conjunto habitacional Filostro Machado, obra de Iris em Anápolis batizada com o nome do próprio pai, em 1994, é possível ver adesivos de Perillo nos portões das casas e nos comércios do bairro. Morador do setor há 11 anos, onde é dono de uma padaria, Arthur Antonio do Nascimento Filho não tem dúvidas. “Voto no Marconi. Ele conseguiu linha de crédito para os pequenos empresários, fez um bom governo aqui”, diz o paraibano de 48 anos. Para o prefeito Gomide, a resistência ao nome de Iris entre a população anapolina tem relação com as administrações ruins do PMDB na cidade. O grande trunfo agora será mostrar à população as vantagens de ter prefeito, governador e presidente aliados, já contando com a vitória de Dilma Rousseff na disputa nacional.
Para Lenita Dias de Assunção Almeida, o argumento das esferas coordenadas nem é necessário. Ela faz parte de um tipo de eleitor cativo de Iris: o que recebeu das mãos do pemedebista o lote no Filostro Machado. “Eu sou Iris até morrer porque ele dá condições ao povo de melhorar, ele te dá a vara para você pescar. O Marconi, não. Esse fica fazendo política para os seus”, critica a anapolina de 41 anos, que exibe, no portão de casa, a sua preferência por meio de adesivos.

Com o objetivo de tentar convencer eleitores como Lenita, que associa o candidato do PMDB às demandas mais populares, o núcleo de marketing da campanha de Perillo pretende reforçar, na propaganda eleitoral, as propostas do tucano por meio de uma linguagem simples e direta. “Queremos falar de forma mais didática no programa de TV e também trazer inovações no formato”, adianta o deputado federal Leonardo Vilela, presidente licenciado do PSDB em Goiás. Produtor da propaganda eleitoral e homem de confiança de Iris, Hamilton Carneiro também promete novidades, especialmente voltadas a um eleitor muito resistente. “O jovem não conheceu a administração do Iris, que ocupou o cargo de governador há 16 anos. Então, vamos investir em coisas mais criativas”, conta.

Benfeitorias

No centro de Goiânia, Rafael Brito é a cara do eleitor que rejeita Iris. Recém-formado no curso superior de gestão de segurança pública, o jovem de 27 anos enumera as benfeitorias do seu preferido. “Marconi tem trazido muitas melhorias para a cidade, como as indústrias e um reforço na segurança”, diz o rapaz. Filho de funcionários públicos estaduais, Rafael traz de casa a resistência ao candidato que renunciou ao cargo de prefeito para concorrer ao Palácio das Esmeraldas. “Nunca votei em ninguém do PMDB porque cresci vendo meus pais terem atrasos de salário na época do Iris, passando dificuldades”, conta.

Embora a extensa biografia de Iris na política pudesse se associar à experiência, os 76 anos do pemedebista são motivo de desconfiança por parte de eleitores que já foram fieis a ele. O caseiro Rubens Gomes, por exemplo, questiona a disposição do candidato. “Ele já está velho, tem que descansar”, diz o homem de 53 anos. Do alto dos seus 66 anos, Antonio Rodrigues Prates, morador de Filostro Machado, também considera o candidato “de idade”. “Ele não está aguentando muita coisa. Dessa vez, eu voto no Marconi”, afirma o aposentado.

Mas há quem considere uma virtude a idade de Iris. Raulino Borges, que ganhou a casa onde mora, na Vila Mutirão, projeto habitacional feito na capital por Iris em 1983, não cai na infidelidade. “Eu trabalhei aqui na obra, fizemos mil casas em um dia. E ganhamos a nossa. Iris já foi prefeito, governador, senador, ele é um cara legal”, diz o homem de 61 anos, ao lado da esposa, Luzinete, 39 anos.

Empate exato

Localizada a 22 quilômetros de Goiânia, também chamada de Capital das Flores ou Pequena Goiânia, Goianira é o exemplo rigoroso da indecisão dos goianos. Lá, curiosamente, dos 14.244 votos válidos, exatos 5,6 mil foram para Iris Rezende (PMDB) e 5,6 mil foram para Marconi Perillo (PSDB). Resta saber quem vai convencer melhor os moradores de Goianira nesse segundo turno.

Vanderlan, o cobiçado

Tal qual na corrida ao Palácio do Planalto, em que Marina Silva (PV) empurrou a eleição para o segundo turno, Vanderlan Cardoso (PR), que teve 16,62% dos votos em Goiás, vem sendo cortejado pelos dois candidatos ainda no páreo. Apesar de Vanderlan apoiar Dilma Rousseff , Marconi Perillo (PSDB) acredita na colaboração do candidato derrotado. “Esperamos que Vanderlan fique neutro ou me apoie. A maioria dos prefeitos que eles fizeram querem ficar comigo”, diz o tucano. Iris Rezende (PMDB), por outro lado, já tem trabalhado, com a ajuda de interlocutores de Brasília, para arrematar a simpatia de Vanderlan.

A capacidade do político de transferir seus votos para um ou para outro, porém, é tema controverso.“O voto do Vanderlan é aquele que a base não controla. É o voto do insatisfeito, do protesto. Não é o voto do fiel”, analisa Itami Campos, cientista político da Universidade Federal de Goiás. Uma outra coincidência com a candidata do PV é que dos 500 mil votos que o político evangélico teve, cerca de 300 mil vieram de seguidores da religião.