O drama dos progressistas

Jornal Opção, 10 de outubro de 2010


Fora do Palácio das Esmeraldas, a partir de 2011, com menos representação na Assembleia Legislativa e dividido internamente, partido vive indefinição sobre futuro político

Sarah Mohn
 
O próximo ano terá início com o Partido Progressista (PP) fora do Palácio das Esmeraldas, com apenas um deputado eleito para a Assembleia Legislativa (Evandro Magal, ex-PSDB) e carregando a divisão interna entre a cúpula e as bases da legenda em Goiás. Desgastado politicamente, o PP começará 2011 enfrentando, também, embate por nova composição do diretório estadual. Os dois atuais deputados que a legenda mantém na Câmara Federal, Roberto Balestra e Sandes Júnior, foram reeleitos e, com o fim do mandato de Alcides Rodrigues (PP), passam a se consolidar como as novas vozes do reduto pepista. Por isso mesmo, prometem agitar os próximos capítulos dando largada à reconstrução do partido.
 
Desde que Vanderlan Cardoso (PR) foi o nome escolhido para representar palacianos na disputa pelo governo de Goiás, a debandada de pepistas se tornou inevitável. A maioria dos prefeitos e da militância do PP declarou apoio ao adversário na disputa Marconi Perillo (PSDB) e consolidou o racha interno. A cúpula da legenda, composta pelo governador Alcides, o ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga, o presidente do diretório estadual, Sérgio Caiado, e o candidato a vice-governador na chapa vanderlista, o deputado estadual Ernesto Roller, se mantiveram como opositores na batalha eleitoral. E, para o segundo turno entre o tucano e Iris Rezende (PMDB), tudo indica que o quadro de oposição ao PSDB não deve se alterar.
 
Até o fechamento da edição, na sexta-feira, 8, o PP não havia oficializado apoio a qualquer uma das partes na composição de alianças para o segundo turno. Todavia, nos bastidores, o quadro já se fazia certo: a cúpula pepista formalizaria aliança com o candidato do PMDB, enquanto as bases continuariam apoiando o governadoriável tucano. No sábado, Roberto Balestra realizaria reunião em sua fazenda, em Inhumas, na qual Abelardo Vaz, prefeito de Inhumas, presidente da Associação Goiana dos Municípios (AGM) e coordenador político da campanha de Vanderlan ao governo, confirmaria apoio a Marconi. O senador reeleito pelo DEM, Demóstenes Torres, teria sido o principal articulador da aliança.
 
Sandes Júnior, que passou a semana em reuniões com correligionários, também manifestou apoio ao candidato do PSDB. Ele rechaça a possibilidade de a legenda virar o ano enfraquecida. “O partido sempre sobreviveu sem o Palácio das Esmeraldas. É claro que com um governador do PP nosso prestígio era maior. Mas o PP é um partido grande, tem 42 prefeitos, e não ficará enfraquecido a partir do ano que vem.”
 
Nos bastidores, a especulação é que, em 2011, Sandes pode disputar o comando do diretório estadual — a gestão de Sérgio Caiado termina em abril. O problema é que Roberto Balestra, hoje o principal aliado de Sandes no grupo pró-Marconi com poder de voz, também almejaria presidir a legenda. Sandes nega a intenção e afirma que seu projeto futuro é, novamente, disputar a Prefeitura de Goiânia, em 2012.
 
Resultado positivo
 

Roberto Balestra, que desde a campanha no primeiro turno já havia formalizado apoio a Marconi Perillo, acredita que o resultado das eleições foi positivo, uma vez que garantiu a reeleição dos dois deputados federais da legenda e correspondeu à vantagem nas urnas do governadoriável tucano. “O PP é a maioria do partido, não se limita a presidente e alguns membros do diretório. O PP é autêntico, e a maioria da le-genda ficou com Marconi. Portanto, saímos vitoriosos”, considera.
 
Segundo Balestra, a sigla não perderá espaço a partir do próximo ano. “A composição do governo será traçada a partir de novembro. Acredito na vitória do Marconi e ele tem publicamente anunciado que o PP terá participação no governo.”
Nos bastidores, um pepista graúdo garantiu que há apenas duas possibilidades para a tomada de decisão do PP: formalizar apoio a Iris Rezende ou declarar neutralidade no processo de segundo turno. “Está fora de cogitação o apoio ao Marconi. A campanha dele foi toda concentrada em atacar o governo do Estado. Nós não vamos apoiar o Marconi, não há essa possibilidade.”
 
Tendência
 
Divisões internas geram dificuldades para o fortalecimento de qualquer legenda e partido que entra divido numa disputa para cargo majoritário cria dificuldades para tornar o discurso coerente para a população. A análise é da doutora em Ciência Política e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Denise Paiva, que acredita que a divisão no PP pode ser apenas momentânea. “Talvez ela própria ocasione uma recomposição. Os dois deputados federais reeleitos podem desempenhar o papel de restabelecer o partido.”
 
Para a professora, o posicionamento do governador Alcides, seja ele qual for, não interferirá na tomada de decisão para o restante da legenda. Ela acredita que Alcides não soube capitalizar a campanha governista para si. “Quem capitalizou foi apenas o próprio Vanderlan Cardoso. O governador não estava tão presente na campanha, então não dá para dizer que ele ganha ou perde politicamente apoiando Iris Rezende. Ele lançou uma candidatura para influenciar a campanha, mas não soube capitalizar isso para si. Pelo próprio posicionamento dele em todo esse tempo, não vejo que ele terá influência no partido”, considera.
 
Denise Paiva considera natural o possível posicionamento do governador, assim como Vanderlan e as cúpulas do PP e do PR, de manifestar apoio ao PMDB no seguimento da campanha. “No segundo turno, os partidos buscam alianças. Sabíamos desde o início que, pela própria tônica do debate e o modo como as críticas foram conduzidas, a perspectiva de apoio tendia mais para o lado do PMDB. Considero o apoio legítimo e não vejo que busca por alianças em segundo turno represente perda de identidade do partido”, pondera.
 
Futuro
 
“O PP não tem o que perder. O partido está tentando construir uma identidade. E os fatores dessa identidade são vários”, afirma o cientista político da UFG Pedro Célio. Ele cita, por exemplo, o afastamento entre a cúpula pepista e Marconi Perillo, a relação administrativa que palacianos mantiveram com o governo federal, o histórico de antagonismo com o PMDB e o poder de barganha que se consolida com a eleição de um deputado estadual e, principalmente, a re-eleição da bancada na Câmara Federal. “É uma bancada muito interessante e poderosa para as negociações internas. Esses são os fatores, e a partir deles, vamos ver se serão capazes de continuar esse projeto que eles chamaram de terceira via.”
 
Primeiro passo
 
Para ganhar força, segundo o professor, o grupo anti-Marconi precisa sinalizar de que maneira vai dar o primeiro passo no segundo turno e acertar na escolha. “O governador é uma figura importante, que está no centro do processo político, mesmo acabando o mandato ele vai manter o seu espaço de liderança, tanto a liderança original de suas bases eleitorais.” Agora, de que forma que o governador vai orientar esse futuro político, avalia o cientista, dependerá exatamente das definições com Sérgio Caiado, Roberto Balestra, Sandro Mabel, Sandes Júnior e outros. “Eles vão se manter juntos? Topam tocar um projeto para Goiás num certo discurso centro-conservador? Vamos ver como eles farão isso durante o segundo turno e mesmo depois.”
 
Quanto à possibilidade de desfiliação de Vanderlan do PR, Pedro Célio acredita que os partidos conservadores, chamados de “centrão conservador”, estão igualados em termos de posicionamentos políticos, funcionando como se fossem sublegendas. “Então, eu consigo enxergá-lo muito bem no PSDB, no DEM, PP, PR, até no PMDB. Não causaria estranheza a filiação dele em nenhum desses partidos”, considera.
 
“Vanderlan obteve votação em nome de um processo que não estava colado à figura pessoal dele. Mas ele se mostrou uma figura promissora, jovem, bem articulada, que pensa bem e não costuma agredir adversários. Então, individualmente, ele tem espaço para se projetar politicamente. Mas precisa definir e saber escolher em que campo vai jogar”, avalia o cientista político.
 
Segundo Pedro Célio, a repercussão da votação de Vanderlan não está ligada diretamente à figura do republicano e pode permanecer volátil no segundo turno. O professor avalia que Vanderlan obteve bom desempenho nos debates, nos pronunciamentos e na desenvoltura política. Conseguiu mostrar que tem representação eleitoral e fixar o discurso palaciano de que encabeçava a terceira via. Por isso mesmo é preciso cuidado no processo de alianças futuras. “Há uma certa parte do eleitorado que vislumbra a quebra dessa polarização antiga de PMDB e PSDB aqui. Se ele largar esse discurso e abraçar um dos lados dessa polarização, não sei se ele carrega essa votação. Acho que não.”