Madeireiras goianas não contam com produto certificado

Jornal O Hoje, 11 de outubro de 2010

Cejane Pupulin


Em Goiás não existe a venda de madeira certificada. O único estabelecimento comercial indicado pelo Ibama, que irá vender com certificação, terá o produto à pronta entrega em aproximadamente 30 dias. A empresa já recebeu a certificação, mas está montando o estoque. O Ibama não tem o cadastrado em seu banco de dados das empresas que comercializam o produto. A Região Centro-Oeste não tem esse tipo de cultivo.

A reportagem de O HOJE ligou durante esta semana em 15 madeireiras da capital e não encontrou esse tipo de madeira. A solicitação da reportagem era para construção de um chalé e área de lazer. Em três madeireiras os vendedores ofereceram material com registro e documento no Ibama, mas não souberam confirmar se o material era certificado. Em outras o vendedor já afirmava que não tinha o produto. Questionados sobre a origem da matéria-prima oferecida, os atendentes explicaram que eram da região Norte do País; um citou os Estados de Rondônia e Pará e outros foram mais específicos e citaram a cidade de Santana do Pará.

A professora do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Goiás (UFG), do campus de Goiânia, Sybelle Barreira, afirma que a madeira certificada traz valor agregado, já que é madeira de manejo florestal e foi plantada para essa função. “Não é corte predatório e a fiscalização é feita pela Forest Stewardship Council (FCS), que possui mais de dez normas para a retirada da madeira”, explica.

Selo FSC

Sybelle cita que até mesmo em resmas de papel A4 de algumas marcas nacionais há o selo da FSC, o que representa que a fábrica passou pela inspeção e solicitações do órgão internacional. “Por exemplo, há quatro anos foi determinado que não poderia usar formicidas nas florestas de madeira certificada, o que gerou custos e ofereceu valor agregado para a madeira”. Ela complementa que no Centro-Oeste não há matas certificadas pelas FSC, mas no País há um grande número de empresas preocupadas com essa questão.

O gestor comercial da madeireira que começará a vender o material certificado Juliano Quintino afirma que recebeu o documento da FSC no último dia 1º. “Já vendia a madeira certificada há um ano, mas na nota fiscal não poderia sair essa descrição, já que não tínhamos a documentação”, explica. Ele conta que foram cumpridas várias exigências e diretrizes. “Não tivemos dificuldade, já que estávamos nos preparando para a certificação. O maior trabalho foi no nível documental”, assinala.
O empresário conta que a procura em Goiás é pequena e que os principais clientes para a madeira certificada são os corporativos e de fora do Estado, como Rio de Janeiro e São Paulo. “Escolhemos trabalhar com a madeira certificada com pensamento a longo prazo, em mercado futuro, em que o consumidor vai exigir.”

 

Lago

O superintendente do Ibama Goiás, Ary Soares dos Santos, explica que toda a madeira legal é certificada pelo Ibama. Ele cita, por exemplo, o desmatamento de uma região para a construção de um lago. “A madeira retirada desse local é legal.” Ele complementa que nas regiões que trabalham com o manejo existem todo um estudo e planejamento científico e técnico para a retirada. “Uma área retirada hoje só será novamente mexida em 30 anos”, explica.

Ele conta que, para ter a certificação internacional, há custos, que geralmente são reconhecidos na exportação. “Ainda não pode ser o foco dos nossos empresários, como para os europeus, mas é uma tendência de maturidade grande para os próximos anos”, afirma.

Ary ressalta que o Ibama trabalha para combater o comércio ilegal de madeira. “Quando se emite uma autorização de corte é emitido um crédito para o madeireiro, se esse vende para uma empresa, esse crédito é repassado, com isso cria-se o documento de origem florestal (DOF)”, fala. Ele explica que toda a madeira tem o DOF.